O consumismo é a ação de consumir de maneira excessiva e desnecessária bens de consumo e/ou serviços. Ou seja, o ato de comprar pelo simples simbolismo que aquilo tem (trazer felicidade, ascensão social, entre outros) é a prática desse problema que possui raízes históricas e foi desenvolvido ao longo dos séculos para se tornar parte da nossa sociedade.
Um exemplo claro de que esse é um problema que enfrentamos todos os dias, sem perceber que estamos fazendo parte do que foi denominado de sociedade do consumo por Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês responsável pela teoria da sociedade do consumo e das relações líquidas, é quando sentimos vontade de comprar pelo simples ato de comprar. Seja um celular novo, do qual não precisamos, ou roupas que não sabemos se vamos utilizar.
Para compreender melhor o que é o consumismo, como ele surge em nossa sociedade e quais a consequências que o ato de comprar desenfreadamente tem, é necessário retomar acontecimentos históricos e entender qual o papel da população e das indústrias.
O que é consumismo?
O consumismo é o ato de consumir algo de maneira excessiva e desnecessária. Tudo o que é consumido sem valor algum, ou seja, pelo simples prazer de consumir é o consumismo de sua forma mais pura. Para Bauman, o consumo líquido é aquele que vem e passa, sem ao menos significar algo. O sociólogo faz a mesma relação para relações líquidas, que vem e passam, que possuem uma fluidez demasiada.
Essa ideologia do consumismo surge com a sociedade moderna e capitalista, que se estabelece após as Revoluções Industriais, no qual produto se torna dinheiro e dinheiro se torna objeto de desejo de todo tipo, desde as famílias até os estados e as grandes corporações.
Para lucrar abundantemente, ou seja, para obter muito dinheiro, é necessário vender e vender muito, e para isso é preciso que o público-alvo de um serviço ou produto consuma muito – às vezes mais do que ele realmente precisa.
Consumo vs Consumismo
Para compreender o que é o consumismo e como ele afeta a sociedade em que vivemos, como somos afetados e quando isso ocorre é preciso entender que há uma diferença entre consumo e consumismo.
O consumo é uma necessidade natural dos seres humanos, pois precisamos consumir para sobreviver. Dependemos de água, comida, moradia, entre outros fatores que para serem realizados é necessário extrair de algum lugar ou, na atualidade, comprar de algum lugar. Mas, a partir do momento que consumimos sem necessidade, que isso se torna um ato vago e repleto de simbolismos criados pela sociedade do consumo (uma sociedade que influência essa ação) estamos sendo consumistas e elevamos o consumo a um patamar quase patológico.
O consumismo e a Revolução Industrial
A ideologia consumista surge com o capitalismo, pois quanto mais as pessoas consumem maior é o lucro. Esse pensamento capitalista foi idealizado por Adam Smith, que afirma em suas obras que o capitalismo é um sistema econômico que produz os bens de consumo e os comercializa visando o lucro. Quanto mais se produz, mais se vende e quanto mais se vende, maior é o retorno financeiro. O consumo move as vendas e o consumo em excesso (consumismo) geram os lucros.
Foi a partir da Revolução Industrial que Smith criou sua ideologia e a partir do aumento da produção de bens de consumo, cresce a busca por esses itens, que a princípio eram consumidos pela população mais rica na Europa.
Durante o período da Primeira Revolução Industrial, diversos efeitos na sociedade surgiram devido aos meios de produção que foram adotados. O primeiro fator foi o impacto social que as fabricas tiveram. Com o meio manual de produção caindo em declínio, os setores rurais caíram em decadência, obrigando toda aquela população a buscar emprego nas cidades, que passaram a tornar-se regiões superlotadas. Além disso, o meio ambiente foi afetado diretamente pela ação de produção do homem, com aumento de emissão de gases poluentes causados pela queima de carvão e desmatamento em busca de matéria-prima. O próprio carvão foi minerado de maneira excessiva para poder manter as máquinas funcionando.
