O livro de Apocalipse começa com uma sequência de pequenas cartas destinadas a sete igrejas na Ásia Menor, (atual Turquia), que existiam na época do apóstolo João. São elas a igreja de Éfeso (Apocalipse 2:1–7), a igreja de Esmirna (Apocalipse 2:8–11), a Igreja de Pérgamo (Apocalipse 2:12–17), a Igreja de Tiatira (Apocalipse 2:18–29), a Igreja de Sárdis (Apocalipse 3:1–6), a igreja de Filadélfia (Apocalipse 3:7–13) e a igreja de
Laodiceia (Apocalipse 3:14–22).
Cada uma dessas cartas inclui uma mensagem pertinentes a cada igreja, e delas podemos tirar muitas lições para nós ainda hoje.
A terceira carta é para a igreja de Pérgamo. Pérgamo era uma cidade que ocupava um lugar muito especial na Ásia. Não estava perto das grandes rotas, como Éfeso ou Esmirna; mas era a maior de todas as cidades asiáticas do ponto de vista histórico.
A Cidade de Pérgamo
O historiador, geógrafo e filósofo grego Estrabão chamou Pérgamo de cidade ilustre. Para o historiador, naturalista e oficial romano Plínio, era a “mais famosa de todas as cidades da Ásia”. Isso porque na época em que João escreveu esta carta, Pérgamo tinha sido capital da Ásia durante quase quatrocentos anos. Por volta do ano 282 a.C. foi designada capital do Império Selêucida, uma das divisões do grande império deixado por Alexandre o Grande. Foi capital desse reino até o ano 133 A.C, o ano da morte de Átalo III que, em seu testamento, legou seu reino à Roma. Com este território, Roma formou a província da Ásia, e Pérgamo seguiu sendo a capital dessa província.
Sempre há algo de especial nas cidades capitais e Pérgamo tinha desfrutado dessa distinção durante quase 400 anos. Sua localização geográfica fazia com que Pérgamo fosse ainda mais impressionante: estava construída sobre uma elevada colina que dominava o vale do rio Caicos; da sua parte mais alta, podia ver-se o mar Mediterrâneo, a 25 quilômetros de distância.
História e honras rodeavam Pérgamo. Vejamos as suas principais características.
Cultura de Pérgamo
Pérgamo nunca pôde obter a grandeza comercial de Éfeso ou Esmirna, mas era um centro cultural que ultrapassava essas outras duas cidades. Era famosa por sua biblioteca, que continha mais de 200.000 pergaminhos. No mundo antigo, era superada somente pela biblioteca de Alexandria. É interessante notar que a palavra “pergaminho” deriva do nome da cidade, Pérgamo.
A criação do pergaminho
Durante muitos séculos o papiro foi usado como material de escritura. O papiro era uma substância que se fazia com a polpa de um arbusto aquático que cresce em grandes quantidades às margens do Nilo. Extraía-se o miolo desta planta, que era alisada e prensada de modo a formar folhas, que por sua vez eram polidas numa de suas superfícies. O resultado era um material muito parecido ao papel “madeira” ou de “Manila”, que se usava quase universalmente para escrever.
No terceiro século antes de Cristo, um rei de Pérgamo, que se chamava Eumenes, quis tornar a biblioteca de Pérgamo a mais importante do mundo. A fim de fazê-lo, convenceu Aristófanes de Bizâncio, que era bibliotecário em Alexandria, então uma cidade do Egito, para que fosse assumir a biblioteca de Pérgamo. Ptolomeu, rei do Egito, incomodou-se tanto por este “roubo” que proibiu os envios de papiro para Pérgamo. Diante desta situação, os estudiosos de Pérgamo inventaram o pergaminho, que se faz com couro alisado e encerado para que se possa escrever sobre sua superfície.
E na verdade, o pergaminho é um material muito mais adequado para a escritura, e ainda que durante muitos séculos o papiro seguiu sendo usado, com o correr do tempo seria totalmente substituído pelo pergaminho. Pérgamo, então, glorificava-se em seus conhecimentos e sua cultura.
E ao anjo da igreja que está em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois fios:
Conheço as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; e reténs o meu nome, e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita.
