A Bíblia possui inúmeras genealogias. Ao nos depararmos com elas, julgamos que não servem para muita coisa hoje em dia. Elas apresentam sucessões de nomes que nos são estranhas, por isso costumamos pular essas partes. No entanto, as genealogias possuem informações muito importantes para nós, já que revelam características significativas sobre as mensagens de Deus para a humanidade.
O que é genealogia
Genealogia é o estudo das famílias, da origem das famílias e o rastreamento de suas linhagens. Uma genealogia identifica ordenadamente as gerações ancestrais e descendentes de um indivíduo ou de um grupo familiar, buscando determinar sua origem, rede de parentescos e sua evolução cronológica.
Por que a Bíblia contém genealogias?
As genealogias são uma forma de demonstrar como o evangelho se inseriu na história humana desde as suas próprias origens. Como escreveu Justo L. González em seu livro A História Ilustrada do Cristianismo, “De fato, isto é o Evangelho: as boas novas de que, em Jesus Cristo, Deus se introduziu em nossa história, em prol de nossa redenção.“
Pelas genealogias, os autores dos evangelhos demonstram isso de forma inquestionável. Ao passo que o evangelho de Lucas contextualiza o nascimento de Jesus, situando-o nos dias de Herodes (Lc 1.5) e de César Augusto, ‘quando Quirino era governador da Síria’ (Lc 2.2), o evangelho de Mateus apresenta uma genealogia que enquadra Jesus dentro da história e das esperanças do povo de Israel. E João, em seu evangelho, assegura que essas narrações sejam lidas não como passagens de interesse transitório, mas como prova de que Jesus, o Verbo que se fez carne no decurso da história humana (Jo 1.14), é o mesmo que “estava no principio com Deus” (Jo 1.2).
O papel da história na compreensão da fé está presente na narração da vida de Jesus bem como de toda a mensagem bíblica. No Antigo Testamento, boa parte do texto sagrado é de caráter histórico. Para conhecer a revelação de que Jesus é o senhor e salvador dos homens, é preciso conhecer a história em que Deus se revelou ao seu povo, narrada na Bíblia. E pelas genealogias podemos acompanhar de forma mais clara o plano de Deus para a humanidade ao longo da história.
A importância dos nomes na Bíblia
Os nomes são utilizados para marcar a própria identidade e essência do indivíduo. Eles fazem parte do chamado espiritual. Sempre aparecem como constitutivos importantes das pessoas. Por isso, é comum que elas tenham seus nome trocados, seja por ordens de Deus ou mesmo por outros líderes importantes, para que o caráter delas se transforme, e passe a representar outra pessoa, uma nova pessoa.
Nesse sentido, os nomes denotam representação e indicação da imagem que se pode criar sobre tal personagem. Isso porque a a Bíblia é cuidadosa, ela demonstra uma grande habilidade na hora de expressar os atributos das pessoas. Exemplo: o nome de Moisés, indica que ele foi retirado das águas, é certamente um indicativo de que seus pais são hebreus, e que a sua mãe adotiva o retirou da água do rio Nilo, no episódio dos massacres dos bebês pelo faraó.
Outro caso notável é o do próprio Jesus. O nome dele em hebraico e aramaico é Yeshua, que significa “Iavé é a salvação”. Por sua vez, Iavé é o nome próprio de Deus, revelado no Antigo Testamento. Isso nos induz a reconhecer que no próprio nome de Jesus já está incluso o Deus dos israelitas, evidenciando que Ele enviou o Cristo para salvar o povo de seus pecados.
Portanto, os nomes se qualificam como peças importantes na Bíblia, muitas vezes demonstrando as qualidades das pessoas e tornando a imersão na narrativa ainda mais completa. Os nomes por si mesmos já contêm significado, e ao conectarmos com as demais questões bíblicas. podemos ter uma visualização melhor do que estamos lendo.
A importância das genealogias
Se os nomes são importantes, o que podemos dizer das genealogias? As genealogias são descrições das ligações biológicas entre diferentes indivíduos e gerações. Na Bíblia, a sequência de nomes em uma genealogia indica a origem e ligação de determinados personagens.
A genealogia indica a raiz de determinada família, ou mesmo de um único indivíduo. No texto bíblico, a genealogia está ali para nos mostrar que aquele personagem não surgiu do nada, nem para o nada. Ele descendeu de ancestrais importantes, o que evidencia o próprio plano de Deus. Ao mesmo tempo, somos levados a conhecer a esses personagens, muitas vezes, apenas ao ler seus nomes.
Justamente por isso, os nomes das genealogias nos apresentam uma espécie de resumo da história, sem muitos detalhes das narrativas densas e complexas. Quando temos contato com os nomes, podemos remontar ao tempo histórico dos acontecimentos e ligá-los às narrativas que conhecemos. Saber a sequência nos ajuda a compreender a posição destes personagens no próprio curso da História – uma forma de acompanhar os propósitos divinos para a Humanidade.
