Todos já sonhamos em algum momento com o que faríamos na vida: alguns seriam astronautas, outros médicos, veterinários, pilotos, padres e pastores ou mesmo dançarinos. A lista de opções quando somos crianças parece gigante. Pode ser que você tenha mudado a sua escolha do ‘que ser quando crescer’ diversas vezes, mas todas tinham algo em comum, a realização profissional.
As crianças desejam ter uma profissão legal, os adolescentes sonham em realizar aquilo que gostam, mas nem sempre isso acontece. Parece que a estagnação chega e o sonho da profissão certa dá espaço para as perguntas corriqueiras: “será que escolhi certo minha profissão?”, “por qual motivo não me sinto realizado?” ou “será que eu serei feliz?”.
Mas nem sempre foi assim…
Quando paramos para pensar, podemos perceber que nossa felicidade e propósito de vida estão intimamente relacionados à nossa carreira profissional. O escritor Alain de Botton, em seu livro Prazeres e Desprazeres do Trabalho, diz que essa realização pessoal vinda do trabalho é uma característica da atual sociedade pós-moderna.
O ser humano trabalha desde a pré-história, quando passou obter resultados que não tinha antes de utilizar esforço sobre instrumentos e ferramentas. Isso desenvolveu a agricultura, caça e pesca, por exemplo. Como podemos notar ao estudar a etimologia da palavra, o trabalho nem sempre foi visto com bons olhos. O termo era associado a ‘dor’, ‘sofrimento’ e ‘realização de atividade dura’. Para os cidadãos da Grécia Antiga, o trabalho braçal não era uma atividade para homens livres. Estes se dedicavam apenas a tarefas criativas e intelectuais, como política, escrita e artes.
Durante a Idade Média, período marcado pelo feudos, o trabalho manual era característico dos servos que trabalhavam nas terras dos senhores feudais em troca de moradia e proteção. Mas com o fim desta fase e o início da Idade Moderna, uma nova classe social surge com os anseios do enriquecimento através do capitalismo mercantil: a burguesia.
A significação do trabalho durante o período seguinte, o Renascimento, adquiriu características mais próximas das que tem hoje em dia. Como um momento que prezava pela figura do homem, suas expressões culturais e seus conhecimentos avançados em diversas áreas, a atividade intelectual e artística nesse período são intrínsecas e valiosas. De mogo geral, essa onda de ressignificação do trabalho relacionado à dignidade e ao valor conversa com as diretrizes da Reforma Protestante. O pensamento Calvinista e Luteranista tinham o trabalho como uma virtude, algo que dignificava o homem, e ser remunerado pelo seu trabalho seria uma bênção divina.
Mas com a mesma velocidade que as atividades artísticas e intelectuais ganharam sentido de virtude, as tarefas manuais ganharam sentido da exploração. Durante a Revolução Industrial a diferença entre a classe operária e a burguesia era enorme. Enquanto esta detinha dos meios de produção e dos lucros, aquela trabalhava em jornadas exaustivas sem direitos trabalhistas básicos que conhecemos hoje.
Atualmente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos assegura que todos têm direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Além disso, no século XXI, atribuímos ao trabalho a significação da vida, plenitude de felicidade e propósito. Mas de acordo com a Survey Monkey, companhia de desenvolvimento de pesquisas on-line, nove em cada dez brasileiros estão desmotivados e infelizes com seu trabalho. Mas se temos todas essas expectativas sobre nossas profissões, como viver com propósito em um trabalho que não gostamos?
Onde está meu propósito?
O passo a passo para iniciar esse encontro profissional consiste em mudanças de objetivos e, até mesmo, de pensamentos. Segundo a psicóloga e coach, Ana Cláudia Sanches, podemos definir propósito como aquilo que nos move. São as estradas que decidimos percorrer e como queremos percorrer. Nosso propósito está altamente relacionado com nossos valores pessoais e objetivos. Para conhecer nosso propósito, é necessário muito autoconhecimento. Para ela, conhecer a si mesmo é o primeiro caminho para pensar e definir um ou vários propósitos.
Uma dica para colocar isso em prática é compreender quais são seus pontos positivos e passar a investir neles em seu ambiente de trabalho atual. Depois que nos conhecemos, compreendemos o que gostamos de fazer e o que não gostamos. Assim, conseguimos traçar nossa própria personalidade. Devemos aplicar o que foi aprendido ao trabalho que já realizamos, além de procurar saber como nossas qualidades podem ser incrementadas à profissão, à empresa e ao ambiente de trabalho. Buscar novas oportunidades dentro dos locais que já nos encontramos é dar uma chance para o crescimento, além de agregar valor à atual posição profissional.
Para que todo esse processo seja mais fácil, são necessárias pequenas mudanças pessoais e internas no seu modo de enxergar sua vida profissional. Confira algumas atitudes que podem contribuir!
1. Olhar para dentro
Para Ana Cláudia, não devemos tentar nos conhecer pelas expectativas ou visões que outras pessoas têm sobre nós. Então se conhecer é sobre saber quem você é de fato, não sobre o que os demais pensam. Autoconhecimento é uma jornada. A psicóloga incentiva perguntas como ‘O que faço muito bem hoje? Quais áreas que tenho oportunidade para melhorar? O que me faz feliz? Quais são os meus valores? Estou aqui por causa de minhas próprias escolhas ou dos desejos dos outros? Estou sendo fiel a mim mesmo? ’. Definir o que o sucesso significa para você também pode ser esclarecedor.
