Todo leitor, experiente ou não, já se deparou com um livro difícil de compreender. Confira 5 técnicas que irão te ajudar a ler e interpretar as mais diferentes obras!
O Brasil não é um país com um expressivo número de leitores. Segundo a última pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizado pelo Instituto Pró-Livro, a média anual de livros por habitante era de 4,96. Mas esse número fica menor quando considera-se os livros lidos do início ao fim, atingindo 2,88 livros por habitante. É possível entender este dado por completo analisando a situação da França, que não é nação que mais lê no mundo, e a parte de sua população que se declara leitora chega a ler mais de 20 livros por ano. A situação fica ainda pior quando pensamos na dificuldade da leitura de livros mais clássicos.
A literatura é um bem cultural que contribui para o aumento de repertório e o desenvolvimento de muitas habilidades: interpretação, sensibilidade, concentração, conhecimento cognitivo e linguístico, e imaginação. Dessa forma, a leitura nos apresenta diversos universos, sejam eles fictícios ou reais.
O país que se destaca nos hábitos de leitura é a Índia: desde 2005 os indianos ocupam a liderança dos que mais se dedicam às horas folheando páginas. Chegam a passar mais de dez horas lendo por semana. Graças também a esses números, o país tem destaque na área da educação e nas universidades.
Dentro da população brasileira, encontra-se o maior número de leitores dentre os adolescentes. Apesar disso, a professora de Gramática e Literatura, Karin Grava Simioni, declara que não identifica muitos estímulos para esses jovens alunos das escolas brasileiras: “Conheço vários alunos que afirmam ler, pelo menos, 3 a 4 livros por mês, mas a maioria deles somente passa os olhos. Confesso que muitos livros solicitados pelas escolas são de difícil compreensão, pois foram escritos em um português mais rebuscado. Isso faz com que os alunos não se sintam atraídos pelos clássicos”.
Não vejo estímulo a leitura dentro das escolas, não da maneira tradicional. Normalmente, a escola oferece o livro ao aluno que se vê obrigado a ler para uma avaliação. Ele acaba buscando o resumo na internet ou pedindo para que algum colega conte a história do livro.
Professora de Gramática e Literatura, Karin Grava Simioni
O problema surge exatamente no local que Karin identifica. Quando devido ao assunto, às palavras rebuscadas e o uso que se faz delas, ou ainda ao grande número de detalhes e personagens presentes no enredo, o processo de leitura se torna dificultoso. Um exemplo disso é a própria Bíblia Sagrada, que por ter um vocabulário antigo e envolver um grande número de pessoas, é considerada um livro de alta complexidade
Mesmo com toda a dificuldade do contexto ou da própria narrativa de certos livros, há leituras difíceis que são necessárias e ao final das contas, ou melhor, páginas, devemos encará-los. “A leitura de clássicos é solicitada pela escola ou pelo vestibular para que o aluno compreenda que o conteúdo de cada livro trata-se de um documento e um relato de uma sociedade em um determinado tempo histórico“, declara Karin.
Vidas Secas, de Graciliano Ramos, trata de uma família de retirantes no sertão nordestino. A situação da seca na região mudou desde quando a obra foi escrita? Certamente não. Com a leitura e compreensão deste texto, o aluno poderá perceber, de maneira crítica, os problemas sociais no Brasil de ontem e hoje. Se nada mudou, como o jovem, que é o futuro do país, poderá atuar de forma a resolver tais problemas?
Professora de Gramática e Literatura, Karin Grava Simioni
Então, mesmo com as dificuldades de cada leitura, quando há o desejo ou a necessidade de ler um livro, não importa o quão difícil ele seja, deve ser terminado. Essa persistência na leitura pode te ensinar muito e te beneficiar com uma ótima história ao final. Veja algumas técnicas que vão ser úteis e ajudar na superação dessas dificuldades.
Dicas para ler livros difíceis
1. Comece por leituras menos complexas
Pode parecer bobo sugerir leituras mais simples quando o objetivo é a compreensão de livros difíceis. Mas a verdade é que quando um atleta de corrida deseja percorrer uma maratona de 40 quilômetros, ele deve começar a treinar em circuitos menores, de dez quilômetros por exemplo, e as poucos ir progredindo.
Após adquirir o hábito da leitura, aí sim começar com as leituras mais complexas, procurando no dicionário e anotando possíveis vocábulos não compreendidos. Após isso, a leitura e compreensão tornam-se fluentes.
Professora de Gramática e Literatura, Karin Grava Simioni
2. Faça uma análise prévia e se informe sobre o livro
Para um boa interpretação de um texto, é fundamental que o contexto da história seja entendido. Então, realizar uma leitura preliminar e histórico-crítica desses livros mais complicados é um bom ponto de partida. Além de pesquisar sobre o seu contexto e se informar sobre o autor, observe as informações da capa e da contracapa, leia as orelhas e analise o índice, afinal, as informações não estão só dentro das páginas.
