Judeus, hebreus, israelitas, judaítas, saduceus e fariseus: entenda a diferença

Na Bíblia e no dia-a-dia nos deparamos frequentemente com as palavras judeus, hebreus, israelitas, judaítas, saduceus e fariseus. Por vezes confundimos os seus significados e contextos históricos. Fizemos breves comentários sobre as principais diferenças entre esses termos e como usá-los corretamente.

Hebreus

Hebreu é um termo muito genérico na Bíblia. Ele aparece pela primeira vez em Gênesis 14:13, para se referir a Abraão, um homem que acreditava fielmente em Deus. Ele é chamado de hebreu para designar sua origem geográfica, uma vez que a tradução literal da palavra é “do outro lado do rio”. A referência seria com base no fato de Abraão ser originário da cidade de Ur, na Mesopotâmia. O relato bíblico nos conta que ele deixou sua terra por conta de um chamado de Deus, e foi habitar na região de Canaã, onde hoje é o Estado de Israel e a Cisjordânia.

Muitos historiadores afirmam que os hebreus são povos semitas originários da Mesopotâmia, que passaram a habitar Canaã no segundo milênio antes de Cristo. A Bíblia afirma que Abraão é o grande patriarca do povo hebreu, porque foi escolhido por Deus para ser o pai de muitas nações. Em um determinado momento, os descendentes de Abraão teriam migrado para o Egito devido a uma grande seca que levou à crise alimentícia na região de Canaã, também chamada de Palestina.

A Bíblia afirma que ao se estabelecerem no Egito, os hebreus inicialmente prosperaram, mas depois foram perseguidos e escravizados por 400 anos. Por volta do ano 1250 a.C., os hebreus foram liderados por Moisés no episódio conhecido como Êxodo, e foram conduzidos de volta à Canaã. No entanto, quando chegaram lá, a terra estava habitada por diversos povos. Foi então que as tribos escolheram líderes políticos e militares, para conduzir as campanhas de conquista da Terra Prometida por Deus, nomeados de juízes.

A Travessia do Mar Vermelho (1634) por Nicolas Pousin.
A Travessia do Mar Vermelho (1634) por Nicolas Pousin.

Eventualmente, as guerras contra os povos cananeus se tornaram insustentáveis devido às dissidências internas entre os próprios hebreus. Desse modo, aproximadamente no ano 1030 a.C., Deus escolheu um rei para liderá-los, mas este se corrompeu e foi substituído rapidamente pelo grande guerreiro Davi. Essa união monárquica contribuiu para fortalecer o sentimento de unidade, mas que logo foi desgastada com a divisão entre os reinos do norte e do sul, após a morte de Salomão, sucessor e filho de Davi, em 930 a.C.

De qualquer forma, o termo hebreu faz referência a um povo ou grupo étnico de origem semita, que habitou a região da Palestina, e se identificou como descendente de Abraão. Assim, é comum classificarmos os hebreus como povos nômades, que deram origem aos israelitas.

Israelitas

Podemos empregar este termo nos mesmos moldes que o anterior, porém com algumas ressalvas. Dissemos que os hebreus podem ser considerados um grupo de origem étnica em comum, mas a palavra israelita geralmente é aplicada para se referir aos descendentes dos hebreus. Ou seja, é utilizada apenas a partir de Moisés.

Abraão, o patriarca do povo hebreu, teve um filho chamado Isaque, que teve dois filhos, Esaú e Jacó. Este último acabou sendo considerado o herdeiro de seu pai e avô por conta de sua grande fé e devoção. Quando Jacó aceitou a Deus, teve seu nome mudado para Israel, que significa “aquele que luta com Deus”. Essa expressão é uma referência a sua insistência em ser abençoado por Deus.

Os filhos de Jacó, ou se preferir, de Israel, deram origem às tribos de Israel. São elas: Rúben, Judá, Zebulom, Issacar, , Gade, Aser, Naftali, Benjamim, Manassés e Efraim. Elas possuíam autonomia em relação as outras, e possuem o sentido de clã familiar, uma forma de organização social.

Desse modo, os “israelitas” são aqueles se identificaram como pertencentes a uma dessas tribos, que teria origem no patriarca Jacó, que por sua vez remonta a Abraão. No entanto, os pesquisadores costumam aplicar esse termo somente aos membros do Reino de Israel, aquele reino do norte que teria se originado em oposição ao reino do sul, chamado de reino de Judá.

Judaítas

Como afirmamos, os israelitas se separaram após a morte do rei Salomão. Essa divisão ocasionou o aparecimento de dois reinos distintos. Ao sul, as tribos que decidiram apoiar Roboão, o filho de Salomão, foram somente Judá e Benjamim. Uma vez que a tribo de Judá possuía a maior parte dos habitantes ao redor da capital, Jerusalém, o reino passou a ser conhecido como reino de Judá.

As demais tribos resolveram apoiar o líder Jeroboão, da tribo de Efraim, que havia sido um dos conselheiros de Salomão. Segundo a Bíblia, ele desagradou a Deus porque apoiava a idolatria e seus seguidores também. Isso fez com que o reino de Israel, com a capital em Samaria, passasse a ser visto com menos agrado aos olhos de Deus.

Não obstante, os habitantes de Israel passaram a ser chamados mais convenientemente de israelitas, enquanto que os habitantes de Judá, passaram a ser conhecidos como judaítas.

Judeus

O Reino de Israel encontrou o seu fim em 722 a.C. quando o Império Assírio invadiu a capital e destruiu a cidade. A partir daí, muitos israelitas fugiram para Judá e outros foram deportados para a capital assíria. E o território passou a ser controlado por vassalos do Império Assírio.

