Como viver bem e ter menos ansiedade em um mundo acelerado

Quase tudo que já se escreveu e pensou em todos os anos desde a criação da humanidade está acessível pela internet. Características únicas da Internet, como informações atualizadas, sem limitação de tempo e local, simplicidade, baixo custo e anonimato dos usuários, já fazem parte da realidade dos países mais desenvolvidos. A Internet tornou-se uma necessidade do dia a dia, e não só contém um grande volume de informações, mas também mudou fundamentalmente os métodos de pesquisa dessas informações.

A internet permitiu que o ser humano pudesse ampliar suas formas de comunicação. No entanto, esse enorme avanço teve um custo: nossa mente está cada vez mais bombardeada por informações, notícias, sugestões, pensamentos, propagandas, ideias, provocações, curtidas, reações, etc… Não é à toa que o mundo está cada vez mais ansioso. O que podemos fazer diante dessa realidade digital e hiper acelerada?

Sociedades de informações

Vivemos em tempos de informações rápidas e constantes. Ao longo dos últimos dois séculos, a humanidade enfrentou novas mudanças nas formas de se relacionar na política, economia e cultura. Podemos dizer que grande parte dessas mudanças foram causadas pelas revoluções industriais. Atualmente, sabemos que passamos por três revoluções. A primeira na virada do o século XVIII para o XIX, a segunda na virada do XIX para o XX e a terceira no mesmo sentido, na virada do XX para o XXI. Conforme essas transformações ocorreram, nossos hábitos se tornaram mais consumistas, individualistas e estressantes.

Podemos afirmar que a última revolução acumulou os paradigmas impostos pelas duas anteriores. Assim, as principais características que configuram nossas relações político-econômicas são: industriais, financeiras e informacionais. Informação é a palavra chave da nossa atual situação. Toda a Economia está balanceada pelas informações. Por exemplo, se o presidente, ou outro político importante, faz uma afirmação pública negativa para o país, automaticamente as ações na Bolsa de valores caem e a cotação do dólar sobe. Da mesma forma, as notícias também influenciam indiretamente na produção e circulação de bens e serviços.

Só que informações não são apenas notícias. Tudo hoje em dia pode ser considerado uma informação. Somos informados o tempo inteiro de coisas que estão acontecendo, principalmente pela internet. A maior parte delas são completamente irrelevantes, outras figuram apenas como entretenimentos, como no caso dos memes. Vídeos, áudios, gifs, textos, opiniões; tudo é informação. Mas a parte ruim disso, é que essas informações não são simplesmente descartadas pelos organismos que as recebem, o cérebro acumula informações como um hardware acumula dados. Esse é o grande problema.

O cérebro recebe bilhões de informações por dia.
O cérebro recebe bilhões de informações por dia da internet.

O pensamento acelerado e a ansiedade

As informações acumuladas pelos nossos organismos intelectuais partem das nossas ações do dia-a-dia. Consumimos frequentemente novos dados, a cada minuto e a cada instante. O cérebro não fica parado diante dessas ações, ele reage, mas não da forma como gostaríamos. O psiquiatra Augusto Cury explica em seu livro, Ansiedade: Como enfrentar o Mal do Século, que existem mecanismos de administração desses dados, dispositivos inconscientes.

Cury argumenta que esses mecanismos entram em contato com as informações e acessam a nossa memória. Daí eles fazem uma rápida varredura no nosso “sistema” e fazem conexões com o que já possuímos guardado, para em seguida construírem novas percepções e acumularem mais dados. Na medida em que isso ocorre, os dados não são esquecidos, eles são depositados na memória superficial, até não serem usados novamente e ir parar na memória mais profunda.

