Éfeso – História da cidade dos tempos bíblicos até os atuais

Éfeso (em grego Éphesos) foi uma cidade da Ásia Menor, às margens do mar Egeu, na foz do rio Caístro. Fundada por volta de 1000 anos antes de Cristo, conheceu a mesma inconstância política que as outras cidades gregas da Ásia Menor nas suas relações com os reinos e impérios do continente: foi vassala da Lídia e do Império Aquemênida, incorporada ao reino de Pérgamo; foi capital da província romana da Ásia em 133 a.C; foi importante cidade do Império Bizantino, depois capturada pelo Império Otomano e no século 15 foi, por fim, abandonada. Hoje, o território de Éfeso pertence à Turquia.

Éfeso era célebre por sua atividade comercial e bancária. Seu templo de Ártemis, construído no século VI a.C., o maior do mundo grego, era considerado como uma das Sete Maravilhas do Mundo.

O apóstolo Paulo visitou a cidade de Éfeso em 54 e 65, e o apóstolo João, em 66. Os turcos a tomaram dos bizantinos de 1090 a 1097 e depois a ocuparam definitivamente, no início do século XIV.

​Por muito tempo, Éfeso foi a segunda cidade mais importante do Império Romano. Foi o principal centro comercial do Mediterrâneo e possui grande relevância ao Cristianismo.

Onde fica Éfeso?

Éfeso está localizada perto da costa oeste da Turquia moderna, onde o Mar Egeu encontra a foz do rio Caístro, a cerca de três quilômetros a sudoeste de Selçuk, na província de Esmirna, na Turquia. 

Éfeso era o porto marítimo mais favorável da província de Ásia e o centro comercial mais importante a oeste de Tarso. Atraía navios de diversas partes do Império Romano. A sua localização favorável tornou a cidade um ponto economicamente importante durante toda a sua história. 

Ruínas de Éfeso. Hoje, o território de Éfeso pertence à Turquia.
Ruínas de Éfeso. Hoje, o território de Éfeso pertence à Turquia.

Entre as maiores cidades da Ásia

Éfeso era a maior cidade da província romana da Ásia, com uma população de talvez 300.000 pessoas. A cidade continha um teatro, o Teatro de Éfeso,  que acomodava  cerca de 25.000 pessoas e era utilizado para cerimônias, teatros, discussões sobre questões da cidade, lutas de gladiadores e eventos de música.

A via principal que atravessava a cidade tinha cerca de 35 metros de largura e ia do teatro ao porto – e em cada extremidade da estrada havia um enorme portão.

A via pública era flanqueada de cada lado por fileiras de colunas de 15 metros de profundidade. Atrás dessas colunas estavam casas de banhos, ginásios e edifícios impressionantes.

Além desses monumentos, existiam alguns outros que também se destacavam, como: Biblioteca de Celso, luxuosas casas de banho, templo dedicado a um imperador romano e os palácios romanos.

Economia em Éfeso

A cidade era um centro industrial e suas riquezas vinham do comércio. Éfeso era uma cidade rica e possuía uma economia próspera, o que a tornou centro administrativo do governo romano. 

Por terra, boas estradas conectavam Éfeso às cidades mais importantes da Ásia. Por mar, contava com o porto mais importante do seu tempo, de onde partiam e chegavam os maiores navios da época.

Boa parte do movimento econômico de Éfeso estava ligado à religião. O centro religioso era referência e empregava muitas pessoas através da fabricação de artefatos religiosos.

A vida em Éfeso

A vida comercial e política das cidades gregas e romanas era centrada na praça principal da cidade, o fórum (em romano) ou ágora (grego) – um espaço livre com edificações de caráter público, onde os cidadãos costumavam ir, configuradas pela presença de mercados, feiras livres e oficinas. Em Éfeso não era diferente. 

Desde a Éfeso bíblica até hoje, a vida na região é vivida principalmente ao ar livre. A praça principal da cidade era o centro da comunidade – um mercado de conversas e idéias, bem como de atividades econômicas.

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Ruínas de Éfeso

A religião em Éfeso

Ártemis dos Efésios

O Templo de Artemis (ou Diana, seu nome romano) em Éfeso é classificado como uma das Sete Maravilhas do mundo antigo. Irmã gêmea de Apolo e filha de Zeus, Ártemis era conhecida como a deusa da lua, a deusa da caça, e a padroeira das meninas. 