2. Motivação
Depois de pensar mais sobre quem você é, você deve encontrar a sua paixão, aquilo que te motiva. Por exemplo, ouvir aqueles que te cercam ou a organização em que você está, e aplicar seu novo conhecimento em seu trabalho atual. Quando consegue encaixar algo que te motiva em sua rotina, as coisas passam a fluir e o seu trabalho torna-se um possibilitador de paixões. Para encontrar o que te move, pense nas qualidades que fazem com que você seja destaque no seu círculo social. Além disso, testes muito simples, como o Ikigai, são interessantes para organizar suas vontades, qualidades e desejos.
3. Pequenas atitudes
Considere as pequenas atitudes do seu dia: tudo o que realizar é de importância e valor. Transforme tudo em propósito e execute com o seguinte pensamento: estou realizando meu propósito do dia, meu propósito profissional e o meu propósito de vida. Por isso, realize o que motiva, da maneira como você gostaria, e agregue valor a isso.
Devemos expandir nosso propósito no trabalho. Um vendedor de imóveis pode entender que o trabalho dele é “apenas” vender imóveis, ou então ele pode expandir este propósito: Vendo imóveis e com isso realizo o sonho das pessoas! Ele acorda todos os dias não apenas para vender, mas sim para realizar sonhos!
Ana Cláudia Sacnhes, Coach e Psicóloga
Mas se mesmo assim não estivermos progredindo com o propósito de nosso trabalho, é necessário tomar consciência das nossas escolhas e refletir: ‘Tem algo que eu posso fazer para melhorar? Estar aqui neste trabalho é uma escolha? Se não estou feliz posso tomar a escolha de tentar buscar outro trabalho? Como posso contribuir com o mundo/sociedade através do meu trabalho?
4. Transformação no ambiente de trabalho
Transforme seu ambiente de trabalho, procure deixá-lo melhor do que era com novos objetos e atitudes. Deixe o local confortável, adicione detalhes à decoração, agregue pequenos gestos à sua equipe: elogios e comentários são importantes. A interação é uma das chaves para sentir-se bem ao trabalhar. Uma boa relação exterior é fundamental para gerar energia para realização de outras tarefas.
O trabalho de um carpinteiro
A Bíblia fala sobre a questão do trabalho na vida daqueles que amam a Deus. A Palavra de Deus dá uma ordem sobre o trabalho para o próprio sustento: “Pois comerás do trabalho das tuas próprias mãos, feliz serás, e te irá bem” Salmos 128:2. Além disso não devemos esquecer que o próprio Filho de Deus tinha um trabalho enquanto estava aqui. Jesus tinha um trabalho manual de carpinteiro e vivia isso com Seu Propósito também, sempre honrando a Deus.
Se você ainda não encontrou um propósito em seu trabalho, esta desempregado ou gostaria de mudar de profissão, peça a Deus que ele lhe dará direção, entregue diariamente em forma de oração isso para o Senhor.
Busca que vale a pena
Apesar do desafio de encontrar um trabalho que nos agrade e permita uma boa qualidade de vida, é uma busca que vale a pena pois a satisfação pessoal está muito ligada a quem somos o que realizamos em nossa carreira. Para Rafaele Rocha, estudante de Jornalismo e estagiária no Fala! Universidades, a mudança de carreira a levou à realização profissional e de vida. Aos 28 anos, ela decidiu mudar sua área profissional, deixou sua função como professora e dedicou-se a um novo curso, no qual encontrou-se profissionalmente. Para ela, a mudança nunca vem tarde demais, mas sim na hora em que deve acontecer e em que estamos preparados para “abraçá-la”.
Seguindo essas indicações você inicia a mudança do seu propósito e vigor profissional, atribuindo uma nova visão e objetivo para o que você produz, o que pode influenciar de diversas maneiras em todos os âmbitos da sua vida. Uma pessoa motivada a trabalhar, e que encontra seu prazer naquilo, tende a simplificar as situações, atribuindo qualidade às pequenas ações. Essa mudança pode refletir em seus relacionamentos pois, sem a frustração do trabalho, você estará mais alegre e disposto a dialogar com aqueles que te cercam.
Outra área afetada pelo nosso relacionamento com o trabalho é a saúde. Vivemos em um século em que as doenças psicológicas são predominantes, como a ansiedade e quadros depressivos, causados também pelo estresse, pela falta de desejo e realização, e pela sobrecarga de trabalho. A Síndrome de Burnout, conhecida pelo esgotamento profissional, é um novo perigo para quem não vive de forma saudável com suas tarefas.
Mesmo depois de todas essas modificações, o desgaste profissional ainda pode estar presente, e quando isso ocorre só existe uma solução: mudar. Mude seu olhar, pense em algo novo e que te agrade, que sempre teve curiosidade em realizar, como um trabalho social, um novo curso, uma nova área profissional. Essas mudanças são bem-vindas: você não estará desistindo, mas sim reinventando-se, buscando o seu melhor.
Encontrar um propósito em seu trabalho é encontrar em sua profissão um prazer, é encarar aquela atividade como algo bom em sua vida e que trará diversos frutos, não só econômicos, mas sociais. Aquele que se encontra profissionalmente está apto a ser o melhor, produzir o melhor e receber em troca todas as recompensas possíveis, podendo dedicar-se ao que gosta.
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Por Luiza Nascimento Lopes e Duda Blumer.
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