Poucas civilizações evocam tanto fascínio como o antigo Egito, terra de pirâmides, deuses zoomórficos e rituais mágicos à beira do Nilo. O delta e o vale do rio Nilo foram o lar do povo do Egito desde 4000 a.C, o que o torna o reino mais antigo de que se tem registro na Bíblia.
Berço de uma das culturas mais antigas da humanidade, o Egito é retratado em diversas passagens bíblicas, de Gênesis a Daniel.
Situado no nordeste da África, o Antigo Egito consistia em duas regiões distintas. Ao norte o Delta do Nilo, um delta fértil banhado pelas águas do rio e conhecido na Bíblia como Mazor ou “terra fortificada”(Is 19.6; 37.25). Mais ao sul encontrava-se o Alto Egito, entre o Cairo e a Primeira Catarata, chamado de Pa-tros (“terra do sul”).
O grande rio Nilo sempre foi a vida do Egito. Anualmente, durante a estação das cheias, o rio transbordava, irrigando as terras áridas com água e nutrientes. Graças a isso, os egípcios podiam cultivar trigo, cevada, linho e outros alimentos. Mas anos de secas prolongadas ocasionalmente traziam fome (Gn 41:1-3).
Além de berço da civilização, o Egito era celebrado por sua fertilidade (Gn 13:10), fortuna (Hb 11:26), literatura (1Rs 4:30), belos cavalos (1Rs 10:28-29) e finas vestimentas (Pv 7:16). Seu comércio florescente é mencionado em Gênesis 41:57 e Ezequiel 27:7.
Sociedade e religião
A religião egípcia era marcada pela idolatria e culto a divindades pagãs, práticas que desagradavam ao Deus de Israel, e sua religião mesclava panteísmo, culto a divindades híbridas como Ísis e adoração a animais (Êx 12:12; Nm 33:4; Is 19:1; Ez 29:7). Por vezes, o próprio povo de Israel se deixou seduzir por tais idolatrias (Dt 32:4; Ez 20:8,19).
A classe sacerdotal egípcia exercia grande influência através da medicina, de rituais mágicos e encantamentos (Êx 7:11,12,22; 8:7).
O Egito era governado por poderosos faraós, que assumiam o nome real ao subir ao trono (Gn 12:14,15; 40:1,2). Havia também governadores provinciais (Gn 41:41-44), príncipes e conselheiros que auxiliavam na administração do reino (Gn 47:6; Is 19:11).
Os egípcios eram conhecidos por sua hospitalidade com estrangeiros (Gn 43:32-34) e por seus métodos elaborados de embalsamamento funerário (Gn 50:3).
O Egito como Potência na BÍblia
O Egito aparece ora como refúgio providencial, ora como império arrogante. José encontrou abrigo lá (Gn 45:18), assim como o menino Jesus (Mt 2:13). Mas o êxodo revela a face opressora dos faraós que escravizavam os hebreus (Êx 13:3). Jeremias e outros profetas denunciaram a ambição egípcia (Jr 46:8). Ainda assim, essa nação cumpriu os propósitos divinos.
O que a Bíblia fala sobre o Egito
Aqui estão algumas caracterizações do Egito na Bíblia:
- Orgulhoso e arrogante: O profeta Ezequiel repreendeu a arrogância do Egito, que se considerava superior e auto-suficiente, dizendo “Eu fiz de mim mesmo” (Ez 29:3; 30:6).
- Pomposo: Ezequiel também descreve o Egito como pomposo e vaidoso em sua glória e esplendor, que seriam destruídos (Ez 32:12).
- Poderoso: Isaías alerta Judá para não buscar ajuda no poderoso Egito, confiando apenas em Deus (Is 30:2-3).
- Ambicioso para conquista: Jeremias condena a ambição expansionista e imperialista do Egito (Jr 46:8).
- Ameaçador: Na crise entre Assíria e Judá, o Egito ameaçou e intimidou os judeus se não se aliassem a eles (Is 36:6; 29:6-7).
Em resumo, o Egito é retratado como uma nação poderosa, mas ao mesmo tempo arrogante, que não deveria ser temida ou idolatrada pelo povo de Deus.
Exército egípcio
Aqui estão algumas informações bíblicas sobre os exércitos do Egito:
- Foram descritos como incluindo 600 carros escolhidos, cavaleiros e todo o exército do faraó (Êx 14:7-9).
- Foram destruídos por Deus no Mar Vermelho ao perseguir os hebreus na saída do Egito (Êx 14:21-28).
- Conquistaram e incendiaram a cidade de Gezer durante o reinado de Salomão (1Rs 9:16).
- Sitiaram e saquearam Jerusalém no tempo do rei Roboão de Judá (1Rs 14:25-26).
- Invadiram a Assíria e mataram o rei Josias de Judá quando ele foi ao encontro do Faraó Neco (2Rs 23:29).
- Depuseram o rei Joacaz e fizeram Judá pagar pesado tributo (2Rs 23:31-35).
- Judá buscou assistência militar do Egito em alguns momentos (Ez 17:15; Jr 37:5,7).