O Templo em Éfeso abrigava uma imagem de Ártemis, que se dizia ter vindo diretamente do céu, de Zeus (Atos 19:35). 

“O escrivão da cidade acalmou a multidão e disse: “Efésios, quem não sabe que a cidade de Éfeso é a guardiã do templo da grande Ártemis e da sua imagem que caiu do céu?”
Atos 19:35

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Deusa de Ártemis

A deusa de Éfeso era uma das deusas mães da Ásia. Os ovos (ou seios) eram um emblema de fertilidade, mas a promiscuidade não estava associada a ela. A coroa a marcava como protetora da cidade. Os gregos a identificaram como Ártemis.

O Templo de Ártemis era sustentado por 127 colunas, cada uma delas com 20 metros de altura. Os efésios eram muito orgulhosos deste grande edifício. Durante o período romano, eles promoveram a adoração de Ártemis cunhando moedas com a inscrição “Diana de Éfeso”.

Moeda de Éfeso
Moeda de Éfeso

Naqueles tempos, quase tão populares quanto deuses e heróis eram os animais sagrados – e a “abelha” e o “veado” de Ártemis eram cunhadas também nas moedas de Éfeso.

Cristianismo em Éfeso

A localização estratégica de Éfeso nas rotas de conexão entre Roma e Ásia contribuiu muito para a propagação do Evangelho na região. A rota mais importante e mais frequentada pelos viajantes naqueles tempos era a grande rota central que passava por Éfeso e Corinto, não por acaso dois lugares dos quais o cristianismo mais se irradiou para outras áreas. 

A história do cristianismo em Éfeso começou por volta de 50 d.C., talvez como resultado dos esforços de Priscila e Áquila (Atos 18:18). Paulo foi para Éfeso por volta de 52 d.C., e ficou lá por cerca de três anos (Atos 20:31), quando escreveu a primeira carta para os Coríntios, ou seja, para os novos cristãos que habitavam a cidade de Corinto.

Paulo entrou na sinagoga e ali falou com liberdade durante três meses, argumentando convincentemente acerca do Reino de Deus.
Mas alguns deles se endureceram e se recusaram a crer, e começaram a falar mal do Caminho diante da multidão. Paulo, então, afastou-se deles. Tomando consigo os discípulos, passou a ensinar diariamente na escola de Tirano.
Isso continuou por dois anos, de forma que todos os judeus e os gregos que viviam na província da Ásia ouviram a palavra do Senhor.
Atos 19:8-10

Em Éfeso, Paulo falava sobre os ensinamentos bíblicos e a salvação por Jesus Cristo diariamente. Muita gente ouviu Paulo e se converteu, o que inclusive resultou na fundação de igrejas pela região, como a de Laodicéia e a de Colossos. 

Tão influente, na verdade, foi essa atuação de Paulo em Éfeso,  que o número de novos seguidores de Jesus Cristo cresceu de forma tão rápida que a economia da cidade, baseada na venda de artefatos religiosos, foi ameaçada. 

A liga de ourives da cidade, uma guilda dos profissionais que confeccionavam as lembranças vendidas no Templo de Ártemis, temia que a pregação de Paulo do evangelho prejudicasse sua reputação, seus ganhos e ameaçasse até mesmo o grande templo. Como resultado, um dos ourives, um homem chamado Demétrio, provocou uma revolta contra Paulo.

“Um ourives chamado Demétrio, que fazia miniaturas de prata do templo de Ártemis e que dava muito lucro aos artífices, reuniu-os juntamente com os trabalhadores dessa profissão e disse: “Senhores, vocês sabem que temos uma boa fonte de lucro nesta atividade e estão vendo e ouvindo como este indivíduo, Paulo, está convencendo e desviando grande número de pessoas aqui em Éfeso e em quase toda a província da Ásia. Diz ele que deuses feitos por mãos humanas não são deuses.
Não somente há o perigo de nossa profissão perder sua reputação, mas também de o templo da grande deusa Ártemis cair em descrédito e de a própria deusa, adorada em toda a província da Ásia e em todo o mundo, ser destituída de sua majestade divina”.
Ao ouvirem isso, eles ficaram furiosos e começaram a gritar: ‘Grande é a Ártemis dos efésios! ‘”
Atos 19:24-28

Essa foi uma das situações perigosas que Paulo encontrou em Éfeso. Mas ali também houve muitas oportunidades. 

