É impossível negar o fato de que existe uma polarização no nosso mundo. Essa polarização se manifesta em todas as áreas humanas. Vemos pessoas que adotam ideias de protecionismo preconceituoso e isolacionista. Por outro lado, vemos pessoas dialogando sobre como o mundo pode ser mudado. Observamos que alguns discursos podem ser subdivididos em discursos de ódio e separatismo e discursos de unidade de preservação do ambiente e daquilo que costumam chamar de melhores práticas. A realidade é que muito daquilo que ouvimos diariamente não passa de um discurso desassociado da prática.
Hoje vivemos dias em nosso país em que política e religião estão sendo aproximadas para defender um discurso que devolva, segundo estes, os valores primordiais de uma sociedade. Quando eu ouço esse discurso, num primeiro momento, noto que ele produz um encantamento porque o cristianismo fala de paz, respeito ao próximo e de um mundo mais justo. Entretanto, eu quero alertar a você, leitor, que esse discurso não é novo, nem começou nesses dias: ele tem séculos, e existe antes de que governos passassem por eleições para serem constituídos.
Naquela época poderíamos dizer que o conflito era compreender o Reino de Deus e o reino dos homens. Onde começa um e termina o outro? Ou melhor, a ideia era como obter recursos de um para alimentar o outro? Por outro lado, era um conflito que lidava com a fé genuína das pessoas, um questionamento que durou séculos.
A dificuldade de compreender o que fosse o Reino de Deus era uma questão central nos dias de Jesus. Uma dificuldade de aceitar o que Jesus estava ensinando acerca do Reino de Deus é que ele não satisfaria aos desejos humanos porque estava acima das expectativas judaicas. Ele não era somente um reino visível. Ele não contemplaria a morte de seus inimigos e não concederia glória e poder aos homens. Mas se este seria o Reino de Deus, quem desejaria um tipo de reino como este? Quem quer conhecer a Cristo, o Messias, e ouvir seus ensinos sobre amar aos inimigos e orar pelos que os perseguem? Como compreender ensinos que dizem que se os romanos obrigassem a um judeu a andar uma milha para cumprir a vontade de uma autoridade
romana, o que então era obrigação a ser cumprida pelos povos subjugados, eles deveriam andar duas? Suas palavras soavam como ensinos sem sentido para o seu tempo e para todos os tempos, uma vez que os paradigmas de suas palavras eram da parte de Deus e não da parte dos homens. Seus contemporâneos tiveram imensa dificuldade de compreensão e aceitação destes ensinos.
Todas estas questões dominaram o coração destes primeiros seguidores de Jesus e percorreram os séculos, sem que os homens compreendessem o significado do que fosse o Reino de Deus. Apesar de Jesus ter dedicado sua vida para determinar os valores do Reino de Deus e de quais seriam os seus súditos, a fome por poder e glória dos seguidores nominais do Cristo invadiu e invadirá todos os tempos.
Na Idade Média, a Igreja Católica Apostólica e Romana movida por este desejo de poder e glória ousou crer que ela poderia abrir e fechar as portas do Reino de Deus para quem a enfrentasse. A excomunhão concedeu-lhe o poder de decidir quem seriam os demônios que habitavam o coração dos homens e através da santa inquisição matariam e mutilariam a todos os homens que lutaram contra seus interesses políticos e por riquezas deste mundo – pessoas que eles diziam ser possuídas por satanás.
O mundo da Idade Média é o da idade das trevas, é o tempo do medo. A fé e o medo casaram-se para produzir um fim que a igreja chamava de temor pela santa fé e pela santa igreja. Neste período se construíram as grandes catedrais, incluindo-se a Capela Cistina, sede do poder papal. Ouro e riquezas construíram um verdadeiro império religioso – o reino de Deus impunha-se sobre o reino dos reis deste mundo. Se alguém
desejasse ser coroado precisava da benção de Roma, uma vez que a investidura que a igreja de Roma concedia era a verdadeira investidura espiritual que concederia ao rei o poder terreno para governar.
Aproveitando-se deste conceito, os reis encontraram um caminho para lutarem contra os que se opunham ao seu governo, já que eles foram coroados por Deus para reinar. Uma vez que estes reis eram ungidos por Deus, os homens não podiam questionar o que eles denominaram de direito divino de seu governo. Desta forma, não se submeter ao seu governo significava não submeter-se ao governo divino, o que traria consequências não somente no tempo presente mas nas vidas que se seguiriam à vida nesta terra.
