A Bíblia em perspectiva: diferentes livros, autores e narrativas.

A Bíblia não é apenas uma única obra. Formada por 66 livros, ela contém inúmeros pensamentos, de diversos autores diferentes, ainda que todos eles tenham sido inspirados por Deus. Assim, falar do conteúdo da Bíblia é mergulhar em um universo de narrativas.

Um longo processo histórico

É comum pensarmos que a Bíblia é apenas um único livro, mas não é bem assim. A palavra Bíblia vem do grego, e significa literalmente “livros”. Portanto, precisamos reconhecer que estamos nos referindo a uma coleção de textos religiosos, que contam diferentes narrativas. Esses textos configuram os principais elementos sagrados para os praticantes do judaísmo e do cristianismo. No entanto, os judeus só aceitam uma parte da Bíblia.

Os livros foram produzidos em diferente épocas e levaram um longo tempo até serem agrupados. Podemos dizer, à primeira vista, que ela se divide em Antigo e Novo Testamento, dois blocos que diferenciam as religiões judaica e cristã. Os livros do Antigo Testamento foram todos escritos em hebraico, e alguns trechos em aramaico. Eles são aceitos tanto pelos judeus, quanto pelos cristãos. Já o Novo Testamento foi escrito totalmente em grego e só é aceito pelos cristãos.

Os textos hebraicos serviram como instrumentos da revelação divina para o povo de Israel, já os textos em gregos apresentam uma nova revelação de Deus, que é Jesus. Os textos mais antigos da Bíblia começaram a ser escritos no século IX a.C. e os mais novos só foram finalizados por volta do ano 100. Desse modo, para falarmos da Bíblia precisamos ter consciência que trata-se de uma obra complexa e diversificada, que levou um longo processo histórico até ser finalizada.

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O Antigo Testamento

Os textos bíblicos circularam individualmente por séculos em rolos de papiro e pergaminho.
Os textos bíblicos circularam individualmente por séculos em rolos de papiro e pergaminho.

Os textos do Antigo Testamento formam as escrituras sagradas dos antigos israelitas e podem ser chamados de Bíblia Hebraica ou Tanak no contexto judaico. Tanak representa as inicias das seguintes palavras: Torá, Neevim e Ketuvim. Esses três termos significam: Ensinamentos, Profetas e Escritos, respectivamente, e representam a organização que os judeus fazem do Antigo Testamento.

Os cristãos organizam de outro modo. Os Ensinamentos, também chamados de Torá, representam os cinco primeiros livros da Bíblia, e são chamados pelos cristãos de Pentateuco. Os Profetas também são mantidos, com algumas poucas mudanças. Já os Escritos são divididos em dois outros grupos. O primeiro grupo é formado pelos livros históricos e o segundo pelos livros poéticos, também chamados de sapienciais.

BÍBLIA HEBRAICAANTIGO TESTAMENTO CRISTÃO
Torá
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Pentateuco
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Profetas
Anteriores: Josué, Juízes, Samuel e Reis.
Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e os 12 menores.
Profetas
Maiores: Isaías, Jeremias, Lamentações Ezequiel e Daniel.
Os doze menores.
Escritos
Salmos, Jó, Provérbios, Rute, Cânticos, Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras-Neemias e Crônicas.
Históricos
Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester
Poéticos/Sapienciais
Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares.

O Pentateuco

Essa é a parte mais importante da Bíblia para os judeus atuais, assim como era para os antigos israelitas. Os cristãos costumam se referir a esses livros como Lei de Moisés, já os judeus chamam de Torá, que significa ensinamentos. O Pentateuco corresponde aos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. A tradição judaico-cristã é que Moisés teria escrito estes livros durante o processo de peregrinação dos israelitas no deserto em direção à Terra Prometida.

Sefer Torá na Sinagoga de Glockengasse, Colônia. Os rolos dessa versão são copiados à mão pelos judeus.
Sefer Torá na Sinagoga de Glockengasse, Colônia. Os rolos dessa versão são copiados à mão pelos judeus.

Gênesis e o povo de Israel

Em Gênesis somos apresentados à história da criação do mundo e do ser humano. Deus havia colocado o homem e a mulher no jardim do Éden, mas os expulsou por conta de seus pecados. Com o passar do tempo, eles se multiplicaram e povoaram a Terra. Mas o mundo ficou cheio de iniquidades e Deus resolveu mandar um dilúvio e polpar apenas Noé e sua família. A partir da família de Noé, a Terra foi povoada novamente. Mas Deus percebeu que os seres humanos não tinham aprendido e poucos obedeciam sua vontade.