Paulo batizou os crentes que aparentemente vieram a conhecer o evangelho por meio dos discípulos de João Batista (Atos 19: 1-5), e ele rebateu a forte influência da magia em Éfeso (Atos 19: 11–20). Depois que Paulo partiu de Éfeso, Timóteo permaneceu para combater o falso ensino pregado ali.

Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, atravessando as regiões altas, chegou a Éfeso. Ali encontrou alguns discípulos e lhes perguntou: “Vocês receberam o Espírito Santo quando creram? ” Eles responderam: “Não, nem sequer ouvimos que existe o Espírito Santo”.
“Então, que batismo vocês receberam? “, perguntou Paulo. “O batismo de João”, responderam eles.
Disse Paulo: “O batismo de João foi um batismo de arrependimento. Ele dizia ao povo que cresse naquele que viria depois dele, isto é, em Jesus”.
Ouvindo isso, eles foram batizados no nome do Senhor Jesus.
Atos 19:1-5

Muitas tradições testemunham que o apóstolo João viveu em Éfeso no final do primeiro século. Em sua visão da ilha de Patmos, na costa da Ásia Menor, João descreveu a igreja de Éfeso como florescente, embora estivesse preocupado com falsos mestres e tenha perdido seu primeiro amor:

Ao anjo da igreja em Éfeso escreva: Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua mão direita e anda entre os sete candelabros de ouro.
Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos mas não são, e descobriu que eles eram impostores.
Você tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do meu nome, e não tem desfalecido.
Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor.
Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do seu lugar.
Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas dos nicolaítas, como eu também as odeio.
Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
Apocalipse 2:1-7

Pessoas e edificações notáveis de Éfeso

Biblioteca de Celso

A Biblioteca de Celso era um edifício antigo em Éfeso, construído em homenagem ao antigo senador romano Tibério Júlio Celso Polemeano, um cidadão local rico e popular. Celso pagou para a construção da biblioteca com a sua própria fortuna pessoal.

A biblioteca foi construída para armazenar 12 000 rolos manuscritos, e para servir como mausoléu para Celso, que está enterrado em um sarcófago debaixo da biblioteca, na entrada principal que tanto é uma cripta onde fica o sarcófago quanto um monumento sepulcral para ele. 

A fachada da Biblioteca de Celso - Foto: Jennifer Martin/ Unsplash
A fachada da Biblioteca de Celso – Foto: Jennifer Martin/ Unsplash

Não era comum que pessoas fossem enterradas dentro de uma biblioteca ou até mesmo dentro dos limites de uma cidade, de modo que esta foi uma homenagem especial a Celso.

O interior da biblioteca e todos os seus livros foram destruídos por um incêndio no devastador terremoto que atingiu a cidade em 262 d.C. Apenas a fachada sobreviveu.

Em cerca de 400 d.C, a biblioteca foi transformada em um santuário reservado para cerimônias, como casamentos. Mais tarde, provavelmente no final do período bizantino, a fachada da biblioteca foi completamente destruída por um terremoto.

Entre 1970 e 1978, uma campanha de restauração foi liderada pelo arqueólogo alemão Volker Michael Strocka. Apenas a fachada foi reconstruída, servindo como um excelente exemplo de arquitetura pública romana, mas o resto do edifício permanece em ruínas. 

Teatro de Éfeso

O grande teatro de Éfeso, e ao lado a estrada de mármore em direção ao porto da cidade, que hoje está submergido devido a erosão e assoreamento do rio. - Foto: Ben Chapman
O grande teatro de Éfeso, e ao lado a estrada de mármore em direção ao porto da cidade, que hoje está submergido devido a erosão e assoreamento do rio. – Foto: Ben Chapman

Com uma capacidade estimada de 25.000 lugares, o teatro de Éfeso é considerado o maior do mundo antigo. Foi construída pela primeira vez no período helenístico, no século III aC, durante o reinado de Lisímaco, mas depois, durante o período romano, foi ampliada e obteve o estilo atual que vemos hoje.

Contém cinco portas que se abrem para a área da orquestra, a do meio sendo mais larga do que as outras. Isso melhorou a aparência do palco, dando-lhe uma aparência maior e monumental.

