Jesus foi capturado no Jardim do Getsêmani, após ser traído por Judas Iscariotes, e de lá foi levado até o Sinédrio. O Evangelho de João nos informa que antes ainda Jesus foi levado a Anás, que O mandou, ainda amarrado, a Caifás, o sumo sacerdote.
Anás, que era sogro de Caifás, havia deixado de ser sumo sacerdote há pelo menos vinte anos, mas durante todo esse período exercia uma poderosa influência em todos os negócios hierárquicos da comunidade.
Caifás, o genro desse homem poderoso, era quem tinha aconselhado aos judeus que convinha que um homem morresse pelo povo.
E conduziram-no primeiramente a Anás, por ser sogro de Caifás, o qual era o sumo sacerdote daquele ano.
João 18:13 a 24
E Anás mandou-o, manietado, ao sumo sacerdote Caifás.
E os que prenderam Jesus o conduziram ao sumo sacerdote, Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos.
Mateus 26:57
No palácio de Caifás, os principais sacerdotes, escribas, e anciãos do povo juntaram-se, como que em uma reunião informal do Sinédrio (veja no fim da matéria), todos ansiosamente esperando o retorno da expedição que tinha sido conduzida por Judas até a presença de Jesus – e a coleta dessa “caça”, o Messias amarrado e rendido.
Quando Jesus chegou na casa de Caifás, foi imediatamente posto em um julgamento sujo, que desrespeitava toda a lei, tanto escrita quanto tradicional, e da qual aqueles governantes judaicos reunidos juravam ser os mais zelosos guardiães.
O Julgamento de Jesus
Os relatos dos Evangelhos sobre o funcionamento do Sinédrio estão de acordo com a definição dada por outras evidências do primeiro século (especialmente os escritos do historiador Flávio Josefo) sobre como os assuntos eram tratados naquela organização.
Na época de Jesus, o Sinédrio era dominado por saduceus que pouco se importavam com as perspectivas farisaicas (entenda as diferenças entre saduceus e fariseus na nossa matéria). Por se tratar de uma reunião noturna especial do Sinédrio durante a época de um festival, é provável que muitos membros não tenham podido comparecer (isso se ao menos foram convidados).
Os membros do Sinédrio que se reuniram para julgar Jesus violaram os padrões éticos defendidos não apenas pelos fariseus, mas também por muitos moralistas gentios da época. Os julgamentos deveriam ser conduzidos durante o dia, no salão normal de reuniões (neste caso, perto do templo), não na casa de Caifás, o juiz principal.
Enquanto os fariseus se opunham a execuções precipitadas após as decisões do conselho, os saduceus eram conhecidos por punições severas e aplicadas rapidamente. A violação de ética mais óbvia, claro, é a presença de testemunhas falsas e mutuamente contraditórias.
Muitos testemunharam falsamente contra ele, mas as declarações deles não eram coerentes.
Marcos 14:56-59
Então se levantaram alguns e declararam falsamente contra ele:
“Nós o ouvimos dizer: ‘Destruirei este templo feito por mãos humanas e em três dias construirei outro, não feito por mãos de homens’ “.
Mas, nem mesmo assim, o depoimento deles era coerente.
Claramente, alguns membros do Sinédrio presentes agiram com integridade legal, interrogando as testemunhas, mas pelos padrões farisaicos, o caso deveria ter sido arquivado uma vez que as testemunhas se contradisseram (Mc 14:59).
O plano do sumo sacerdote Caifás provavelmente era fazer uma audiência preliminar para formular uma acusação a Pilatos, um procedimento esperado antes de acusar alguém perante o governador.
De manhã cedo, todos os chefes dos sacerdotes e líderes religiosos do povo tomaram a decisão de condenar Jesus à morte.
E, amarrando-o, levaram-no e o entregaram a Pilatos, o governador.
Mateus 27:1
As ações do Sinédrio se encaixam no que sabemos do período. O governo romano era muito extenso e, por isso, fazia acordo com as elites locais para manter a ordem e punir rebeldes e criminosos. Na prática, isso significava que a elite de Jerusalém, que na época era o sacerdócio aristocrático (fariseus e saduceus), ajudava o Império Romano a controlar a sociedade em troca de benefícios.
Em todo o Império isso acontecia pois as elites locais eram muitas vezes corruptas, e todas as outras fontes histórias deste período (Flávio Josefo, os Manuscritos do Mar Morto e memórias farisaicas) concordam que o sacerdócio aristocrático que controlava Jerusalém abusou de seu poder.
Uma geração depois, os principais sacerdotes prenderam um profeta judeu por anunciar o julgamento contra o templo; eles o entregaram a um governador romano que, segundo Flávio Josefo, “o espancou até seus ossos aparecerem”. O tratamento que as autoridades religiosas deram a Jesus se encaixa em seu comportamento usual para com aqueles que desafiaram sua autoridade.
O Sinédrio
Originalmente, Sinédrio significava o local onde um conselho se reunia, e depois passou a definir o próprio corpo de conselheiros, ou a sua reunião.
No Antigo Testamento, a palavra é usada para definir vários conselhos e tribunais, mas em geral como um termo técnico para o supremo conselho judaico.
O sinédrio era essencialmente um tribunal encarregado de manter os costumes judaicos. Podia impor a sentença de morte, mas (exceto em raras circunstâncias) os romanos retinham o direito de realmente infligir a pena.
No Novo Testamento, os cristãos são avisados de que podem ser convocados para testemunhar perante esses tribunais locais e até mesmo ser condenados à flagelação por eles:
“Tenham cuidado, pois os homens os entregarão aos tribunais e os açoitarão nas sinagogas deles.
Mateus 10:17,18
Por minha causa vocês serão levados à presença de governadores e reis como testemunhas a eles e aos gentios.
Jesus disse que uma pessoa que está com raiva de seu irmão é passível de julgamento pelo sinédrio, indicando assim metaforicamente que o pecado da cólera é tão culpável quanto o crime de homicídio pelo qual uma pessoa seria julgada pelo sinédrio:
“Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’.
Mateus 5:21,22
Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco! ’, corre o risco de ir para o fogo do inferno.
A maioria das referências ao sinédrio na Bíblia diz respeito aos seus atos contra Jesus e a igreja primitiva. Desde o início do ministério de Jesus, o sinédrio determinou que Ele deveria ser preso (In. 11:47), e aproveitou a oportunidade dada por Judas na páscoa para prender Jesus e julgá-lo (Lc. 22:66; Mc. 14: 55 (par. Matt. 26: 59); 15: 1).
O sinédrio pode ser visto como o foco da oposição da liderança judaica a Jesus. E, mesmo após a ascensão do Messias, essa oposição continuou perseguindo a igreja primitiva.
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Referências:
KEENER, Craig S.; WALTON, John H. Cultural Backgrounds Study Bible – NIV: Bringing to Life the Ancient World of Scripture
TALMAGE, James E. Jesus, O Cristo.
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