Nessa época, Abraão, o hebreu, era o homem mais fiel a Deus. Por isso, se tornou um exemplo de fé para todos os seus sucessores. Deus firmou uma aliança com Abraão e prometeu que sua descendência seria fértil e numerosa. Seu filho, Isaque, teve dois filhos, dos quais o mais novo chamava-se Jacó e se tornou muito fiel a Deus, como seu pai e seu avô. Por conta disso, Deus mudou o nome de Jacó para Israel e renovou sua aliança, prometendo que seus filhos iriam herdar as terras de Canaã.

Aconteceu que a família de Jacó precisou se mudar para o Egito, por causa de uma grande seca. Lá, os filhos de Jacó se tornaram escravos com o tempo e se multiplicaram grandemente, formando as doze tribos de Israel. Portanto, a grande história de Gênesis é a origem hebraica do povo de Israel, descendente de Abraão, Isaque e Jacó.

O Êxodo e a libertação

Os descendentes de Jacó passaram mais de 400 anos no Egito, até que Deus se compadeceu de suas dores e escolheu uma pessoa para libertá-los de lá. O escolhido foi o príncipe egípcio Moisés, ele nasceu de pais hebreus, mas foi criado pela irmã do faraó como um membro da realeza. Moisés foi chamado por Deus através de uma sarça que queimava, mas não se consumia.

Esse evento é conhecido como a Vocação de Moisés. Ele foi chamado para libertar o povo de Israel, uma vez que tinha sido criado como irmão do príncipe que agora reinava no Egito. Nesse processo, Deus revelou a Moisés seu nome próprio e a missão que ele teria que desempenhar.

Moisés aceitou a missão e indagou o faraó, pedindo que libertasse os hebreus, mas este se negou. Deus, então, ameaçou os egípcios com dez pragas, fazendo com que Moisés conseguisse libertar os hebreus. No entanto, o faraó se arrependeu e passou a perseguir o povo até se depararem com o mar Vermelho. Não havia como os israelitas atravessar, nem como escapar dos exércitos egípcios.

Então, Moisés clamou a Deus para que os ajudasse e Ele agiu. As águas foram abertas e o povo hebreu atravessou o mar e celebrou a liberdade no deserto. Desse modo, Moisés se consolidou como líder dos israelitas e eles iniciaram suas jornadas em direção à Canaã.

A travessia do mar Vermelho é um dos pontos altos da narrativa do Êxodo. Fonte: aventurasnahistoria.uol.com.br
A travessia do mar Vermelho é um dos pontos altos da narrativa do Êxodo. Fonte: aventurasnahistoria.

Levítico, Números e Deuteronômio

O livro do Êxodo não termina na travessia do mar. Os hebreus foram conduzidos pelo deserto até o Monte Sinai, onde Deus entregou para Moisés as tábuas da Aliança, que são os Dez Mandamentos. A partir daí, Deus estabeleceu um testamento com o povo de Israel, no qual os israelitas se comprometiam a observar os ensinamentos de Moisés e Deus entregaria a terra de Canaã para eles. As tábuas foram colocadas dentro de uma arca, esta por sua vez foi guardada dentro de um tabernáculo móvel, que era levado junto com os deslocamentos do povo.

Eventualmente, os hebreus descumpriram a aliança, e foram punidos com uma peregrinação de 40 anos pelo deserto. Nesse meio tempo, Moisés morreu e Josué assumiu a liderança do povo. Antes de morrer, de acordo com a tradição, Moisés teria escrito uma série de ensinamentos inspirados por Deus para que os israelitas seguissem. Esses ensinamentos estão distribuídos nos livros de Levíticos e Números, e reafirmados no livro de Deuteronômio.

Os princípios fornecidos por Moisés estabeleciam as regras para o convívio social, político e econômico de Israel, bem como um código de conduta e comportamento. Em outras palavras, podemos dizer que a expressão ‘Lei de Moisés’ se refere a esse conjunto de orientações contidos nos livros do Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Eles fornecem um modelo moral para o povo e instituem o rito sagrado para a devoção e adoração a Deus.

Livros históricos (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, Esdras e Neemias)

Os livros que vêm em seguida na ordem do Antigo Testamento e também da Tanak são conhecidos como livros históricos no meio cristão. Já para os judeus são chamados de profetas anteriores. A tradição diz que Josué teria escrito seu livro, o profeta Samuel teria escrito o livro de Juízes e os dois que contém seu nome, o profeta Jeremias teria escrito os livros dos reis, e Esdras e Neemias teriam escritos os seus.