O entrave que percorre essa dinâmica está situado nas tarefas realizadas pelos dispositivos inconscientes. Eles gastam muita energia para fazer isso tudo, gastam concentração e formulam um sistema carregado de dados na memória superficial até que você possa dormir e esfriar as coisas. Sim, essas informações ficam guardadas e prontas para serem utilizadas, porque o cérebro acredita que você logo fará isso. Por conta desse acúmulo imensurável, ficamos cansados, estressados, lentos e distraídos. É o que Cury chama de Síndrome do Pensamento Acelerado, uma das principais causas da ansiedade nas sociedades atuais.

Como ter menos ansiedade?

A ansiedade é um sintoma de múltiplas causas. Deve-se ficar claro que o diagnóstico de um psicólogo ou especialista é o essencial para assumir essa condição crônica. No entanto, a ansiedade é um fator de segurança do organismo, algo produzido para dar escape ao nosso funcionamento de sobrecargas. O grande problema é que a ansiedade exacerbada não é normal, é um distúrbio. Como dissemos, pode ter inúmeras causas, mas Augusto Cury aponta que essa em específico não é uma doença crônica, é uma disfunção, que pode ser tratada com mudança de hábitos.

Se existem dispositivos subconscientes em nossos cérebros, não podemos nos esquecer que temos acesso ao nosso processo de construção de pensamento. Podemos chamar esse acesso de Eu consciente. Muitas das coisas que pensamos não são resultados da nossa vontade, mas uma pequena parte é. Nós controlamos muitas ações, e esses são os momentos em que o Eu deixa a platéia e assume o palco do sistema intelectual. Quando o Eu deixa de ser um simples espectador, passamos a construir pensamentos conscientes, que podem ser melhores e mais saudáveis do que as informações acumuladas pelos demais mecanismos.

Reunimos algumas dicas do que você pode fazer para gerenciar sua construção de pensamentos.

1 – Consuma menos.

A principal causa dos pensamentos acelerados é o consumismo exacerbado. Muitas vezes não temos controle das coisas que consumimos, mas é preciso cultivar o hábito de saber selecionar essas direções. Em primeiro lugar, controle seus gastos, deixe de comprar produtos que não precisa. Estabeleça metas, ou quadros e cronogramas para comprar suas coisas.

Consumir não é apenas comprar coisas, hoje em dia é principalmente acessar a internet. Então reduza seu tempo nas redes sociais, estabeleça horários certos e não fique apenas nelas quando estiver na internet. Existem inúmeras coisas que podemos fazer, diversos sites com conteúdos importantes e úteis que precisam ser lidos. Notícias são importantes, mas não esqueça que precisamos de bagagem para interpretá-las. Navegue em redes que auxiliem nesse processo. É preciso selecionar o que lemos, e consumimos, pois há muitas coisas boas.

2 – Leia livros físicos

Se ler conteúdos online pode ser difícil e tentador, leia livros físicos. Afaste-se de seu celular e computador por algum momento do dia, e leia. A leitura é fundamental para desenvolvermos habilidades de raciocínio, compreensão e distanciamento dos eletrônicos. Além disso, com a leitura física o Eu costuma agir de modo mais central e operante no organismo, e dificilmente essa prática trará consequências ruins. Não devemos confundir o consumo de dados digitais e de informações úteis, quando pensamos sobre o que estamos consumindo o cérebro aprende e atua de forma saudável.

Frequentar biliotecas e livrarias é uma ótima forma de escapar das informações inúteis.
Frequentar biliotecas e livrarias é uma ótima forma de escapar das informações inúteis.

3 – Pratique exercícios físicos

É indispensável que pratiquemos exercícios. Eles contribuem para esvaziar o cérebro, ajudam nas operações de relaxamento do organismo. Os exercícios físicos são formas de cultivar uma vida saudável, e podem ser feitos em qualquer lugar. Se não há tempo ou dinheiro para ir à academia, pratique em casa, ou saia para caminhar. Faça isso pelo menos aos finais de semana, será de grande contribuição para se sentir menos cansado e estressado. Exercícios não são apenas questões de beleza, mas de saúde também.

