O Reino da Graça de Deus

O dia começou quente, o céu estava muito azul e um vento suave afagava meu rosto. Eu podia ouvir o canto dos pássaros e observar como algumas árvores possuem um verde muito intenso por causa da força do sol refletido que alcança temperaturas muito altas nesta fase do ano. Neste momento, eu não consigo evitar a dualidade de duas ideias que me ocorrem o calor intenso que lembra alguns dos sofrimentos deste ano de 2020 e a brisa que foram milhares de mudanças que ninguém era capaz de imaginar mas que também concederam à vida suavidade e ternura para enfrentar todas as novas dificuldades que se apresentaram.

Fiquei me perguntando sobre como enxergar a vida de maneira verdadeira, sem ser influenciado pelo pessimismo. Qual será o angulo através do qual podemos registrar os fatos que acontecem conosco e que chegam ao nosso conhecimento. Como não fazer registros sobre a realidade dos fatos históricos ou aqueles que estão acontecendo no momento sem ser dominados por uma ideologia carregada de ideologias comprometidas com a mentira ou pseudo-verdades?

Uma das realidades inegáveis da existência humana é a culpa. Vivemos sobrecarregados pela culpa. A culpa é o sentimento de que precisamos pagar pelos males que causamos. A culpa muitas vezes é cercada de um sentimento da necessidade de reparação. Quando a culpa se torna muito intensa, abandonamos a vida que desejaríamos viver para viver para pagar pelos erros que cometemos.

Ainda discorrendo sobre aquela visão que influencia nossa maneira de ver o mundo ainda posso acrescentar que a culpa pode assumir diversas formas de se manifestar, entretanto, ela sempre se manifesta de maneiras mais brandas ou mais intensas. A culpa nasce quando ainda somos bem pequenos e nossos pais nos avisam sobre como os decepcionamos por determinadas atitudes. A simples menção da expectativa que as pessoas que nos criaram e que amamos foi frustrada faz com que as palavras que foram ditas neste momento tomem a forma da eternidade e não mais se apaguem. Como pudemos decepcionar quem mais nos amou na vida?

A culpa pode retirar toda a nossa visão de mundo. Podemos viver para agradar pessoas. Podemos viver para purgar pecados. Podemos viver a vida de outros uma vez que, eles partiram de forma repentina e em nossa maneira de enxergar eles deixaram muitas tarefas por fazer que agora devemos assumir, como se pudéssemos viver duas vidas no lugar da nossa vida?

Em última instância, a culpa é gerada por uma ruptura contra nossa consciência. Se por um lado, dentro de nós temos certeza que determinadas atitudes irão contra tudo que acreditamos, por outro lado, diariamente somos convidados a fazer excessos para o nosso bem ou o bem de um grupo que se beneficiará se rompermos com o que cremos ser certo e errado.

A culpa também ocupa o lugar da religião. É muito triste que eu esteja escrevendo sobre a graça de Deus que é sem dúvida uma das forças mais poderosas deste universo e eu tenha que dizer que a religião humana tem em toda a sua história mantido um lugar especial para o cultivo da culpa. A culpa está presente em nossa vida consciente e inconsciente. Não é preciso muito para que nos sintamos culpados. Todos os dias temos que enfrentar a culpa que nos assola. Compromissos que esquecemos. O tempo que deveríamos ter investido em nossa família. As viagens que não fizemos com as pessoas que amamos. Os erros que cometemos contra as pessoas que nos eram queridas. São tantas as razões que geram culpa em nosso coração que milhares de páginas seriam muito pouco para descrevê-las. A religião em contrapartida deveria gerar o que existe de melhor em nós, entretanto, muitas religiões de domínio usam da culpa como meio de progresso para as instituições religiosas. Você deveria ter se dedicado mais! Eles deveriam ter sido assistidos, nós falhamos! Isto era sua responsabilidade, você tinha o compromisso de não deixar que a situação dos irmãos e da área da igreja que era responsável chegasse a este ponto.

Não é preciso muito para que nos sintamos culpados. Não é preciso um discurso interminável para que nos convençamos que somos responsáveis por muitas falhas que cometemos. Gente que tem sua consciência desenvolvida e sensível para as necessidades dos outros e para reconhecer os seus próprios erros pode vir a sofrer mais num mundo onde muitas pessoas estão dispostas a manipular aos outros para obter seus
objetivos financeiros a qualquer custo. Neste sentido, religiões humanas podem usar fieis para para alcançar os objetivos de seus lideres religiosos. Muitos destes objetivos nem sempre são inspiradores e nem sempre buscam agradar a Deus, podem ser objetivos que busquem agradar a uma hierarquia religiosa. O descobrimento por parte dos fiéis de que os objetivos de sua comunidade religiosa não são aqueles que eles imaginavam gera outro tipo de culpa: por que eu não fui capaz de enxergar o que estava acontecendo antes? Como eu pude ser tão manipulado pelas pessoas que eu julgava serem meus mentores espirituais?