Os dois primeiros contam a história da conquista de Canaã, a atual Palestina, pelo povo de Israel. Josué liderou a conquista e com sua morte as tribos indicaram juízes para comandar os exércitos israelitas contra os povos inimigos. Entretanto, os juízes não conseguiram dar conta das guerras, e Deus escolheu uma pessoa, através do profeta Samuel, para ser o rei do povo de Israel, eventos registrados nos livros do profeta.

A pessoa escolhida foi Saul da tribo de Benjamin, mas ele se corrompeu e foi substituído pelo grande guerreiro Davi da Tribo de Judá. Ele foi consagrado rei, fixou a capital em Jerusalém e governou as doze tribos em direção ao crescimento. Após Davi, seu filho, Salomão, herdou o trono e fez um bom governo como o pai. Ele construiu um templo em Jerusalém, para substituir o tabernáculo e permitir que os israelitas adorassem a Deus em um lugar definitivo.

"David" (1504) por Michelangelo. Davi é considerado o maior herói do povo judeu.
“David” (1504) por Michelangelo. Davi é considerado o maior herói do povo judeu.

Após a morte de Salomão, o reino das doze tribos entrou em uma guerra civil pela conquista do trono. Acabou que as tribos se dividiram, somente Judá e Benjamin apoiaram Roboão, filho de Salomão. Em outros termos, o reino foi dividido em dois: Judá, ao sul, com a capital em Jerusalém; Israel, ao norte, com a capital em Samaria.

Os livros dos reis contam a sucessão de reinados após a divisão dos reinos. A história do reino de Israel, ao norte, termina com a invasão do Império Assírio e a destruição da capital, Samaria, em 722 a.C. Já a história do reino de Judá, termina em 586 a.C. quando o mesmo infortúnio acomete os judaítas, mas pelas mãos dos exércitos do Império da Babilônia. Neste último evento, o Templo e a cidade de Jerusalém foram destruídos e a elite judaíta foi deportada para a cidade da Babilônia. Evento que damos o nome de Exílio da Babilônia (586-539 a.C.).

O cativeiro na Babilônia só terminou em 539 a.C. quando o rei Ciro, da Pérsia, conquistou quase toda a região do Oriente Médio, incluindo a Mesopotâmia, onde fica cidade da Babilônia, e a Palestina, onde ficavam os reinos de Israel e Judá. Ciro autorizou a volta da elite judaíta exilada, o que é contado com detalhes pelos livros de Esdras e Neemias. Essa elite havia planejado em segredo meios para restabelecer a identidade do povo de Israel, mas quando foi autorizada a retornar somente os nascidos na própria Babilônia estavam vivos. Ou seja, já eram pessoas que nunca tinham estado antes em Jerusalém.

Os “retornados” se colocaram a reconstruir o Templo, para fazer dele o principal atributo de identidade do povo. O Segundo Templo ficou pronto por volta da metade do século V a.C. e passou a abrigar uma elite de sacerdotes que professavam que a religião verdadeira devia ser praticada exclusivamente por meio de ofertas e oferendas no próprio Templo.

Dessa forma, aos poucos o judaísmo se consolidou como um sistema de crenças, práticas e ensinamentos; embora ainda muito diversificado. Só a partir dessa época podemos nos referir aos habitantes da região e seguidores do judaísmo como judeus. Eventualmente, o Templo foi destruído novamente no ano 70 d.C., dessa vez pelos romanos, ocasionando na Diáspora judaica.

Livros poéticos e sapienciais

Estes livros são: Jó, Salmos, Provérbios, Cânticos e Eclesiastes. Recebem esse agrupamento porque foram escritos de forma poética, e são frequentemente cantados ao invés de apenas recitados. Eles foram produzidos após o Exílio, e refletem os pensamentos sapienciais do povo de Israel.

Neste caso, a sabedoria não é vista como uma acumulação de conhecimentos, mas como um bom julgamento moral e reflexão sobre as experiências da vida. Desse modo, as reflexões que aparecem são de problemas diários, que qualquer pessoa busca superar para ser feliz. Esses livros apresentam temas e propósitos mais elaborados, se encaixando em um contexto de busca pela felicidade em Deus.

O livro de Jó e o Eclesiastes refletem sobre o sofrimento humano. Já os Salmos e os Provérbios apresentam pequenas sentenças ou formulações que encontram substância na fé e no arrependimento. Eles servem como instrumentos para fornecer modelos de atitudes e ações que o povo de Deus deve tomar em relação aos desafios e dificuldades impostas pela vida.

