O cristianismo teve origem no primeiro século com as pregações de Jesus. Saiba como se deram os primeiros passos da Igreja fundada por Ele e quais foram os primeiros desafios para os cristãos. Veja também como se deu a separação entre cristianismo e judaísmo.
Uma Luz no universo judaico
Durante o domínio romano sobre a Palestina, o judaísmo era a religião predominante no local. Os judeus acreditam no Deus de Abraão, Isaque e Jacó, e seguem a Lei de Moisés, o Pentateuco (cinco primeiros livros da Bíblia). Eles se consideram o povo exclusivo de Deus, por meio das alianças que Ele fez com seus antepassados. Nesse sentido, os profetas do Antigo Testamento anunciaram que um novo líder nasceria para guiar os fiéis, e ele seria chamado de Messias, que quer dizer “o Ungido”.
Messias era o termo para designar os reis do Reino de Judá, antes da queda de Jerusalém na invasão do Império Babilônico em 586 a.C. Os profetas previram que um novo rei seria levantado e escolhido por Deus. O Novo Testamento explica que esse rei veio na pessoa de Jesus de Nazaré, chamado o Cristo, o mesmo que Messias, mas em grego. Porém, para esses autores bíblicos, Jesus não era apenas um rei terreno.
Os evangelistas escreveram sobre o ministério de Jesus para preservar seus ensinamentos e a verdade sobre Ele. Afirmam que o Cristo nasceu em Belém, como havia profetizado o profeta Miquéias.
Além disso, como havia previsto o profeta Isaías, Jesus nasceu de uma virgem, Maria, concebido sem pecado pelo Espírito Santo.
Os evangelhos ensinam que Jesus, ao contrário do que esperavam muitos judeus, não veio para ser um líder político sobre as nações, nem para libertar Israel de seu jugo romano. A Mensagem dos evangelhos era que Jesus havia instaurado o Reino de Deus, um estado de paz e justiça, para os que cumprirem seus ensinamentos. E os maiores deles era humildade, mansidão, amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Mas não era só isso. Jesus se colocava como o próprio Rei, o salvador de toda a humanidade. Ele libertou as pessoas da morte, da escravidão do pecado e da condenação. Por isso, era adorado entre os seus seguidores, e foi exaltado entre as nações durante séculos. E sabemos quem Ele é por suas próprias palavras. Ele disse: “Eu e o Pai somos Um” João 10:30, e quando Filipe lhe disse “Senhor mostra-nos o Pai, e isso nos basta” João 14:8, respondeu:
Cristianismo e judaísmo
O advento de Cristo representou uma nova época, uma era de graça, que significa favor imerecido. Antes dele, a Lei pesava sobre os fiéis, pois éramos vazios por dentro, com poucas ou nenhuma perspectiva de progresso. Mas Jesus fez tudo novo. Ele reverteu o erro de Adão, e por sua morte possibilitou que todas as pessoas fossem perdoadas por seus pecados. Com sua ressurreição, ele creditou a nós a sua irmandade, chamando-nos de irmãos e filhos de Deus.
Jesus cumpriu muitas profecias, realizou muitos milagres e sinais divinos. Tudo para que os seus contemporâneos acreditassem que ele era o próprio Deus Filho. Muitos, entretanto, não acreditaram. É por isso que os judeus esperam até hoje pelo messias, pois não acreditam em Jesus dessa forma. Mas muitos também creram nele.
Os evangelhos relatam que milhares de pessoas o seguiam e acreditavam em Cristo. Desses, havia um grupo de discípulos especiais, chamados de apóstolos. Jesus os ensinou sobre uma nova aliança, baseada no perdão e no amor. E cada vez mais seus seguidores começaram a entender que a comunidade criada por Ele constituía uma esfera à parte do judaísmo.
O véu foi rasgado
A religião judaica, baseada apenas no Antigo Testamento, segue principalmente a observância de princípios da Lei de Moisés. E para isso, seus adeptos costumam se reunir nas sinagogas aos sábados, dia de descanso e oração. Na época da vida de Jesus esses princípios ainda eram dominantes entre os cristãos, inclusive praticados pelo próprio Cristo.