Por outro lado ergue-se a graça de Deus como uma alta montanha que pode ser avistada por todo o caminho por onde quer que nós formos. Entretanto a questão para a qual devemos atentar é esta: qual a visão que eu e você temos acerca do mundo? Deus o criou e o abandonou a própria sorte?O mundo imerso em desgraças e infortúnios ainda tem a presença graciosa de Deus intervindo para mitigar o sofrimento humano? Existe esperança além da esperança humana? Existe uma vida acima da vida como a conhecemos? Você é capaz de enxergar a graça de Deus em tudo: nas coisas que foram criadas, no homem, na generosidade que se apresentará a você no dia de hoje?

Este será o tema que tomará conta de nossos corações e de nossas mentes durante este tempo em que pensaremos acerca do significado da graça de Deus que Davi afirmou ser melhor do que a vida, ou seja, qualquer tipo de vida que escolhermos para nós.

“Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça”

Romanos 5:20

EXISTE LIMITE PARA A GRAÇA DE DEUS?

Enquanto escrevo estas breves palavras o ano de 2020 se encaminha para seu fim. Muitos estão esperando ansiosamente para que isto aconteça. É uma espera cheia de pensamentos incompreensíveis, ela está baseada no pressuposto que assim que o último dia deste ano der o seu suspiro, o ano de 2021 trará a vida como a conhecemos de volta. Esta esperança está baseada na idéia de que podemos retomar a vida de onde a deixamos, como se voltar no tempo pudesse nos fazer felizes. O que podemos observar é que existe um desejo duplo na esperança de que surja um novo ano: que ele traga novidades para nós, que ele traga o passado de volta. Evidentemente este desejo duplo é incongruente e impossível de ser cumprido, não podemos ter o futuro e o passado se unindo como se fossem uma única realidade – a principal fato pelo qual devemos abandonar estes planos de uma vida pautada nestas idéias é que nós mudamos. É impossível viver novas realidades e não aprender com elas. Durante este ano nós fomos visitados por uma nova visão do que poderá ser o mundo num futuro próximo. Neste ano fomos desafiados a aprender com o que há de mais duro para o ser humano – a incerteza. Não afirmo que foi fácil viver debaixo de um cenário de pandemia. Nossa expectativa é que os próximos meses tragam a possibilidade de uma cura para uma pandemia mundial. Eu creio que a pergunta central sobre todas estas expectativas seja: o que eu aprendi neste ano diante desta nova realidade?

Conforme vamos vivendo em nosso mundo, entramos em contato com os mais variados sofrimentos. Os infortúnios com os quais somos confrontados todos os dias, muitas vezes são provocados pelo próprio homem em seu desejo insaciável de obter novas conquistas mesmo que o custo para estes triunfos seja que as outras pessoas sofram por causa de nossas escolhas. A pandemia trouxe duras lições: o individualismo das nações, a vaidade humana e a capacidade das pessoas colocaram seus interesses acima de qualquer coisa inclusive da saúde de outros seres humanas. Por outro lado, eu afirmo que esta é somente uma maneira de ver o ano de 2020 – o infortúnio da humanidade e as desgraças que podem ocorrer sobre o curso de nossa história.

A outra maneira como podemos enxergar o mundo vem dos atos heroicos de uma classe de milhões de pessoas que é a classe médica. Enfermeiras, médicos, faxineiros, atendentes, cozinheiros, administradores e cada pessoa que dedica sua vida para que os hospitais continuem funcionando. Gente que investe tempo diariamente para que vidas possam ser salvas. Milhões de pessoas desesperadas foram aos hospitais e centros
de saúde em busca de socorro. Apesar do coronavírus ser conhecido, o Covid 19 era desconhecido. Não havia uma vacina, não havia conhecimento de toda a classe médica de qual deveria ser a conduta a ser adotada para tratar pacientes graves. Não se sabia quais seriam os efeitos colaterais de um vírus que se mostrava tão letal para algumas pessoas, ao passo que, outras não produziam sintomas. Ir para os hospitais cuidar de gente doente era uma desafio à coragem humana. Neste ano morreram mais pessoas pela pandemia do que morrem pessoas em muitas guerras. Morreram milhares de pessoas da classe médica, ainda que cercados por muitos cuidados, eles não puderam evitar o contágio e a evolução de seu quadro clínico que os conduziu a morte.