Apocalipse 2:12-17
Religiões de Pérgamo
Pérgamo era um dos centros religiosos mais importantes do mundo antigo. Havia nessa cidade dois santuários famosos e pelo menos três cultos a deuses, como você pode conferir em nossa matéria sobre as religiões de Pérgamo.
Culto a Esculápio
Pérgamo estava relacionada de maneira especial com o culto de Esculápio (Asclépio em grego), o deus da medicina e da cura na mitologia greco-romana. Quando Galeno, proeminente médico e filósofo romano de origem grega, cita os juramentos mais comuns de sua época, menciona a Ártemis de Éfeso, Apolo de Delfos e Esculápio de Pérgamo.
Culto a César
Pérgamo era o centro administrativo da província da Ásia. Em que pese a grandeza de Éfeso, Pérgamo retinha as funções de cidade capital. Isso significa que Pérgamo era o centro asiático do culto a César.
A carta à Igreja de Pérgamo
E ao anjo da igreja que está em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois fios:
Conheço as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; e reténs o meu nome, e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita.
Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e fornicassem.
Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio.
Arrepende-te, pois, quando não em breve virei a ti, e contra eles batalharei com a espada da minha boca.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.
Apocalipse 2:12-17
Um compromisso muito difícil
Ser cristão em Pérgamo era um compromisso muito difícil. Em Pérgamo se concentrava a religião pagã. Adorava-se a Atenas e a Zeus, com seu magnífico altar que dominava a cidade; adorava-se a Esculápio, e uma multidão de doentes vinha de todo lado até seu templo; e sobretudo, em Pérgamo era onde o culto a César se fazia mais exigente, algo que pendia sobre as cabeças dos cristãos como uma espada que a qualquer momento podia cair e executar sua ira. Por isso Cristo diz aos cristãos de Pérgamo, “Conheço o lugar em que habitas”.
A palavra “habitar” significa ter lugar de residência fixo num local. É estranho que se use esta palavra para referir-se ao lugar onde os cristãos vivem no mundo. Em geral utiliza-se o termo grego paroikein que significa estar de passagem, residir de maneira temporária. Pedro, em sua Carta, escreve aos “estrangeiros” e os que “estão de passagem” nas províncias da Ásia. É muito mais natural pensar que os cristãos são residentes temporários, em qualquer lugar onde se encontrem no mundo. Mas os cristãos de Pérgamo têm sua residência permanente, pelo menos do ponto de vista do mundo, na cidade de Pérgamo; e Pérgamo é o lugar onde está o trono de Satanás, o lugar onde o governo de Satanás é mais forte, onde Satanás exerce maior autoridade. É ali onde os cristãos de Pérgamo devem ficar, gostem ou não gostem. Estão ali e não podem ir a outro lugar.
Aqui há algo muito importante. O princípio da vida cristã não é escapar, mas sim conquistar. É fácil que pensemos, às vezes, que nos seria muito mais fácil ser cristãos em outro lugar, em outros povos, sob circunstâncias diversas; mas o dever do cristão é não evitar as dificuldades, mas dar testemunho de Cristo onde a vida o colocou.
Ouvimos em certa ocasião a história de uma moça que se tinha convertido numa campanha evangelística. Seu primeiro passo foi deixar seu trabalho no grande jornal onde trabalhava e aceitar um novo trabalho num pequeno jornal cristão, onde sempre estava rodeada por crentes. É curioso que o primeiro efeito de sua conversão tenha sido escapar. Quanto mais difícil seja ser cristão numa situação e circunstâncias específicas, maior é a obrigação de ficar nesse lugar.
Os cristãos de Pérgamo tinham que ser discípulos de Cristo no lugar onde estava o trono de Satanás, e ali era sua obrigação ficar. Se nos primeiros tempos os cristãos escapassem toda vez que encontrassem dificuldades muito grandes para viver sua fé, não seria possível ganhar todo o mundo para Cristo.