Por fim, o Cântico dos Cânticos serve como uma alegoria. Para os judeus, ele representa a antiga aliança e o amor de Deus por Israel; para os cristãos, representa a nova aliança, e o amor de Cristo por sua Igreja.

A tradição é que grande parte dos salmos tenham sido escritos por Davi. Enquanto que os Provérbios, Cânticos e Eclesiastes foram escritos por Salomão. E o livro de Jó pelo próprio personagem principal.

Profetas

No Antigo Testamento, os profetas só aparecem após os livros sapienciais. Eles são formados por quatro primeiros profetas mais relevantes, com livros maiores e mais profundos, e outros 12 profetas menores. São eles: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Lamentações de Jeremias, Oseias, Joel, Amós, Abadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Esses livros possuem diferentes contextos e épocas históricas, não se enquadram apenas em uma única perspectiva. Em geral, podemos dizer que os profetas interpretaram a Torá e realizaram protestos contra a corte, a idolatria e os demais pecados dos israelitas. Alguns deles atuaram no reino do norte, mas a maioria atuou no reino de Judá. Grande parte de suas defesas eram voltadas aos pobres, viúvas e órfãos.

Os profetas maiores são colocados como mais importantes porque transmitem relatos dos acontecimentos que levaram à destruição de Jerusalém. Jeremias e Ezequiel testemunharam esses eventos e fizeram profecias sobre a restauração do reino. Daniel foi transportado para a Babilônia no Exílio e acabou se tornando conselheiro do rei. Já o livro de Isaías é dividido em três partes: a primeira (capítulos 1-39) é pré-exílica, a segunda (40 – 55) é exílica e a terceira (56 – 66) é pós-exílica. Alguns profetas como Malaquias e Zacarias, atuaram após o Exílio.

Além disso, os profetas são os grandes responsáveis por popularizar e profetizar a vinda do Messias, o novo rei de Israel. Esse termo quer dizer “o Ungido” e se refere ao verdadeiro rei eleito para salvar o povo de Deus. Foi dito que ele seria descendente de Davi, que nasceria de uma virgem, que seria traído e pendurado num madeiro. O Novo Testamento revela que esse rei veio na pessoa de Jesus de Nazaré, chamado o Cristo.

O Novo Testamento

O principais conteúdos do Novo Testamento são a essência de Jesus e suas pregações.
Os principais conteúdos do Novo Testamento são a essência de Jesus e suas pregações.

O conjunto dos textos gregos do Novo Testamento só é aceito pelos cristãos. Os judeus não reconhecem Jesus como sendo o Messias do povo de Israel, e o veem como um mestre da moral, rabino ou até mesmo como uma pessoa irrelevante. Quando Jesus iniciou seu ministério, muitos judeus se converteram ao Evangelho e se tornaram os primeiros cristãos.

Jesus nasceu aproximadamente entre os anos 6 e 4 a.C., a contagem que os intelectuais medievais fizeram está errada, por isso a discrepância. É importante reconhecer que ele estava integrado dentro do universo judaico, portanto era judeu. Sua crucificação e ressurreição devem ter ocorrido entre os anos 29 e 31. No entanto, os textos sobre sua vida só foram produzidos anos mais tarde. As cartas do apóstolo Paulo datam dos anos 47 a 65. Já os evangelhos são mais antigos. Marcos teria sido escrito entre 60 e 70, Mateus e Lucas entre 70 e 85, e João entre 90 e 100.

Livros
EvangelhosMarcos, Mateus, Lucas e João
EpístolasPaulo: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timótio, Tito e Filemon.
Universais: Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas
HistóricoAtos dos Apóstolos
RevelaçãoApocalipse

O Atos dos Apóstolos foi escrito pelo mesmo escritor de Lucas, como se fosse uma sequência para seu evangelho. Ele conta a trajetória dos primeiros cristãos depois da ascensão ao céu de Jesus, e também como o cristianismo se tornou independente do judaísmo. Dessa forma, apresenta os primeiros passos da Igreja e a disseminação do Evangelho de Jesus pelo mundo.

Por outro lado, o livro do Apocalipse e as epístolas joaninas parecem ter sido escritas pelo mesmo autor do Evangelho segundo João. Enquanto que a Epístola aos Hebreus não possui um autor identificado, assim como as demais epístolas universais. A Epístola de Tiago, as de Pedro e Judas foram atribuídas a eles por uma ligação com seus pensamentos apostólicos. Ou seja, porque segundo a tradição revelam a maneira como eles pensavam.

Os evangelhos

"Os quatro evangelistas" (1630) por Jacob Jordaens.
“Os quatro evangelistas” (1630) por Jacob Jordaens.