Esta capacidade de se condoer pelo próximo, estes gestos de solidariedade, esta vocação de socorrer ao aflito e de ter compaixão para aqueles que estão à morte é uma manifestação da graça de Deus. A graça de Deus está presente na vida de todos os homens. De maneira diferente do que os religiosos podem pensar, Deus está atuante sobre o mundo todo. Deus está agindo sobre a vida de todas as suas criaturas para manifestar a sua bondade e a sua misericórdia que dura para sempre. Quando a Bíblia afirma que: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.” Tiago 1:17 Deus está afirmando que tudo que existe de bom veio dEle. Ele é a origem de toda a generosidade da vida. Ele é a razão de nossa existência. Ele é a fonte de todo o bem. Longe dEle e afastado de sua luz só existe a escuridão. Por isto, todos os atos que o homem é capaz de realizar e que são genuinamente bons vem de Deus! Sua graça atua no homem uma vez que Ele é a imagem e semelhança de Deus. Ainda que o homem tenha se afastado de Deus e conscientemente negado sua existência, e tenha escolhido viver longe de Sua presença. A imagem e semelhança de Deus continuam impressos na vida humana. Toda atitude que nos eleva, toda bondade, todo gesto de generosidade vem de Deus e está impresso em nossas almas e consciências.

É o que a teologia chama de graça comum, ou seja, a graça de Deus que todas as suas criaturas podem experimentar diariamente. A graça de Deus comum a todos os seres criados expressa a bondade divina. Deus, de maneira distinta de suas criaturas, não se vinga dos incrédulos. Ele não castiga os desobedientes. Ele não pude num primeiro momento àqueles que se opõem a verdade que está impressa nas estrelas que revelam o Criador. Deus continua sendo bom sobre bons e maus como podemos ler em Mateus 5.43-45: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos.”

A graça de Deus é um favor imerecido. É a realidade de um rei que possui todas as coisas e concede favor aos seus súditos. Eles não tem como retribuir. Eles não tem como recompensar ao rei pela sua generosidade. Tudo lhes foi concedido, a vida, as terras, o alimento e a liberdade que possuem. Claro que esta é uma comparação com uma realidade humana onde os reis são corruptos e corruptores. Deus é o Rei de toda a terra, contudo, suas perfeições infinitas são manifestas ao homem através das coisas criadas. A graça de Deus é manifesta através da vida que é concedida a todas as suas criaturas. Quando Jesus afirma que Ele é a vida em João 14.6, Ele está fazendo uma afirmação que nenhum ser humano pode fazer. Nós não somos a vida. Não podemos afirmar que algo estará vivo pelo poder de nossa vontade. Não podemos dividir a vida com quem quisermos e não podemos fazer nada além de procurar com todas as nossas forças conservar a vida. A vida que é o próprio Deus está espalhada pelo universo. A sua assinatura pode ser vista em cada uma de suas criaturas. A sua bondade se apresenta a cada um de nós a cada amanhecer. A graça de Deus se manifesta na vida humana através de sua capacidade de conhecer, sua capacidade de transcender e encontrar a Deus. Se Deus não houvesse concedido alma ao ser humano e não houvesse concedido a capacidade intelectual ao ser humano, Ele seria incapaz de discernir entre as escolhas que deve fazer, entre as opções que o conduzirão em direção ao bem ou para o seu próprio mal. As escolhas que diariamente o homem faz podem mudar não somente sua vida, mas vida do meio ambiente que o cerca.

Deus dotou o homem de alma e de consciência. O ser humano foi dotado de uma moral que faz com que compreenda que matar ao seu semelhante é algo perverso e que não pode ser considerado uma conduta aceitável. A consciência humana é o lugar onde Deus deixa claro a sua existência e os valores que deveriam nortear a conduta humana. Em nossa infância, nossa consciência está muito mais sensível do que em qualquer tempo de nossa vida. Nesta fase o que sentimos, o que esperamos, o que desejamos acerca da vida revelam uma explosão de vida como alguns nunca a encontrarão mais em qualquer outra fase de suas vidas.

Em outras palavras, a graça de Deus é visível em todos os lugares, por todas as criaturas de Deus, em todos os atos humanos que glorificam ao Seu criador por terem em última instância partido do próprio Deus em conceder vida cheia de graça. Eu e você somos constantemente alvos desta graça que transforma todas as criaturas e nos convida a conhecer a Deus e experimentar sua graça especial que nos conclama a ser seus filhos.

Texto por Eli Moreira

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