Com isso, você adquirirá uma visão geral sobre a obra e compreenderá melhor suas informações específicas, o que facilitará o entendimento da história.
3. Encontre um local que seja ideal para ler
A leitura é uma ferramenta que ensina diversas áreas, inclusive sobre exercitar a paciência. O processo de leitura é algo que não pode ser feito em qualquer lugar, ainda mais se tratando de um livro difícil. É importante buscar um lugar confortável, silencioso e que permita a concentração completa. Para a professora Karin, a leitura é mais precisa quando se para em algum lugar para ler.
De acordo com a psicopedagoga e orientadora pedagógica do Colégio Santa Marcelina, Carlota Cristina, “para ler livros considerados complexos, você precisa olhar para si, eles requerem maior atenção e foco. Por isso, pequenos detalhes como ter conforto, ser um local arejado e com boa iluminação são essenciais. As informações que virão requerem concentração e habilidades cognitivas, se você está em um lugar com distrações, barulhos e música, a capacidade de concentração é muito baixa”.
4. Leia com um dicionário ao lado
Muitos problemas envolvendo leituras consideradas difíceis se dão em razão do vocabulário e da presença de palavras desconhecidas pelo leitor. A solução disso é uma só: o dicionário. É muito importante o uso deste livro de significados dos vocábulos e não das ferramentas de pesquisa da internet, pois nos ensina a procurar, pesquisar e fixar a palavra que agora é conhecida.
Se tiver dúvida, não hesite em pesquisar e não continue a leitura se não conseguir entender. Muitas vezes o significado de uma palavra é determinante no contexto e é essencial para compreender o que vem a seguir.
5. Use a ajuda de recursos externos
Crie artifícios que te ajudem e facilitem a sua leitura. Para isso, você pode usar post-its de diferentes cores, que organizarão sua leitura e poderão conter pequenas anotações sobre a página lida. Outra opção é sublinhar partes do livro, caso ele seja seu, o que destacará as partes mais importantes da obra e também as mais difíceis e que precisam de revisão. Outro método que pode ser eficiente para melhor compreensão das suas leituras é anotar o que entendeu da história em um caderno. Assim, toda vez que retomar a leitura, saberá exatamente o que estava acontecendo quando parou.
Também é possível usar livros que te ajudam a “ler” melhor. Ler para aprender a ler? Como assim? É isso mesmo! Alguns livros realizam um direcionamento de como compreender uma obra, os vários níveis de leitura existentes e como fazer para atingi-los. Alguns exemplos são: Como Educar Sua Mente. O Guia Para Ler e Entender os Grandes Autores, de Susan Wise Bauer; A Arte da Leitura. Diálogos Sobre Livros, de Mortimer J. Adler e Charles Van Doren; e o mais importante e conhecido deles Como Ler Livros, de Mortimer Adler
6. Ler em conjunto
Para a professora Karin, as escolas deveriam oferecer oficinas de interpretação textual dos livros e clubes do livro. Segundo ela, ler em grupo é muito mais interessante. As dúvidas são sanadas e o aluno se interessa muito mais pelo enredo.
Eu costumo ler o livro junto com os alunos em sala. Leio alguns trechos e interpreto como se fosse os personagens falando. Eles amam, porque começam a compreender o que está escrito. Engrenam na leitura e se divertem até o fim do livro. Faça gincanas, desafios sobre o enredo. É bastante divertido!
Professora de Gramática e Literatura, Karin Grava Simioni
Todas essas dicas, principalmente a leitura em conjunto, funcionam em todos os livros mais complexos que você pode se dispor a ler, desde os clássicos da Língua Portuguesa até o livro mais lido no mundo, apesar de sua dificuldade, a Bíblia Sagrada. Esta obra histórica, que reúne histórias sobre o Amor de Deus foi o primeiro livro impresso no mundo e tem muita carga histórica, social e cultural de diversos povos e civilizações. Não tenha receio de sugerir grupos de estudo ou reuniões para compartilhar o que entendeu, isso contribui muito para o aprendizado.
Ler e estudar a Bíblia é uma ótima ideia para colocar em prática todas as dicas que foram faladas. Se você tem interesse em ler a Bíblia, escolha uma versão mais atualizada e com linguagem menos rebuscada. Isso facilitará muito o entendimento do que se lê.
De fato, há livros complicados na Bíblia até para quem tem o hábito de leitura há muitos anos, por isso, há livros específicos, menos complicados que seriam ótimos inícios. Por exemplo, os Evangelhos (que contam a história da vida e Obra de Jesus Cristo), são eles: Mateus, Marcos, Lucas e João. Todos podem ser encontrados no Novo Testamento. E o livro de Atos dos Apóstolos também é uma opção para quem quer saber como a história prosseguiu depois da ressurreição de Jesus.
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Por Maria Carvalho de Almeida Cunha e Duda Blumer
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