A Segunda Revolução Industrial potencializou a produção em massa dos produtos e barateou os custos da produção, tornando o consumo daqueles bens acessíveis a população mais pobre. O que gerou uma maior demanda das fabricas, potencializando os problemas decorrentes da industrialização da Europa. Outros continentes aderiram ao novo meio de produção e ao novo sistema econômico e iniciaram suas próprias produções. O maior exemplo são os Estados Unidos, que atualmente é um dos países mais industrializados do mundo.
A partir do século XIX e da expansão industrial, o consumismo se tornou uma realidade em diversas sociedades pelo mundo todo.
O consumismo
O consumismo possui diversos fatores que o identificam, que na maioria estão ligados à sociedade do consumo. Tudo é criado para nos fazer comprar, sejam as propagandas, o produto, o design, entre outros fatores.
No documentário A História das Coisas (The Story Stuff), dirigido por Louis Fox em 2007, o consumismo é abordado como um sistema linear que está presente em todo o mundo, inclusive nos Estados Unidos, porém a ideia não levaria em consideração o fator do planeta finito. Ou seja, a matéria prima, os processos da Industria, o consumo e o descarte dos bens ocorrem em um ambiente que possui espaço e matéria-prima findáveis.
Por isso, a exploração de recursos sempre se expande para outros territórios, em outros países, porque esse sistema é capaz de acabar com todo um meio ambiente.
O que move o sistema linear do consumismo, segundo o documentário, é falsa necessidade. Ela usa como exemplo o povo americano, que trabalha o dia inteiro e quando chega em casa é bombardeado com propagandas que estimulam as compras, que vendem a felicidade nos produtos. Isso leva o americano a comprar sem necessidade, para que no fim aquele produto seja descartado e trocado por outro. As empresas desenvolvem novos designs, softwares, aparelhos, que mesmo que o produto atual ainda esteja em boa qualidade, é desvalorizado e por isso, substituído.
Consumo se tornou status na sociedade do consumo, no qual quanto mais você tem ou o quão novo é o que você tem, importa muito mais do que quem você. Para Clovis de Barros Filho, Dr. em Ciências da Comunicação na ECA-USP, os produtos e seu consumo se tornaram significado de felicidade na sociedade. Quando a pessoa consome, se torna consumidora, se é consumidora é parte daquela sociedade de consumo, o que traz alegria, felicidade e prazer.
A obsolescência das coisas
Outro fator determinante para o consumismo é a obsolescência das coisas. Um método de tornar o produto obsoleto em pouco tempo de uso, seja pela perca de qualidade do bem de consumo, mudança de design, entre outros. A ideia surge como uma maneira de incentivar os consumidores a se livrarem de seus bens para comprarem novos. A primeira pessoa a usar a proposta da obsolescência no consumismo foi Brando London, após a Crise de 1929, no qual os Estados Unidos enfrentou um recesso econômico e o consumo da população caiu devido a taxa de desempregos, que chegou a 28%.
No documentário Obsolescência Programada (The Light Bulb Conspiracy), de 2010, o assunto é abordado como uma estratégia que foi adotada pelas indústrias após a 2ª Guerra Mundial, para incentivar o consumismo no mundo. A estratégia adotada pelo governo de Truman para alavancar o país após a guerra foi assertivo, porém não foi a primeira vez que a obsolescência foi utilizada para aumentar o consumo. O primeiro produto a se tornar obsoleto foi a lâmpada, após uma estratégia de fabricantes. Lâmpadas que duravam até 2.500 horas assaram a durar 1.000.
O marketing e o design
Um produto é pensado desde o início de sua criação para ser atrativo e garantir vendas. Na década de 50, no auge do consumismo americano, os produtos eram idealizados para serem bonitos, com design atraente e futurista, enquanto a qualidade não era vista como primordial. Na realidade, quanto menor a qualidade do produto, menor é o seu ciclo de vida, ou seja, logo será necessário trocar aquele bem.
