Em Números 22, a Bíblia nos conta a história de um profeta que possuía um chamado e uma vocação de revelar a vontade e a presença de Deus no mundo – seu nome era Balaão.
Quem foi Balaão na Bíblia?
Balaão era um misto de profeta e bruxo conhecido por maldições e bênçãos eficazes. Foi-lhe dito: “Pois sei que quem você abençoa é abençoado, e quem você amaldiçoa é amaldiçoado” (Números 22:6).
Eram os dias em que Deus tirou os israelitas do Egito e os levou para Canaã, derrotando totalmente os antigos moradores daquela terra, os amorreus. Os moabitas eram uma nação vizinha dos amorreus, e ficaram assustados com a tomada de Canaã pelos israelitas:
Balaque, filho de Zipor, viu tudo o que Israel tinha feito aos amorreus, e Moabe teve muito medo do povo, porque era muita gente. Moabe teve pavor dos israelitas.
Números 22:2,3.
Então, o rei de Moabe, Balaque, tentou contratar o profeta Balaão para amaldiçoar os israelitas e assim garantir a vitória para o exército moabita.
Balaão decidiu perguntar a Deus se deveria ou não amaldiçoar os israelitas. Deus respondeu com uma negativa, e proibiu Balaão de ir com os homens até Moabe para amaldiçoar os israelitas, explicando:
Mas Deus disse a Balaão: “Não vá com eles. Você não poderá amaldiçoar este povo, porque é povo abençoado”.
Números 22:12
O rei moabita persistiu, no entanto, oferecendo ouro e presentes a Balaão, que decidiu perguntar de novo a Deus se poderia amaldiçoar Israel, esperando que Deus pudesse “mudar de ideia”. E quando Balaão perguntou a Deus pela segunda vez, Deus respondeu:
Naquela noite Deus veio a Balaão e lhe disse: “Visto que esses homens vieram chamá-lo, vá com eles, mas faça apenas o que eu lhe disser”.
Números 22:20
Deus já tinha dito à Balaão que não queria que ele amaldiçoasse o povo de Israel. Ao permitir que Balaão fosse com os homens de Balaque até Moabe, o Senhor dava uma “chance” a Balaão de decidir fazer o certo, a vontade dEle. Mas Balaão estava tomado pela ganância, como explica o apóstolo Pedro:
Eles abandonaram o caminho reto e se desviaram, seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o salário da injustiça,
mas em sua transgressão foi repreendido por uma jumenta, um animal mudo, que falou com voz humana e refreou a insensatez do profeta.
2 Pedro 2:15,16
Balaão estava interessado no ouro e nos presentes prometidos, o “salário da injustiça”, e de decide de fato ir até Moabe com os homens enviados por Balaque. E Deus, irado com isso, manda um anjo para matá-lo… não fosse Balaão salvo por uma jumenta!
A História de Balaão e a Jumenta
Balaão e os líderes moabitas foram para Moabe. Na estrada, a jumenta de Balaão viu um anjo do Senhor bloqueando seu caminho, e então a jumenta desviou da estrada para um campo.
Balaão bateu em sua jumenta para que ela voltasse à estrada. Quando o anjo bloqueou novamente o caminho, que era estreito por ter um muro de vinha de cada lado, a jumenta recuou-se contra o muro e esmagou o pé de Balaão, que então a golpeou novamente.
Finalmente, o anjo, que empunhava uma espada, bloqueou o caminho de tal forma que a jumenta simplesmente se deitou na estrada, o que irritou ainda mais Balaão. Quando ele feriu a jumenta, o Senhor abriu a boca da jumenta, e ela disse a Balaão:
“Que foi que eu lhe fiz, para você bater em mim três vezes? “
Balaão respondeu à jumenta: “Você me fez de tolo! Quem dera eu tivesse uma espada na mão; eu a mataria agora mesmo”.
Mas a jumenta disse a Balaão: “Não sou sua jumenta, que você sempre montou até o dia de hoje? Tenho eu o costume de fazer isso com você? ” “Não”, disse ele.
Então o Senhor abriu os olhos de Balaão, e ele viu o anjo do Senhor parado no caminho, empunhando a sua espada. Então Balaão inclinou-se e prostrou-se, rosto em terra.
