Existe hoje um conflito entre a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento econômico e social. A ideia de que esses conceitos são opostos não circula exclusivamente no Brasil: é uma corrente que está manifestando-se intensamente em diferentes sociedades por todo o mundo. De maneira geral, é possível dizer que está havendo um renascimento daquele nacionalismo muito comum no começo da Idade Moderna.
Nacionalismo e meio ambiente
O conceito de que “o meu país deve ser o meu objetivo de vida” está ressurgindo como uma filosofia de valorização dos países. Você pode enxergar o fato como algo extremamente positivo, mas é preciso destacar um fator importante: todo nacionalismo exacerbado é uma espécie de radicalização, extremamente danosa para a própria nação e para o mundo.
Algumas tendências de nacionalismo exacerbado foram as forças que alimentaram os impérios e as grandes guerras mundiais. Diversas nações ao longo da História incentivaram suas populações com a crença de que a soberania precisava ser estabelecida pela honra e bem-estar do povo – por exemplo, podemos citar como a supremacia ariana foi defendida. O fomento dessas ideias não encontrou limites e não abordou quais valores deveriam ser abandonados para defesa de interesses individuais e coletivos. Sob o pretexto da defesa da sociedade de um país, outros locais foram invadidos e muita gente morreu em prol do orgulho nacional.
Seguindo tendências de supremacia nacional, as nações valorizaram sua pátria acima de tudo, acima do mundo inteiro, acima de valores, inclusive, que são fundamentais para existência do ser humano. Esse é um primeiro cenário sobre o qual precisamos refletir: “Para defender os cidadãos de meu país e nosso interesse econômico eu posso destruir todos os recursos naturais sobre os quais eu tenho controle?”
O segundo cenário sobre o qual temos que refletir é: meio ambiente e desenvolvimento econômico. É notória uma tendência em achar que o desenvolvimento da economia seja igual à transformação do meio ambiente. Entrar com o maquinário para executar os interesses econômicos de determinada pessoa ou grupo, cortar as árvores e executar uma profunda mudança da vida da fauna e da flora, para que o ser humano possa desenvolver-se economicamente não é a melhor opção. A visão de que seja necessária a transformação do planeta para que o homem progrida é muito antiquada e refere-se ao tempo da Revolução Industrial, quando existia um excesso de consumo dos bens naturais, com extrações extremamente danosas às pessoas e ao meio ambiente. É absurdo acreditar que pra produzir bens de consumo, precisemos eliminar a coexistência entre a natureza e homem. Acreditar nesse conceito é defender que não existe nenhum progresso humano sem que haja uma destruição do ambiente que nos cerca.
Baseado nessa perspectiva, somos conduzidos a algo que tem sido muito questionado em nossos dias: o aquecimento global. As pessoas costumam dividir-se em linhas de pensamento. Uma delas é a de preservar o meio ambiente acima de qualquer coisa, sendo que essa é a sua prioridade absoluta para o futuro, ideais que são lógicos e racionais: se você não preservar onde vive, suas escolhas vão transformar a realidade de todo o planeta em sua essência. Como consequência, existe uma crise de subsistência, tanto do ser humano, quanto do planeta. Então surge o questionamento: existem maneiras para um desenvolvimento sustentável? Uma primeira possibilidade é que as fontes de energia baseadas em carbono precisarão ser substituídas por fontes renováveis. Em muitos lugares do mundo isso já tem sido feito, inclusive no Brasil, com a energia eólica desenvolvida especialmente no nordeste do país.
Mas qual o papel do cristão no cuidado com o meio ambiente?
Finalmente chegamos a um lado específico de toda a questão: Qual é o papel da fé em relação ao universo que foi criado por Deus? Como a relação que estabeleço com Deus e comigo próprio me ensinam sobre o meio ambiente? Um fato muito importante a ser ressaltado é o de que os céus proclamam a Glória de Deus. De acordo com Immanuel Kant, o belo e o sublime que podem ser extraídos de nossa contemplação da natureza. E a natureza é obra de Deus, ou seja uma obra criadora realizada por Deus. Segundo ele, o sublime é aquilo que causa espanto, admiração e até mesmo o medo, pois é grandioso, diferente e assustador, presente em cada indivíduo quando este se depara com as coisas da natureza que o perturbam. Já o belo é tudo aquilo que se encontra num objeto, numa obra de arte.
“ Que prova perfeitamente que o sublime não está no objeto, mas unicamente no espírito daquele que julga” (JIMENEZ, 1999, p. 137).
Deus é o Criador de tudo que é belo. Quando o homem faz uma obra de arte, ele é capaz de reproduzir o belo que foi criado por Deus, seja em forma, cor, desenhos ou outro tipo de criação. Uma vez que, em última instância, o homem é também obra especial do Criador, forjado por suas mãos. Tudo veio dEle e retornará a Ele.
A observação da natureza coloca-nos em contato com a glória de Deus, o sublime e o belo cativam a nossa atenção, porque nos aproximam da revelação de nosso Criador. Por outro lado, um aspecto vital pra quem se considera uma pessoa seguidora de Deus é a disposição em viver uma vida cheia de bondade com todas as pessoas e criaturas. A bondade é a perfeição divina que se manifesta no seu relacionamento com cada uma das criaturas. Dessa forma, concluímos também que maltratar ou mostrar-se indiferente ao sofrimento de seres irracionais não é, de forma alguma, uma atitude que deva ser esperada de alguém que respeita a Deus. Uma vez que destruímos uma parte de um bioma, isso poderá comprometer inteiramente todo um ecossistema, que por sua vez cooperará com a destruição do planeta.
É só uma questão política?
Por fim, não podemos ter uma visão circunstancial desses fatos e transformá-los em uma discussão de partido político, ou somente colocar a responsabilidade em governadores, prefeitos, presidente da República, senadores, deputados ou vereadores. Essa não é uma maneira racional e lúcida para resolver o tema. O planeta Terra precisa ser avaliado sob a perspectiva de que a presença de Deus é visível em todas as coisas criadas. O homem recebeu como uma de suas primeiras missões de vida cuidar do jardim cheio onde Deus o convidou para estar. Precisamos encher a nossa casa, a Terra, da bondade de Deus que vive em nós.
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