É de grande importância que saibamos que Jesus era praticante do judaísmo, e que era um judeu. Ele forneceu a verdadeira interpretação da Lei e dos Profetas, pois revelou que seu sacrifício era necessário para que fôssemos salvos, além de garantir que através do Evangelho, sua mensagem, teremos parte no Reino de Deus.
Os judeus do primeiro século acreditavam que o Templo de Jerusalém era a morada fixa de Deus. Assim, faziam peregrinações constantes para a cidade, a fim de oferecer sacrifícios e oferendas. Lá também era o local onde o sumo sacerdote realizava a expiação dos pecados do povo de Israel, uma vez por ano, em uma área onde somente ele podia entrar.
Ali, havia um grande véu, uma grande cortina que separava o lugar onde estava o Espírito divino, o Santo dos Santos. Com a morte e ressurreição de Cristo, o Novo Testamento afirma que esse véu, que separava os humanos de Deus, foi rasgado. Assim, o Espírito Santo passou habitar em todos os fiéis, confirmando a nova aliança de Jesus.
Estêvão, o primeiro mártir.
Entre centenas de seguidores, Jesus escolheu um pequeno número de pessoas para seguí-lo o tempo todo, para que fossem transformados integralmente por sua missão. Eles foram chamados de apóstolos, que quer dizer enviados. Ao longo de três anos de pregações, Jesus conquistou uma forte popularidade na Judeia e Galileia, as províncias romanas da Palestina. Ele sabia que estava chegando a hora de ser preso, por isso se fixou em Jerusalém até ser traído e condenado.
Depois de sua ressurreição, Jesus enviou seus apóstolos para pregar o Evangelho. Suas principais ações foram relatadas pelo Atos dos Apóstolos, livro escrito por Lucas para narrar os primeiros passos da Igreja Cristã. Porém, antes de ser batizados pelo Espírito Santo, os seguidores de Jesus estavam desconfiados de suas capacidades, pensando não ter a mesma fé e coragem de seu mestre.
Mas não era o caso de Estêvão, um judeu convertido logo após a ascensão de Cristo aos céus. Ele insistia que a Lei e o Templo eram instituições temporais, mas que o Messias era eterno e garantia a justiça divina para todos, não apenas judeus. E a prova definitiva disso era que Jesus tinha ressuscitado dentre os mortos.
No entanto, defender essas questões eram perigosas demais para os primeiros cristãos, pois os sacerdotes do Templo e da elite de Jerusalém não aceitavam que o Messias pudesse vir de Nazaré, na Galileia. Por isso, capturaram Estêvão e o apedrejaram até a morte, porque ele defendia publicamente o ministério de Cristo.
Pentecostes
Na sua última aparição aos discípulos, Jesus ordenou que eles aguardassem em Jerusalém, porque seriam renovados pelo Consolador. O Atos dos Apóstolos revela que 120 discípulos se reuniram na cidade, quando o Espírito Santo desceu sobre os presentes, permitindo que falassem em línguas estrangeiras. Esse evento ficou conhecido como Pentecostes. Eles foram reavivados pela presença de Deus, mesmo após um longo período de espera. Perderam o medo da perseguição e estavam dispostos a arriscar tudo pelo Evangelho. Tinham sido transformados pela fé.
O apóstolo Pedro foi o discípulo que mais perdeu a esperança depois de ter negado Jesus, mas não perdeu a fé. Quando o Espírito Santo desceu sobre eles, foi o primeiro a se erguer e discursar publicamente em Jerusalém. Pedro tomou a liderança, alegando que Jesus era o verdadeiro messias prometido pelo Antigo Testamento. E os demais seguiram seus passos.
Deus ressuscitou Jesus e todos nós somos testemunhas deste fato.
Atos 2:32.
Esse evento foi um marco definitivo para os apóstolos. A partir de então eles começaram a se organizar e a pregar com veemência os ensinamentos de Cristo. Diante disso, as autoridades judaicas e romanas se sentiram ameaçadas, e passaram a perseguir os seguidores de Jesus abertamente. Também se identificaram com o termo assembleia de Israel, que no grego o paralelo é eclésia, traduzido para Igreja. O cristianismo se tornou rapidamente um movimento proibido, principalmente por sua pretensão universalista de integrar todas as pessoas.