Uma vez que o reino divino e o reino humano eram os mesmos, ou melhor, se pautavam pelos mesmos princípios de poder e glória, foram executadas obras eclesiásticas revestidas de ouro e das obras dos melhores artistas. As catedrais que foram erguidas eram uma obra de arte esplendorosa. Eu não questionaria sua execução ou sua beleza e glória se elas não tivessem sido erguidas num tempo de tanta pobreza e miséria com o dinheiro de países e de Roma. As igrejas e seus cultos tornaram-se o centro do encontro com Deus. Este tipo de herança atravessou o tempo, uma vez que, a cultura de que existem espaços sagrados, onde devemos ter comportamentos sagrados, é mais aceitável pelos homens do que eles terem uma vida dedicada a Deus, em tudo que fazem e onde estiverem buscando que Deus reine em seus corações e atitudes.
A história da humanidade e o evangelho deveriam nos ensinar grandes lições acerca de como política e religião podem andar próximas uma vez que o cidadão que exerce sua função na sociedade compreenda o que seja o reino de Deus e encarne esta verdade através de sua relação com Deus.
Então o que podemos dizer acerca de como política e religião tem se relacionada um com o outro nos últimos tempos em nosso país. É muito comum que políticos sejam eleitos no mundo inteiro para defender interesses de um grupo. Logo vereadores, deputados estaduais e federais, prefeitos, governadores, senadores e pode ser o caso que presidentes sejam eleitos para defender um grupo de interesses. Esta maneira de ver a política é muito partidária, ou seja defende alguns interesses deixando de lado o interesse comum da sociedade. Como poderíamos falar acerca do que tem acontecido nas eleições de nosso país para os diversos cargos públicos?
1. PESSOAS SÃO ELEITAS PARA DEFENDER O INTERESSE DE DETERMINADA
RELIGIÃO
Da mesma forma que políticos são eleitos para defender interesses econômicos, políticos dos mais diversos cargos também tem sido eleitos para defender uma instituição religiosa. Eles são eleitos com objetivo de adquirir vantagens públicas para religião que defendem. Pra dar um exemplo de como isso pode acontecer, existem concessões que são definidas pelo Estado, como a concessão de rádios e televisões. Uma vez que uma religião consegue uma concessão de televisão, ela pode expandir o seu alcance e conquistar um número muito elevado de fiéis. Por essa razão e outras o período de eleições transforma igrejas em palanques políticos, para que a igreja consiga vantagens através da eleição de um candidato.
Outro fato que tem se tornado muito comum é que religiosos possuem outras empresas nas mais diversas áreas econômicas de um país. O que a lei determina é que as igrejas sejam isentas de impostos, já que em teoria são associações para pregação de sua fé e não comercialização de bens e serviços. Uma vez que muitas igrejas se tornaram verdadeiras empresas ou indústrias da fé, eleger candidatos pode significar eleger
pessoas que também defenderão interesses econômicos que inicialmente poderiam parecer uma defesa da crença de determinada religião. Mas, de fato, estão defendendo um grupo econômico com milhares de eleitores.
2. A POLÍTICA É ALGO SUJO. O CRISTÃO NÃO DEVE SE ENVOLVER COM ALGO
TÃO CHEIO DE ACORDOS E INTERESSES PESSOAIS DE ENRIQUECIMENTO.
A idéia de que o isolamento pode produzir uma espiritualidade mais profunda não é nova. Os monastérios e outros processos eremitas em busca de uma espiritualidade genuína tem sido experimentados ao longo da história da humanidade. O que pretendo expor agora não diz respeito ao silêncio e a total entrega para estar próximos de Deus. O que quero compartilhar é o significado verdadeiro da espiritualidade que caminha no
meio do mundo conforme disse Jesus: ‘não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal’ João 17.15. Quando Jesus afirmou esta verdade, ele estava expondo o significado de que o reino de Deus está em vós, conforme Lucas 17.21.
O evangelho ensina que não existe uma profissão, uma área de atuação humana que seja suja e inadequada para que um seguidor de Cristo a execute. A ética do cristianismo não concebe que o trabalho seja uma espécie de maldição. Pelo contrário, como o Salmo 128 nos ensina, a benção de Deus está sobre o nosso trabalho. Todas as áreas humanas precisam do melhor de cada mulher e homem para que transformações
sociais profundas possam acontecer.