Nos três primeiros séculos da Era cristã, o cristianismo esteve sendo amplamente difundido pelos seguidores de Jesus de Nazaré. Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, antes de mais nada, são um gênero literário único, não se tratam de biografias porque há uma articulação religiosa por trás de suas inscrições. Podemos definir quais são os principais objetivos dessa articulação: narrar a vida de Jesus, identificá-lo como Messias e apresentar o Evangelho. 

O Evangelho, por sua vez, é o conteúdo das mensagens de Jesus, em grego quer dizer “Boas Novas”, boas notícias. O principal tema das mensagens de Cristo é o Reino de Deus. Este Reino é um projeto que opera dentro e no meio das pessoas. Ele representa um estado de paz, justiça e partilha, em oposição aos reinos dos humanos.

O Reino de Deus é a completa manifestação da presença e vontade divina, através dele somos transformados e revigorados. Somos purificados do pecado e livrados da morte, apenas por acreditar em Jesus. Ele ainda explicou que em sua segunda vinda, o Reino de Deus será implantado definitivamente, como uma realidade física e espiritual.

Podemos afirmar que os quatro evangelhos são a parte mais importante da Bíblia para os cristãos. Eles revelam a pessoa de Jesus Cristo, como o Filho de Deus, que deu sua vida para nos salvar e redimir. Os evangelhos apresentam diversos conteúdos, como milagres, expulsão de demônios, parábolas, discursos, para evidenciar não apenas que Jesus é o escolhido, mas também o próprio Deus em forma humana. (João 1:1, João 10:30, João 14:9, Mateus 1:23, Marcos 13:26, João 8:58, João 20:28, João 5:18).

Os cristãos acreditam que Cristo revela a imagem, a perfeição e as vontades de Deus. É uma questão de reverência e adoração ler as palavras de Jesus nos evangelhos, pois, além de revelar o modo como o próprio Deus pensa, revelam como é grande seu amor pela humanidade.

Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai, senão por Mim.

João 14:6

Epístolas paulinas

"São Paulo escrevendo suas cartas" por Valentin de Boulogne. Paulo é chamado de apóstolo dos gentios, porque pregava principalmente para os não-judeus.
São Paulo escrevendo suas cartas” por Valentin de Boulogne. Paulo é chamado de apóstolo dos gentios, porque pregava principalmente para os não-judeus.

As epístolas, da mesma forma que os evangelhos, são um gênero literário único, desenvolvidas para propagar e defender um estilo de pensamento próprio. Elas são estruturadas em formato de cartas, nas quais são abordados temas referentes ao cristianismo primitivo, como a salvação pela Graça, a diferenciação da Fé Cristã apartada do judaísmo, o testemunho sobre Jesus e as práticas eclesiásticas e litúrgicas.  

No Novo Testamento existem 21 epístolas, das quais 13 são atribuídas a Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios. Ele se distingue dos demais apóstolos de Jesus por duas características principais: ele foi um judeu helenizado (integrante da cultura greco-romana) e um grande articulador do pensamento cristão, justamente por ter sido um cidadão culto romano.

Os título desses escritos se referem aos destinatários, que são as comunidades cristãs fundadas por Paulo no decorrer de suas jornadas missionárias, e que ficam ao redor do mar Mediterrâneo, predominantemente nas atuais Turquia e Grécia. Com isso, podemos já perceber que o apóstolo foi um dos principais responsáveis pela introdução e difusão das mensagens de Jesus no Império Romano, para além da região da Palestina.

Epístola aos Romanos é considerada a maior carta de Paulo, contendo uma grande defesa da justificação pela Fé e do Plano de Salvação, que basicamente reconhecem a crucificação de Jesus e sua ressurreição como sendo os eventos mais importantes da história. Estes foram os momentos em que Deus, em sua infinita misericórdia, teria perdoado os pecados da humanidade e oferecido a possibilidade de salvação por meio da Fé e não por conquistas próprias, ou seja, não por meio das obras.

De acordo com Paulo, o Evangelho é uma nova forma de vida, um entendimento de mundo com base no sacrifício do cordeiro que é Cristo. A Lei, nesse sentido, apenas servia para apontar o erro, e não era capaz de oferecer liberdade, ao contrário do Evangelho que verdadeiramente liberta os humanos da morte e do pecado. Por conta disso, não é necessário cumprir as centenas de observações da Lei de Moisés, como a circuncisão, mas sim apenas viver segundo o Evangelho. Ou seja, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo incondicionalmente.

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