O teatro de Éfeso era usado não apenas para concertos e peças, mas também para discussões religiosas, políticas e filosóficas e, durante o domínio romano, para lutas de gladiadores e animais. 

Heráclito de Éfeso

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Heráclito de Éfeso

Heráclito de Éfeso nasceu na cidade por volta de 540 a.C, ainda uma cidade grega. Assim como Tales de Mileto, acreditava na “Filosofia Unitarista”, na qual tudo estava fundamentado na unidade elementar. Para Heráclito, esse elemento era o fogo. 

Heráclito dizia que tudo o que existe está permanentemente em transformação ou mudança. Ele foi o criador do pensamento dialético, que propõe a busca da verdade a partir de dois conceitos opostos, estabelecendo uma relação de interdependência – por exemplo: a escuridão só existe porque existe a luz, seu oposto. Um não existe sem o outro.

As suas obras foram marcadas por iniciar um movimento de ruptura na filosofia pré-socrática, e é considerado um dos principais filósofos da Antiguidade.

 Éfeso na História

Éfeso permaneceu a cidade mais importante do Império Bizantino na Ásia depois de Constantinopla nos séculos V e VI, mas a elevação do nível do rio Caístro, que sempre ameaçou submergir a cidade, apesar de inúmeras drenagens (o imperador Flavius ​​Arcadius chegou a elevar o nível da estrada do teatro ao porto), impediu que Éfeso mantivesse sua importância por mais tempo. 

O porto foi lentamente assoreado pelo rio, e a perda do acesso ao Mar Egeu foi um baque fatal para a economia de Éfeso. As pessoas começaram a deixar as terras baixas da cidade pelas colinas circundantes. As ruínas dos templos foram usadas como blocos de construção para novas casas. Esculturas de mármore foram reduzidas a pó para fazer cal para o gesso usado nessas construções.

Os saques da cidade pelos árabes, primeiro no ano 654-655, pelo califa Muawiyah I, e mais tarde em 700 e 716, aceleraram ainda mais o declínio da cidade.

Quando os turcos conquistaram Éfeso em 1090, a antiga ‘capital’ romana da Ásia era uma pequena aldeia. Os bizantinos retomaram o controle em 1097 e mantiveram o controle da região até 1308. Os cruzados que passavam por lá se surpreendiam com o fato de Éfeso ser então apenas uma pequena aldeia, uma vez que esperavam uma cidade movimentada, populosa e com um grande porto marítimo. Até o templo de Ártemis foi completamente esquecido pela população local. 

Os efésios foram incorporados como vassalos ao Império Otomano pela primeira vez em 1390, e depois de uma breve agitação, novamente em 1425. Finalmente, Éfeso foi completamente abandonada no século 15. 

A cidade de Éfeso hoje

Éfeso hoje é lugar de ruínas e de expedições arqueológicas. As ruínas de Éfeso são uma das atrações turísticas locais e internacionais favoritas, talvez em parte porque são fáceis de acessar – há frequentes viagens de trem partindo de cidades com aeroporto próximas a Éfeso, e também de um porto de navios de cruzeiro a cerca de 30 km ao sul da cidade.

Turismo em Éfeso

A antiga cidade de Éfeso é uma das principais atrações turísticas da Turquia e costuma estar no topo da lista de atividades de todos os turistas do país. Seus deslumbrantes templos com colunas de mármore e ruas cercadas por colunas atraem os mais aficionados por história.

Éfeso fica nos limites da cidade de Selçuk, que há alguns anos é um ponto de parada para turistas e viajantes. Com um castelo, um museu, uma basílica bizantina e um aqueduto romano que atravessa o centro, a pequena cidade de Selçuk pode ser ofuscada pela ruína gigantesca de Éfeso, logo ao lado, mas tem muitos passeios para oferecer àqueles que optarem por passar alguns dias por lá.

Referências:

Nelson’s Illustrated Bible Dictionary – Ronald F. Youngblood, F. F. Bruce  e R. K. Harrison

Backgrounds of Early Christianity – William B. Eerdmans 

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Layon Lazaro
Layon é membro do Movimento Redenção e editor do portal redencao.co.Diácono, estudante de comunicação, cinema e literatura, paulistano e pai de dois meninos sapecas.email: layon@redencao.co