Entretanto, centenas de igrejas e religiões tem se abstido de orientar a seus fiéis sobre a importância do voto e da democracia que são um privilégio para o ser humano. Penso que o extremo tomou conta das religiões que tem medo de falar sobre valores, votação e princípios fundamentais para uma vida de valores especiais em meio à sociedade. Tentando se afastar de religiões que engajaram seus fiéis em busca de privilégios do Estado, muitas tem se omitido sobre como o cristão deve se envolver em todas as áreas da vida humana para tornar o mundo um lugar melhor. O que o Mestre Jesus pretendia dizer quando disse: vocês são a luz do mundo?
3. CRISTÃOS DEFENDENDO VALORES DO REINO DE DEUS ATRAVÉS DA POLÍTICA
Foi movido por uma paixão de mudar os direitos civis dos Estados Unidos da América que o pastor Martin Luther King começou suas pregações ao ar livre, num movimento para mudar o preconceito sistêmico de seu pais. Numa jornada de paz, como um pregador da paz, o pastor Martin reunia os negros dos EUA para lutarem por igualdade de direitos em seu país.
Segundo ele, a lei dos Estados Unidos dizia que os direitos não eram iguais, mas a lei de Deus diz o contrário, logo precisamos mudar a lei de nosso país para que ela reflita a lei de Deus – de que todos os homens, brancos e negros, são iguais diante do Criador. Mesmo depois que ele foi assassinado suas palavras não querem se calar. Apesar de muitas realidades terem sido transformadas ainda podemos ver o resquício do racismo agindo naquele país e de forma mais ampla em todo o mundo.
Qual conceito é apresentado por este homem de Deus sobre política e o reino de Deus? A política pode estar a favor do reino de Deus. A política deve estar a favor dos valores do reino de Deus. Quando eu digo isto não confunda valores do reino de Deus com costumes religiosos cristãos! Opiniões pessoais sobre como economia, relações humanas, costumes sociais devem ser geridos. Confundir opiniões religiosos com os valores fundamentais descritos na Bíblia é um engano cometido com mais frequência do que podemos imaginar. Alguns veem a religião simplesmente como uma norma de coisas que podem ser feitas e de coisas que não podem ser feitas, estes não compreendem que o sentido de verdadeira religiosidade é uma relacionamento profundo com Deus que muda para o bem o caráter do ser humano.
Para que não pareça que elogiar condutas positivas de brasileiros seja um pecado, cito o texto de uma instituição internacional para libertação de todo tipo de escravidão humana, chamada freetheslaves.net, falando acerca de um político brasileiro e sua atuação para interromper trabalhos que são uma verdadeira escravidão:
“O homem por trás dessa lei inovadora é o ativista de direitos humanos Carlos Bezerra Jr. , então deputado estadual pelo estado de São Paulo. Ele acredita que a medida é a mais dura do tipo desde que o Brasil aboliu a escravidão em 1888. “Neste estado”, diz Bezerra, “o lucro a qualquer custo nunca valerá mais do que uma vida humana”. As notícias sobre a lei chegam até nós da Repórter Brasil , um de nossos parceiros de primeira linha. O presidente do grupo, Leonardo Sakamoto, diz que é bom para os negócios em um país cuja economia depende das exportações. “Limpar a cadeia de abastecimento é uma maneira rápida de ganhar mercado e melhorar a vida dos trabalhadores”, diz ele.
O deputado estadual Bezerra esteve em Washington, DC esta semana, visitando funcionários do governo dos Estados Unidos e organizações ativistas, incluindo a Free the Slaves. “O Brasil está dando alguns dos passos mais progressivos e de longo alcance do mundo para remover a escravidão das cadeias de abastecimento de produtos”, disse o Diretor Executivo da FTS, Maurice Middleberg. “O que eles estão fazendo é um modelo
global.”
Ativistas brasileiros esperam um efeito dominó, onde outros estados seguirão o exemplo de São Paulo.
Middleberg acredita que o Brasil também está servindo de exemplo para políticos de outros países.
“Os sucessos no Brasil destacam a necessidade de formar uma rede de parlamentares em todo o mundo, para ajudar a construir uma comunidade de parlamentares comprometidos com a ação contra a escravidão em seus países”, afirma.
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Texto por Eli Moreira.
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