O apóstolo Paulo
Um dos perseguidores judeus mais famoso foi Saulo de Tarso. Nascido na região da atual Turquia, ele se mudou cedo para Jerusalém e passou a atuar em favor dos líderes religiosos da cidade, perseguindo os cristãos. Ele era um judeu helenista, pois estava integrado na cultura greco-romana. Ao presenciar a morte e a confissão de fé de Estêvão, Saulo se sentiu perturbado. No caminho para Damasco, teve uma visão de Jesus, segundo conta Lucas:
No caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente um resplendor de luz do céu o cercou. E caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.
Atos 9:3-5
Por conta da visão, Saulo ficou cego temporariamente e seguiu a ordem de Jesus para entrar na cidade. Daí então encontrou com Ananias, um servo do Senhor, que o curou. Saulo ficou tão impressionado com o poder de Jesus que decidiu seguí-lo, e de perseguidor se tornou ele próprio um missionário cristão. No meio greco-romano, Saulo passou a ser conhecido como Paulo.
As pregações de Paulo ficaram grafadas em suas cartas dirigidas às comunidades que ele fundou em suas missões. Essas igrejas foram construídas em torno de um ideal judaico, mas agora plenamente renovador, porque o núcleo da fé era os ensinamentos de Jesus. Dessa forma, os gentios (não-judeus) foram incluídos nas assembleias, e logo milhares de pagãos se converteram ao cristianismo por conta das promessas e das boas-novas de Cristo para os pobres. Paulo escreveu 13 cartas, que estão no Novo Testamento da Bíblia.
As igrejas no primeiro século
As igrejas inicialmente representavam as assembleias de cristãos que se reuniam em nome de Cristo. Com o tempo, os locais de encontro passaram a ser chamados de igrejas também. Foi no decorrer dos três primeiros séculos, com a longa expansão do cristianismo, que criou-se a ideia de uma igreja universal, que compunha os fiéis.
Mas essa referência já podia ser encontrada nos textos bíblicos, a Igreja representa o Corpo de Cristo, uma unidade formada pelos cristãos. Do mesmo modo, o autor do livro do Apocalipse chama a Igreja de Noiva de Cristo, que espera ansiosamente por seu casamento com Jesus, na consumação dos séculos.
Os cristãos costumavam se reunir em grutas e cavernas, para se esconder das autoridades. O cristianismo foi uma religião proibida no Império Romano até o ano 313, quando o imperador Constantino se converteu. Antes disso, o principal motivo para a perseguição dos cristãos por parte dos romanos era que eles não cultuavam o imperador e tinham a pretensão de converter todas as pessoas, diferentemente dos judeus comuns. Já as autoridades judaicas condenavam os cristãos por blasfêmia e também por motivos políticos, porque os cristãos se negavam a aceitar a sujeição aos seus ideais.
As igrejas também eram formadas em praças e locais públicos, nas regiões que eram mais seguras. Assim, era comum que as pequenas cidades formassem apenas uma única igreja. As cidades, com o tempo, passaram a se misturar publicamente com a própria comunidade em si. Nesse aspecto, as igrejas se constituíram pelo próprio nome da cidade.
As maiores e mais influentes começaram a liderar as debates litúrgicos e eclesiásticos. As maiores foram: Roma, Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Constantinopla. Juntas, elas formavam a pentarquia da Igreja. As quatro últimas se separaram de Roma no Grande Cisma em 1054, dando origem a duas igrejas católicas distintas. A primeira, Igreja Católica Romana, no Ocidente; e a outra, Igreja Católica Ortodoxa, no Oriente.
Ainda assim, as igrejas ao redor do mar Mediterrâneo mantiveram muita pluralidade de ritos e cultos, até mesmo durante a Idade Média. Porém, essas cinco grandes igrejas tinham o poder de influenciar bastante as demais. Não temos como saber exatamente como eram as práticas específicas de cada igreja, mas podemos dizer que os bispos de cada uma possuíam autoridade sobre a igreja. Era a própria comunidade que escolhia o sucessor do bispo quando este morresse. Isso nos leva a desmontar a ideia de unicidade institucional, já que cada igreja tinha uma organização e liturgia próprias.
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