Por outro lado, os cristãos de Pérgamo demonstraram que era possível ser cristão sob as piores circunstâncias. Mesmo quando pesava sobre eles a ameaça de morte, não se amedrontaram nem se retiraram. Sabemos muito pouco sobre Antipas de Pérgamo; uma lenda, citada por Tertuliano, diz que morreu ao ser colocado dentro de um touro de bronze e ser aceso o fogo por baixo para que o assasse. Mas há algo no texto original, em grego, que é muito difícil de traduzir ao português. Cristo chama Antipas “meu martus fiel”. Para nós, a palavra martus significa “mártir”. Mas em grego martus quer dizer comumente “testemunha”. Para os primeiros cristãos, ser testemunha e ser mártir eram a mesma coisa.
O testemunho implicava, muito frequentemente, perseguição e morte. O cristão dos primeiros tempos sabia muito bem que ao aceitar a fé também estavam se tornando réu de morte. Aqui há algo para que nos envergonhemos. Há muitos que estão sempre dispostos a exibir seu cristianismo entre cristãos; mas assim que o círculo que os rodeia passa a ser formado por uma maioria não crente, escondem seu cristianismo para não serem ridicularizados, para não receberem zombaria ou desprezo.
O cristão deve lembrar que ser testemunha também significa ser mártir, e que não é estranho que ao dar testemunho de Cristo se deva enfrentar também o sofrimento e até a morte. Mas deve notar-se ainda outra coisa. Cristo chama a Antipas “meu martus fiel”. Deste modo, lhe concede o mesmo título com que Ele é distinguido. Em Apocalipse 1:5 e 3:14 Jesus Cristo recebe o título de “testemunha fiel”; Jesus Cristo dá sua próprio honra e título a todos os que lhe são fiéis. É muito fácil ser cristão quando isso não ocasiona problemas sérios; mas a maior glória corresponde ao homem e à mulher que aceitam o fato de que o testemunho e o martírio muitas vezes andam de mãos dadas.
A condenação do erro
Em que pese a fidelidade da Igreja em Pérgamo, nela havia também aqueles que viviam no erro. Havia aqueles que seguiam os ensinos de Balaão e a doutrina dos nicolaítas. Veja quem eles eram em nossa matéria sobre quem eram os nicolaítas. Basta dizer que, segundo os nicolaítas, não havia problema nem mal se os cristãos se adaptassem aos costumes do mundo.
O homem que não está preparado para ser diferente não deve sequer dar o primeiro passo no caminho com Jesus. A palavra mais comum que se usa no Novo Testamento para designar os crentes é hagios – o significado fundamental deste termo é “separado”, “diferente”, “distinto”. O Templo é hagios porque é diferente a todos os outros edifícios; o Sabath (sábado) é hagios porque é diferente de todos os outros dias; Deus é o supremo hagios porque em sua infinita santidade e pureza é totalmente diferente de todos os outros seres; e o cristão é hagios porque é diferente dos demais.
Devemos entender muito claramente o que significa esta diferença, porque contém um paradoxo. Paulo exorta os coríntios a ser diferentes: “Saí do meio deles”, diz-lhes (2 Coríntios 6:17). Esta diferença com relação ao mundo não significa que o cristão deve isolar-se e viver separado do mundo, nem significa que se deva desprezar, odiar ou ter em menos conta o mundo. É o mesmo Paulo quem diz à mesma igreja: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1 Coríntios 9:22). Paulo afirmava que ele era capaz de dar-se bem com qualquer um. Mas — e aqui está a diferença — se dava bem com todos para poder ganhar alguns. Não se tratava de baixar o cristianismo até seu nível; era questão de elevar a outros até o nível do cristianismo.
O erro dos nicolaítas era tentar rebaixar a vida cristã ao nível da vida dos pagãos, ao invés de elevar o mundo de sua época ao nível do cristianismo. Em outras palavras, sua política era o arranjo, o jeitinho, e sua motivação era evitar reações negativas e represálias que não estavam dispostos a sofrer.
Cristo diz que virá e pelejará contra eles. Note-se que não diz “pelejarei contra vós”. A ira de Cristo não se dirige contra a totalidade da Igreja em Pérgamo, mas sim contra aqueles que estavam levando a Igreja pelo mau caminho. A ira de Cristo é mortífera para os que fizeram outros caírem. Jesus Cristo diz que virá e pelejará contra os tentadores com “a espada de minha boca”.