E o anjo do Senhor lhe perguntou: “Por que você bateu três vezes em sua jumenta? Eu vim aqui para impedi-lo de prosseguir porque o seu caminho me desagrada.
A jumenta me viu e se afastou de mim por três vezes. Se ela não se afastasse a esta altura eu certamente o teria matado; mas a ela eu teria poupado”.
Números 22:28-33
Balaão imediatamente reconheceu seu pecado e se ofereceu para voltar (Números 22:34). Mas o anjo disse: “Vá com os homens, mas fale apenas a palavra que eu lhe disser” (Números 22:35).
Deus enviava Balaão ao rei dos moabitas com a função de profetizar somente o Ele lhe revelasse. Mas ele, tomando de ganância, escolheu seguir seu próprio caminho e provavelmente já havia escolhido o que profetizar e a maneira de abençoar os moabitas em sua batalha contra o povo de Israel. Deus então começou a mostrar seu trabalho criativo e educativo sobre a face da terra.
Existe algum animal mais teimoso do que um jumento, empacado diante de um córrego de água? Este era o animal que Balaão montava. E quando ia em seu caminho até os midianitas, Deus enviou Seu anjo com a espada desembainhada para opor-se a Balaão, e só não o matou porque a jumenta interrompeu a jornada à vista da tragédia que se lhe impunha. O anjo poupou a vida do profeta porque sua jumenta tinha mais visão do que ele, e permitiu ainda que ela começasse a lhe falar, para que ele voltasse a ver o anjo.
Balaão chega a Moabe
Sob essas circunstâncias preocupantes, Balaão chegou a Moabe. Balaão disse a Balaque:
“Aqui estou! “, respondeu Balaão. “Mas, seria eu capaz de dizer alguma coisa? Direi somente o que Deus puser em minha boca”.
Números 22:38
Apesar dessas palavras, das palavras da jumenta, das palavras do anjo e das palavras do próprio Deus, o ganancioso Balaão achava que poderia dar um jeito de amaldiçoar Israel com magia e adivinhações.
Por duas vezes Balaão tentou amaldiçoar os israelitas usando magia, mas Deus colocou bênção em sua boca para falar sobre o povo de Deus. Ele disse:
Como posso amaldiçoar a quem Deus não amaldiçoou? Como posso pronunciar ameaças quem o Senhor não quis ameaçar?
Números 23:8
Em sua segunda adivinhação, ele pronunciou:
“Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa. Acaso ele fala, e deixa de agir? Acaso promete, e deixa de cumprir?
Recebi uma ordem para abençoar; ele abençoou, e não o posso mudar.
Números 23:19,20
Finalmente, “quando Balaão viu que agradava ao Senhor abençoar Israel, não recorreu à magia como nas outras vezes, mas voltou o rosto para o deserto.” (Números 24:1). Em outras palavras, ele parou sua prática de magia e adivinhação e quando o fez, “o Espírito de Deus veio sobre ele” (Números 24:2). Com esta unção, Balaão falou uma bênção sobre Israel.
É claro que o rei moabita ficou furioso dizendo: “Eu te chamei para amaldiçoar meus inimigos, e eis que você os abençoou três vezes” (Números 24:10). Visto que Balaão não podia amaldiçoar os israelitas, ele se ofereceu para profetizar o futuro das nações ao redor de Israel. “Venha, eu lhe direi o que este povo fará ao seu povo nos últimos dias” (Números 24:14). Achando que agradaria o rei moabita, Balaão só o irritou ainda mais, porque a sua profecia foi enumerar como os israelitas derrotariam cada um dos reinos vizinhos. Incluído neste oráculo estava uma profecia messiânica:
Eu o vejo, mas não agora; eu o avisto, mas não de perto. Uma estrela surgirá de Jacó; um cetro se levantará de Israel. Ele esmagará as frontes de Moabe e o crânio de todos os descendentes de Sete.
Números 24:17
Números 24:25 registra: “Então Balaão se levantou e voltou para casa, e Balaque seguiu o seu caminho”. No entanto, mais tarde ficamos sabendo que Balaão aconselhou os moabitas sobre outras maneiras de tentar derrotar Israel: induzir os filhos de Israel à prostituição e à idolatria (veja mais sobre isso em nossa matéria sobre Jezabel).