Nomes do Egito na Bíblia
Aqui estão os nomes pelos quais o Egito era conhecido na Bíblia:
- Terra de Cam – Referência a Cam, filho de Noé, ancestre epônimo dos egípcios (Sl 105:23; 106:22)
- O Sul – Indicação de sua localização geográfica ao sul de Canaã (Jr 13:19; Dn 11:14,25)
- Sicor – Transliteração do nome egípcio skr, que significa “muro, fortificação” (Is 23:3)
- Raabe – Provável referência a um monstro mitológico egípcio simbolizando o caos (Sl 87:4; 89:10)
- Casa da servidão – Alusão ao cativeiro dos hebreus no Egito (Êx 13:3,14; Dt 7:8)
Esses nomes bíblicos refletem conexões étnicas, geográficas e históricas do Egito com Israel, bem como imagens poéticas para representar esse importante vizinho.
Características do povo egípcio
O povo egípcio tinha diversas características marcantes. Eram conhecidos por sua natureza supersticiosa e crédulos em presságios (Is 19:3). Ao mesmo tempo, mostravam hospitalidade com os estrangeiros que buscavam refúgio em seu país (Gn 47:5-6; 1Rs 11:18).
Costumavam se casar com pessoas de fora do Egito, incluindo hebreus (Gn 21:21; 1Rs 3:1; 11:19; 1Cr 2:34-35). Porém, nutriam desprezo pelos pastores nômades e seu modo de vida (Gn 46:34). Também detestavam o sacrifício de bois, animal sagrado em sua religião (Êx 8:26). Essas particularidades culturais às vezes geravam atritos com outros povos.
O povo de Israel no Egito
A presença de Israel no Egito foi marcada por altos e baixos. De início, José foi vendido como escravo e levado para o Egito (Gn 37:28). Lá, interpretou os sonhos do faraó e se tornou governador (Gn 41:41-44), trazendo seus irmãos e pai Jacó para viver em paz em Gósen (Gn 47:11,27).
Após a morte de José, um novo faraó subiu ao poder e escravizou os hebreus (Êx 1:8). Moisés nasceu neste período e foi adotado pela filha do faraó (Êx 2:5-10), mas acabou fugindo após matar um egípcio (Êx 2:15). Anos depois, voltou para libertar seu povo, realizando sinais miraculosos (Êx 7:10).
O Egito sofreu 10 pragas terríveis por causa da obstinação do faraó (Êx 7:14-10:29). Na Páscoa, os primogênitos egípcios foram mortos (Êx 12:29-30) e os hebreus saíram do cativeiro, levando as joias dos egípcios (Êx 12:35-36). O faraó os perseguiu, mas seu exército se afogou no Mar Vermelho (Êx 14). Após 430 anos no Egito, Israel finalmente foi libertado (Êx 12:41).
Aqui estão algumas profecias bíblicas sobre o Egito
- Seus habitantes passariam por grande assombro e angústia (Is 19:1, 16-17).
- Seus príncipes e conselheiros perderiam a sabedoria (Is 19:3, 11-14).
- Sofreria com falta de recursos internos como canais e lavouras (Is 19:5-10).
- Guerra civil e conflito doméstico assolariam o país (Is 19:2).
- Seus exércitos seriam destruídos pelos babilônios (Jr 46:2-12).
- Babilônia invadiria e saquearia o Egito (Jr 46:13,24; Ez 32:11).
- Seu poder seria totalmente destruído (Ez 30:24-25).
- Suas cidades seriam arrasadas (Ez 30:14).
- Seus ídolos seriam destruídos (Jr 43:12-13; 46:25).
- Seu povo seria capturado e exilado (Is 20:4; Jr 46:19,24,26).
- Sua desolação duraria 40 anos (Ez 29:8-12; 30:12; 32:15).
- Seus aliados compartilhariam de suas desgraças (Ez 30:4,6).
- Judeus idólatras teriam o mesmo fim (Jr 44: 7-28).
- Sua queda causaria grande terror (Ez 32:9-10).
- Mas haveria conversão e bênção final (Is 19:18-25).
Jesus no Egito
Conforme relatado em Mateus 2:13-23, após o nascimento de Jesus em Belém, magos do oriente vieram adorá-lo, guiados por uma estrela. Isso deixou o rei Herodes extremamente incomodado, temendo perder seu trono.
Determinado a eliminar essa ameaça, Herodes ordenou o massacre de todas as crianças menores de 2 anos em Belém. Porém um anjo alertou José em sonho para fugir com Maria e o menino Jesus para o Egito, escapando da fúria homicida de Herodes.
José não hesitou em obedecer, levando sua família ainda durante a noite para o exílio no Egito. Lá permaneceram até a morte de Herodes, cumprindo a profecia de Oseias 11:1 que dizia: “Do Egito chamei o meu filho”.
Após a morte do tirano, um anjo novamente orientou José a retornar para a terra de Israel. Porém, temendo o filho de Herodes, Arquelau, que reinava na Judeia, José optou por se estabelecer em Nazaré, na Galileia.
Assim, o Egito serviu como instrumento providencial para proteger Jesus na infância. Essa passagem revela como Deus guia e preserva os seus, transformando a intenção maligna de homens em oportunidades para cumprir seu propósito soberano.
Mesmo em seus erros, o fascinante Egito cumpria o propósito divino, servindo de arena para maravilhas e juízos de Deus. Do êxodo à fuga da Sagrada Família, a nação às margens do Nilo moldou a história bíblica, um elo vital entre África, Oriente Médio e bacia do Mediterrâneo. Sua riqueza cultural e espiritual permanece viva, graças à Bíblia e aos muitos tesouros que deixou para a posteridade.
FONTE:
WATER, Mark. Enciclopédia de fatos da Bíblia.
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