4 – Duvide de seus preconceitos

Augusto Cury nos alerta que nossas crenças não são baseadas apenas em pensamentos conscientes. Na maior parte das vezes, são os mecanismos do subconsciente que criam julgamentos e preconceitos. Por isso, é fundamental que cultivemos a prática da dúvida constante, é uma operação de desconstrução dos dados acumulados. “Será que isso é realmente verdade?” “As coisas aconteceram mesmo assim?” “Será que as pessoas fizeram isso mesmo?” Não podemos ser egoístas e achar que estamos sempre certos. A dúvida é a ferramente principal da filosofia, e deve ser também da população em geral. Quando duvidamos das nossas crenças e práticas, aprendemos a encontrar novas maneiras de viver adequadamente.

Nossos encontros e amizades devem ser como as crianças fazem, com sinceridade e imaginação.
Nossos encontros e amizades devem ser como as crianças fazem, com sinceridade e imaginação.

5 – Faça encontros físicos e presenciais

Grande parte da nossa agenda é tomada por nosso isolamento. Atualmente vivemos em uma situação excepcional, que deve ser respeitada até a volta da normalidade. No entanto, sabemos que o isolamento é a principal causa do nosso direcionamento à internet. Quando estamos acompanhados dificilmente estaremos conectados na internet por motivos fúteis. A presença física de outras pessoas nos faz acumular energias e pensamentos saudáveis. Enquanto estivermos em isolamento, acredite a melhor opção é se conectar com as pessoas que estão no mesmo ambiente. Não hesite estar na presença deles, coma em conjunto, faça conversas presencias. Deixe seu quarto e cultive laços de amor e gratidão.

6 – Descanse mais

O descanso é fundamental para nossa vivência. Quando dormimos é o único momento em que não recebemos informações de fora, por isso o cérebro passa a organizar tudo que foi recebido ao longo do dia. Nesse processo de organização é que podemos sonhar com os dados que estão sendo circulados em nossa mente. (Confira a matéria sobre os sonhos). Dormir é essencial para que o organismo selecione as informações mais úteis e deposite as demais no fundo da memória. Por isso, temos que dormir pelos menos 8 horas por dia e não mais do que 11 horas. Dormir demais pode desenvolver outros processos prejudiciais, como a indisposição, doenças cardiovasculares, hipertensão, obesidade e diabetes.

Ter uma boa noite de sono é fundamental para regular os pensamentos.
Ter uma boa noite de sono é fundamental para regular os pensamentos.

7 – Consulte um especialista

Talvez seja o caso de consultar um especialista. Frequentar terapia é um processo que vem sendo desconstruído atualmente, não é a mais julgado pelas pessoas como ‘coisa de louco’. A psicoterapia é um tratamento, uma forma de cultivar hábitos saudáveis e devidamente amparado por bases científicas. Assim como cuidamos da nossa saúde física, é importante se atentar para nossa saúde emocional. Apenas um psicólogo ou um psiquiatra poderá fazer uma análise certificada e aplicável à sua especificidade. E não se esqueça que as pessoas com quem desabafamos não são especialistas no assunto, por isso é importante se consultar com as pessoas corretas.

8 – Fale com Deus

Fale com Deus sobre tudo. Diga a Deus o que você sente e precisa, não use a desculpa de que Ele já sabe. Claro, Ele já sabe, Ele é Deus. Na verdade, Ele sabe até mais do que você. Mas ainda assim, você se sentirá mais confortado ao falar com Ele.

No Salmo 31, Davi fala com o Senhor com lágrimas nos olhos. Ele sente como se seu corpo e sua alma estivessem murchando. Ele sente que a tristeza está encurtando seus anos. Sua força se foi. Como Davi, devemos ir a Deus mostrando todas as nossas emoções. Deus sabe sobre eles de qualquer maneira, então por que eu deveria tentar esconder algo dele?

Você também é convidado(a) para nossos encontros no auditório
da Av. Paulista 2200 - todos os domingo às 11h e às 19h.

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