Jesus Cristo de espada é uma ideia surpreendente. Pensando em muitos conquistadores e comparando-os com Jesus, um poeta escreveu:
Então todos aqueles desapareceram da cena
Como sombras vacilantes sobre um espelho;
E conquistando século após século ao longo da história
Veio Cristo, sem espada, montando um asno.
O que significa, então, esta referência à espada da boca de Cristo? O autor de Hebreus fala da Palavra de Deus que é mais afiada que uma espada de dois gumes (Hebreus 4:12). E Paulo fala que “a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” (Efésios 6:17). A espada de Cristo é sua palavra. Nas palavras de Cristo, o pecador encontra a convicção de seu pecado; nela qualquer homem é confrontado com a verdade e obrigado a reconhecer seu fracasso ao tentar conhecer e viver a verdade.
Na palavra de Cristo há um convite para ir a Deus; convence o pecador de seu pecado e o convida à redenção: nunca o condena irremediavelmente. Na palavra de Cristo temos a segurança da salvação; ela convence o pecador de seu pecado, leva-o até a cruz e lhe outorga a segurança de que não há outro nome sob o Sol, de todos os que foram dados ao homem, mediante o qual possa ser salvo, exceto o nome de Jesus (Atos 4:12). A conquista que faz Cristo é seu poder para ganhar os homens para o amor de Deus.
O pão do céu
Nesta carta, Cristo ressuscitado promete duas coisas ao homem que sair vitorioso – isto é, que guardar a fé e permanecer fiel a Ele. Promete-lhe participação no maná escondido. Esta é uma concepção judia que tem dois aspectos.
Maná no deserto
(1) Quando os filhos de Israel não tiveram o que comer no deserto, Deus lhes enviou o maná (Êxodo 16:11-15). Quando cessou a necessidade de receber o maná, não passou, entretanto, à memória que os judeus guardaram desse dom de Deus. Uma vaso de maná foi guardado na arca da Aliança e colocada frente ao Deus no Santíssimo do tabernáculo e no Templo (Êxodo 16:33-34; Hebreus 9:4).
O templo que Salomão tinha construído foi destruído no sexto século a.C; a lenda conta que, ao suceder aquele desastre, Jeremias escondeu o vaso do maná numa gruta do Monte Sinai. Os rabinos diziam que ao vir o Messias, o vaso seria recuperado. Portanto, para um judeu comer “do maná escondido” significava desfrutar das bênçãos da era messiânica.
Jesus era o Messias, e portanto para o cristão, comer do maná escondido significava ingressar nas felicidades do Novo Mundo que chegaria com a vinda do Reino, quando Jesus abriria os tesouros de sua riqueza aos que lhe pertenciam.
Mas é possível encontrar um significado mais amplo. Com relação ao maná, diz-se: “Este é o pão que o SENHOR vos deu para comer” (Êxodo 16:15). É denominado “trigo do céu” (Salmo 78:24) e “pão dos anjos” (Salmo 78:25). Na carta, “maná” pode significar “alimento celestial”. Se este fosse o caso, João estaria dizendo, “neste mundo vocês não podem participar dos banquetes pagãos; não podem sentar-se a comer carne que fez parte de um sacrifício dedicado a ídolos. Talvez vocês pensem que estão perdendo muito, e que lhes é exigido demasiado. Mas se neste mundo vocês se abstêm dessas festas corrompidas, virá o dia quando vocês participarão de uma festa nos céus, onde se alimentarão de pão celestial”.
Cristo estaria dizendo, então, que é preciso abster-se das seduções deste mundo se se quer participar nas bênçãos do céu.
Há ainda outra interpretação possível. Alguns sugeriram que o maná escondido é o pão de Deus que se oferece ao cristão no sacramento da Santa Ceia. João nos conta que os judeus haviam dito a Jesus que seus pais tinham recebido maná do céu e assim foram alimentados. A isso Jesus respondeu que somente Deus podia dar o verdadeiro pão do céu; e então afirmou, com grande ousadia: “Eu sou o pão da vida”. (João 6:31- 35).
Se o maná escondido e o pão da vida são o mesmo, o maná escondido não é somente o pão do sacramento mas sim Jesus Cristo mesmo em pessoa, que é o pão da vida, e aqui temos uma promessa de Jesus Cristo: que Ele mesmo se dará aos que lhe sejam fiéis.