Balaão sugeriu que as mulheres moabitas seduzissem os homens israelitas e os convencessem a deixar de adorar o único e verdadeiro Deus. Por este ato de rebelião, Deus enviou uma praga.
Moisés declarou que as mulheres moabitas,
“a conselho de Balaão, fizeram o povo de Israel agir traiçoeiramente contra o Senhor no incidente de Peor, e assim a praga veio entre a congregação do Senhor”
Números 31:16.
Apocalipse 2:14 explica ainda:
“No entanto, tenho contra você algumas coisas: você tem aí pessoas que se apegam aos ensinos de Balaão, que ensinou Balaque a armar ciladas contra os israelitas, induzindo-os a comer alimentos sacrificados a ídolos e a praticar imoralidade sexual.”
Depois, a nação de Israel travou guerra contra os moabitas e reivindicou a vitória. Como parte dessa vitória, “eles mataram também Balaão, filho de Beor, à espada” (Números 31:8). Assim Balaão e os moabitas deixaram de ser uma ameaça ao sucesso de Israel na Terra Prometida.
Qual é o significado da história de Balaão e a jumenta?
Balaão entendeu a soberania de Deus (Números 22:18), buscou o conselho de Deus e falou as mensagens de Deus, mas seu coração não estava dedicado aos propósitos de Deus. Ele “amava o salário da injustiça” (2 Pedro 2:15) e, portanto, estava disposto a se envolver em feitiçaria, magia e adivinhação por dinheiro, mesmo que contra Deus e o povo de Deus (Números 22:7).
Quando soube do plano de Deus para o sucesso de Israel, ele tentou de tudo para achar uma forma de “driblar” a vontade de Deus e de fato amaldiçoar Israel. Assim, ele será para sempre lembrado como um profeta perverso cuja “jumenta muda falou com voz humana e conteve a loucura do profeta” (2 Pedro 2:16).
Esta história é uma imagem do que Deus pode realizar. Imagem que constrói nossa compreensão do que seja relacionar-se com Deus, num mundo que não O compreende, nem deseja seguir seus caminhos. Deus usou o entendimento de um jumento ligado a seus instintos de sobrevivência, para revelar ao profeta que seus caminhos jamais deveriam ser escolhidos pelo prosaico e cotidiano – ele deveria entender o poder criativo, abençoador e renovador de um Deus que está trazendo a Sua salvação aos homens todos os dias. Se preciso for Ele fará que a coisa mais dura e insensível se dobre para nos ensinar que Ele é o Senhor do Universo, que lhe obedece o querer.
Poderia parecer ao leitor que se tratasse apenas de uma fábula ou talvez um pseudoconto. Talvez. Pois os contos e as fábulas são como os demais textos uma tessitura, uma costura de imagens e realidades que, antes de tudo, deixam o interior do autor para nos contar a sua estória. Assim, o que ele é, gera sua obra de algo que não é, trazendo a luz onde antes só moravam as trevas. Este é o trabalho de criação poética.
O ofício profético não é uma criação mítica, não se ocupa do fantástico e nem se constrói no campo da imaginação. Entretanto, o profeta desenvolveu sua missão aprendendo a edificar no campo do impossível, falando às pessoas o que era irreal e inimaginável aos olhos delas, porque o ofício profético compreende uma relação com Deus e Seu universo, universo que é regido pelas leis do milagre, do não-material e enfim dos sonhos que Ele cria e revela aos Seus filhos.
O profeta que vaticina a um povo próspero que seus caminhos são errados e que o procedimento nestas atitudes os levará a destruição, é tido como um lunático, porque suas palavras não têm compromisso com o visível, nem com o palpável – o que eles denominam de real.
Nós deveríamos ser um povo que aprendeu a entender os caminhos que Deus compõe como Sua obra contínua de criação e em execução no universo. Deveríamos entender o ofício profético como parte integrante desse trabalho criativo e revelador de Deus. No entanto, muitas vezes somos convencidos pelo que é visível e, portanto, provável e plausível para nós.
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