Semelhantemente, o Reino de Judá também teve um fim trágico, mas perdurou mais de cem anos depois que seu vizinho. Jerusalém foi invadida pelos babilônicos em 586 a.C., o Templo construído por Salomão foi destruído e a elite judaíta deportada para a Babilônia. Os conquistadores implantaram um governo vassalo no local e obrigaram os povos que ficaram lá a pagarem pesados impostos. Já a elite deportada passou a elaborar projetos identitários para preservar a memória que possuíam do Reino de Judá.

O Exílio na Babilônia só terminou em 539 a.C., quando o rei Ciro, da Pérsia, conquistou a Babilônia, e decretou que todos os deportados pudessem voltar para seus lugares de origem. Dessa forma, os judaítas, que nasceram na própria Babilônia, foram pela primeira vez para Jerusalém e colocaram em prática o plano de reconstruir o Templo de seus antepassados.

Todo território da Palestina agora pertencia ao Império Persa, mas diferente dos babilônicos, eles mantiveram a autonomia das elites locais. Por isso, os judaítas retornados estabeleceram um governo provincial e passaram a constituir aos poucos uma nova identidade, bem diferente daquela que seus antepassados possuíram.

Essa província persa na Palestina recebeu o nome de Yehud, que quer dizer Judeia. Dessa forma, os habitantes passaram a ser reconhecidos cada vez mais como judeus, em uma clara referência aos judaítas e a tribo de Judá. Esta última passou a ser vista como a única tribo que persistiu aos incontáveis massacres e dissidências no decorrer da história.

Com o Segundo Templo, a religião judaica se desenvolveu no decorrer do século IV a.C. A Judeia se tornou uma província liderada pelo sumo sacerdote e pelo conselho de anciões e sacerdotes de Jerusalém. É somente a partir desse momento que podemos nos referir ao judaísmo como um sistema de crenças, práticas e ensinamentos consolidado. Antes, os princípios religiosos eram baseados apenas nas revelações através de Moisés e dos profetas.

Saduceus

O judaísmo desenvolvido na Judeia persa (539-330 a.C.) e depois sob o domínio do Império Selêucida (323-164 a.C.) acabou não se mostrando apenas uma única corrente homogênea. As principais seitas ou divisões judaicas que apareceram foram os saduceus e os fariseus. Eles divergiam quanto a interpretação dos ensinamentos de Deus, e ao modo de se organizar e adorar ao Senhor.

A primeira corrente, podemos dizer, é a mais ortodoxa e decorre diretamente dos princípios norteadores da construção do Segundo Templo. Os saduceus eram os sacerdotes ligados ao Templo e ao conselho de anciões de Jerusalém, conhecido como sinédrio. Eles se distinguem dos demais grupos porque só aceitavam a Lei (cinco primeiros livros da Bíblia) como inspirada por Deus e seguiam rigidamente os princípios que estavam escritos nela.

Os saduceus não acreditavam em vida após a morte e também professavam que o verdadeiro culto a Deus deveria ser feito exclusivamente através dos sacrifícios no Templo. De acordo com os evangelhos, foi essa elite de sacerdotes que condenou Jesus e exigiu que Pilatos o crucificasse. O sinédrio controlava a vida religiosa de Jerusalém e era capaz de influenciar toda a população judaica na Palestina, mesmo nas regiões mais distantes da capital.

Fariseus

Os fariseus se distinguem totalmente dos saduceus. Comumente criou-se a imagem dos fariseus associada aos religiosos corruptos por essência, mas devemos perceber que Jesus criticava o comportamento de certas pessoas e não a seita em si. Eles acreditavam na inspiração divina de todos os livros hebraicos, mas ainda davam mais importância para a Lei do que para os Profetas e os Poéticos.

A seita farisaica também acreditava que uma Lei oral estava em pé de igualdade com a Lei escrita, por isso era comum que os fariseus debatessem as leis e os ensinamentos de Deus entre si. Para eles, a Lei oral foi revelada através de Moisés, e estava preservada na fala, sendo tão importante quanto a Lei escrita. Muitos rabinos (chefes das sinagogas) compilaram esses ensinamentos e registraram no Talmude, que é o livro de comentários rabínicos sobre a Lei escrita e oral.

Grande parte dos judeus atuais, e muitos pesquisadores igualmente, acreditam que Jesus tenha sido um fariseu, porque era intérprete da Lei e ensinava princípios que não estavam escritos exatamente nos textos hebraicos. Além disso, os fariseus eram contrários ao culto exclusivo no Templo, eles ensinavam que o judaísmo devia ser vivido nas próprias comunidades, ou seja, nas sinagogas, através dos debates sobre os ensinamentos de Deus.

Eventualmente, os judeus se revoltaram contra o domínio romano no final da década de 60 do primeiro século. No entanto, as forças de Roma foram devastadoras na repressão da revolta. O exército do general Tito foi responsável por sitiar e invadir a cidade de Jerusalém no ano 70. Nesse evento, o Templo foi novamente destruído, do qual apenas restou uma única muralha até os dias de hoje, chamada de Muro das Lamentações.

Com a destruição do Templo, a elite dos saduceus acabou sendo destituída completamente de seu poder e influência. Assim, os fariseus consolidaram suas ideias e o judaísmo passou a assumir a forma sinagogal, ou seja, voltado para as sinagogas. Desse modo, os judeus não se preocuparam mais em se fixar em Jerusalém, uma vez que a mesma tinha sido completamente destruída, e se espalharam para além da região da Palestina. Esse evento da dispersão dos judeus pelo mundo é chamado de Diáspora.

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