Pedrinha branca e um novo nome
A última promessa do Jesus ressuscitado aos fiéis em Pérgamo é que lhes dará uma pedra branca com um nome novo escrito nela. Esta é uma passagem do qual há infinitas interpretações. Vamos apresentar a intepretação mais provável, mas confira as muitas interpretações na nossa matéria sobre o que significa a pedra branca do Apocalipse, porque cada uma tem algo a acrescentar à nossa compreensão desta linda imagem.
As palavras branco e novo são características de Apocalipse. R. H. Charles disse que no Apocalipse o branco é a cor do céu. A palavra que se usa não descreve uma brancura opaca, mas sim uma brancura que brilha, cintila e vibra, como a neve quando recebe de cheio os raios do Sol. Representa o que somente podemos identificar com a brancura nívea e vibrante da pureza celestial.
É deste modo que no Apocalipse nos deparamos com as vestimentas brancas (3:5), túnicas brancas (7:9), linho branco (19:8, 14) e o grande trono branco de Deus (20:11). O branco, então, é a cor do céu.
Por outro lado, em grego há duas palavras para dizer “novo”. Uma coisa pode ser neos, que significa novo no que respeita ao tempo; pode tratar-se de um novo objeto de um tipo ou características bem conhecidas a muito tempo. Por outro, existe kainos, que significa novo não somente com relação ao tempo mas também em qualidade. Uma coisa kainos não somente é de feitura recente, mas sim nada igual foi feito antes. Introduz na experiência humana algo totalmente desconhecido.
É deste modo que no Apocalipse temos uma nova Jerusalém (3:12), uma nova canção (5:9), novos céus e nova terra. Diz-se, fazendo uso desta palavra, que Deus faz novas todas as coisas (21:5). Tendo em conta estas observações, sugeriram-se duas linhas de pensamento. Sugeriu-se que a pedra branca é o crente; que o Cristo ressuscitado está prometendo aos que forem fiéis um novo eu, uma nova vida, um novo caráter, purificado de todos os pecados e manchas desta Terra, que brilhe com a mesma pureza do céu. A pedra branca, neste caso, seria o crente fiel, recriado e feito novo.
Rebatizada por Deus
Quanto ao novo nome, uma das características do Antigo Testamento é que quando um personagem adquire uma função ou nível diferente em geral lhe é dado um novo nome. É assim que Abrão torna-se Abraão quando lhe é feita a promessa de que há que ser pai de muitas nações, e quando ele adquire, por assim dizer, um novo papel no plano da salvação (Gênesis 17:5).
Depois da luta em Peniel, Jacó torna-se Israel, que significa príncipe de Deus, porque tinha prevalecido com Deus (Gênesis 32:28).
Isaías ouve uma promessa de Deus à nação de Israel: “As nações verão a tua justiça, e todos os reis, a tua glória; e serás chamada por um nome novo, que a boca do SENHOR designará” (Isaías 62:2).
Este costume de pôr um novo nome à pessoa que muda de nível ou papel era conhecido também pelos pagãos. O nome do primeiro imperador romano era Octavio; mas quando se tornou imperador foi rebatizado como Augusto. O novo nome assinalava a natureza de sua nova função: agora era único, sobre-humano, mais que um homem.
Há uma superstição muito curiosa, que se relaciona com este costume, que estava muito difundido nas zonas camponesas da Terra Santa. Quando alguém estava doente e corria perigo de morte, muitas vezes seu nome era mudado, dando-se a alguém que tivesse vivido uma vida muito longa e santa, como se o fato de ter um nome novo o convertesse numa pessoa nova, sobre a qual a doença perdesse o poder. Neste caso, então, Cristo promete um novo papel e nível aos que lhe são fiéis; concede-lhes entrar em sua glória, sentar-se em seu trono e converter-se em reis e sacerdotes seus.
Esta interpretação é muito interessante. Sugere que a pedra branca significa que Jesus Cristo dá a todos os que lhe são fiéis um novo eu e um novo caráter; e sugere que o nome novo significa um novo caráter. Sugere que o homem novo significa um novo status de honra e glória, que assumem todos os que se mantiveram leais a Cristo quando termina esta vida e começa a outra.
Referências:
O NOVO TESTAMENTO Comentado por William Barclay
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