O design é uma das razões para produtos serem trocados constantemente. Quanto mais diferente do antecessor, melhor é a atual versão. Mesmo com um desing interessante, o produto depende de outros fatores, a principal é sua divulgação. O marketing é a alma do negócio e atualmente é o que difere um produto do outro.
As propagandas atraem os compradores, transmitindo a ideia de que aquele produto é essencial para sua vida e seu dia a dia. Mensagens positivas e alegres são vínculadas até acreditarmos que aquilo é bom e que precismos para sermos felizes também. O público alvodas propagandas, em sua maioria, são as crianças.
Segundo estudo realizado pela Associação Dietética Norte Americana, 80% da influência de compra em uma casa vem de uma criança. Isso ocorre pela necessidade que os pais possuem em dar tudo aquilo que as crianças pedem, garantindo assim a felicidade deles. Essa associação a felicidade e bens materiais é um resultado de imagens que vemos ao longo da vida, na qual pessoas felizes possuem coisas.
O documentário Criança, a alma do negócio, de 2008, exemplifica o quanto crianças são suscetíveis as propagandas, pois a relação bens de consumo e alegria se inicia desde cedo, na formação do indivíduo.
Quais as consequências do consumismo?
O consumismo afeta os seres humanos e o meio ambiente. A produção em excesso produz gases poluentes, despejo de lixo, contaminação de rios, entre outros problemas na natureza. Uma única fábrica pode desequilibrar todo um ecossistema, matando a vida que nele há. Nos Estados Unidos, apenas 4% de sua área verde ainda está preservada. Segundo o documentário A História das Coisas, se todos os países decidissem por produzir e consumir como os norte-americanos, seria necessário matéria prima de 5 planetas iguais a Terra (em questão de recursos presentes) para garantir o consumismo das pessoas.
Mas o consumo desenfreado não provoca só problemas ambientas, além do ecossistema do planeta, as pessoas também sofrem com o consumismo. Sejam aqueles que são explorados nas produções, recebendo menos do que o valor do mercado ou em trabalhos análogos à escravidão, ou aqueles que consomem de maneira inconsciente.
O consumismo pode se tornar uma compulsão, afetando a amente e a saúde daquele que sofre com essa doença. A oneomania é o ato de comprar indiscriminadamente. A doença é um vício semelhante ao álcool ou outras drogas, que causam uma sensação de prazer e felicidade, seguido de tristeza, arrependimento e quadros depressivos.
Essa ideologia do consumo não possui um método de prevenção e nem uma maneira de ser parada imediatamente. O consumismo é um problema enraizado no capitalismo mundial, que pode ser controlado pelo governo e pela população. O consumo consciente é um método que vem sendo utilizado para frear o avanço do consumo, a compra consciente é aquela na qual consumimos o que é necessário e de indústrias que se importem com questões ambientais, com o descarte de lixo, sustentabilidade, entre outros fatores.
O cristianismo e a simplicidade
Jesus não nos chamou para consumir. Ele nos ensinou a amar a Deus e ao próximo, atender às necessidades uns dos outros, praticar justiça e misericórdia e proclamar o evangelho.
Os primeiros seguidores de Cristo entenderam isso. Vivendo como Jesus lhes ensinou, eles não se preocupavam com ganhar, comprar ou obter nenhum material, mas viviam atentos aos dons e recursos que poderiam utilizar para ajudar uma família necessitada. Quando você olha para esses primeiros cristãos, você vê serviço, não consumo; você vê um abrigo, não um mercado.
O consumismo é uma falsa promessa vendida com sucesso, que nos impede de aproveitar as coisas realmente boas da vida, como relacionamentos, servir aos outros e apreciar nossas muitas bênçãos. Não se deixe enganar por isso. Jesus disse: ‘Não acumulem tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. Mas acumulem tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem e onde os ladrões não invadem e roubam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração.’
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