Além disso, as genealogias também nos ensinam importantes lições existenciais e espirituais. De que forma? Se observarmos, podemos perceber que a Bíblia através das genealogias reitera que nossas vidas são finitas, e que enfrentamos a morte em diferentes idades. O que também nos leva a refletir não apenas sobre a inevitabilidade da morte, bem como sua aparição repentina. Não sabemos quando nossa vida terminará, mas isto de fato acontecerá. À vista disso, temos que saber o que fazer com o tempo que nos é dado.
Genealogias no Antigo Testamento
É no Antigo Testamento que estão a maior parte das genealogias bíblicas. Grande parte delas estão nos livros de Gênesis e das Crônicas. Esses livros possuem o objetivo de resumir muita coisa, justamente por isso a quantidade grande de genealogias. Através dos nomes, temos contato com as explicações mais sumárias sobre o curso dos eventos, principalmente da origem em Adão até o rei Davi.
As genealogias indicam também a formação dos povos do Oriente Médio, e como eles estão relacionados com os israelitas. Todos provém de uma única família adâmica, mas devido as motivações de seus demais ancestrais, tiveram origens e histórias diferentes. Elas mostram que os povos israelitas descendem diretamente de Abraão, Isaque e Jacó, os três patriarcas do povo de Israel. Por isso, legitimam o fato dos israelitas terem direito a terra de Canaã e de sua eleição por Deus, dado que Ele havia prometido aos patriarcas que permaneceria fiel às descendências deles.
As principais genealogias de Gênesis são:
- Os descendentes de Caim (Gênesis 4:17-22);
- Adão até Noé (Gênesis 5);
- De Sem até Abraão (Gênesis 11:10-26);
- Os descendentes de Abraão e de Quetura (Gênesis 25:1-4);
- Descendentes de Ismael (Gênesis 25:12-18);
- Descendentes de Israel/Jacó (Gênesis 46)
Já as genealogias de Crônicas começam no capítulo 1 do primeiro livro. São as mais importantes:
- De Adão até o dilúvio (1 Crônicas 1:1-4);
- Do dilúvio até Abraão (1 Crônicas 1:5-23);
- Abraão e sua descendência (1 Crônicas 1:24-54);
- Famílias dos filhos de Israel (1 Crônicas 2:1-8);
- Origem de Davi (1 Crônicas 2:9-17);
- Casa de Davi (1 Crônicas 3:1-9);
- Dinastia davídica (1 Crônicas 3:10-24);
- Descendentes de Judá (1 Crônicas 4:1-23).
Genealogias no Novo Testamento
Enquanto possuímos diversas genealogias no Antigo Testamento, no Novo possuímos apenas duas. Justamente, essas duas tratam da ascendência de Jesus, uma vez que ele é o personagem central do Novo Testamento. A primeira genealogia é contada por Mateus, logo na abertura de seu evangelho, 1:1-17. Já a segunda, é feita por Lucas em 3:23-28.
Mateus apresenta Jesus como Rei: seu livro começa com as seguintes palavras: “Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” e logo em seguida conta a genealogia de Jesus a partir de Abraão. Foi dito pelos profetas israelitas que o Messias, enviado de Deus, nasceria da casa davídica, ou seja, da linhagem do rei Davi. Isso tem muito significado, porque o próprio rei Davi era considerado um grande líder e herói do povo de Deus. Ao explicar que Jesus é descendente direto de Abraão e igualmente de Davi, Mateus mostra aos judeus e a todos que Jesus é o Messias das profecias do Antigo Testamento.
Lucas apresenta Jesus como Homem: seu livro faz a genealogia pela ordem contrário, indo de Jesus até Adão, e mostrando uma sequência de gerações que ligam Cristo aos principais personagens do Antigo Testamento. Vemos, dessa forma, que Jesus é descendente daqueles com quem Deus fez alianças antes dele, como Abraão, Isaque e Jacó. Isso nos mostra claramente que Jesus é o cumprimento da história de Israel, o ápice de todas as alianças anteriores.
A genealogia de Jesus foi feita para que os judeus fossem convencidos de que se tratava do Messias prometido por Deus. Ou seja, vemos um grande propósito nessa constatação e leitura da ascendência dele. É por meio da genealogia que ficamos sabendo do contexto que se insere as pregações de Jesus. Ora, o ministério de Cristo não surgiu do nada, nem foi feito para o nada. Ele se estabeleceu em uma conjuntura coerente, que demonstrou o fechamento e a resposta definitiva da questões humanas por parte de Deus.
Com isso, podemos perceber que as pregações de Jesus seguem uma lógica desde o início coordenada por Deus. Em outras palavras, as genealogias mostram o contexto histórico de Jesus e principalmente o estabelecem como uma conclusão de uma narrativa de descendência e alianças linear.
Nesse sentido, ao lermos as genealogias, podemos entender porque Jesus é chamado de Raiz de Davi e Leão de Judá. O primeiro faz referência a sua linhagem davídica, já o segundo é por conta do leão ser o símbolo da Tribo israelita de Judá, filho de Jacó. O leão representa força, bravura, coragem e liderança; sendo Jesus descendente de Judá, nada mais digno e justo do que chamá-lo de Leão da Tribo de Judá.
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