Antídoto para Relacionamentos Tóxicos: Encontrando a Essência da Individualidade

Na era moderna, a discussão sobre relacionamentos tóxicos tornou-se cada vez mais relevante, abrangendo não apenas relações amorosas, mas também aquelas no ambiente de trabalho, na família e entre amigos. E esse foi o tema do nosso terceiro encontro, ESSENCIAL.

Levy Cabral, psicólogo em São Paulo especialista em Gestalt-terapia, e o pastor Eli Moreira compartilharam suas perspectivas em uma conversa envolvente e esclarecedora sobre o tema. O diálogo destacou a necessidade de identificar e combater a toxicidade nas relações para preservar a essência da individualidade. Esta conversa serve como um guia para entender as dinâmicas das relações tóxicas e como encontrar o equilíbrio necessário para manter nossa identidade intacta.

Definindo Relações Tóxicas e Abusivas

Levy iniciou a conversa enfatizando que relacionamentos tóxicos ou abusivos não se limitam a relações amorosas. Eles podem ocorrer em qualquer tipo de interação humana, incluindo relações de trabalho, amizades e familiares. Segundo ele, é fundamental entender que uma relação tóxica é aquela que prejudica a identidade e a essência de uma pessoa. Ele usa a metáfora do “humus” para explicar que, assim como a terra precisa de algo plantado para ter valor, os seres humanos necessitam de relações para se desenvolver e entender quem são.

“Uma relação tóxica pode se estender para qualquer tipo de relação”, explica Levy. “Seja ela de trabalho, de amizade, familiar ou amorosa. A relação abusiva transforma a dinâmica entre as pessoas, afetando inclusive a nossa própria relação com a cultura e a sociedade onde vivemos.” Esta abrangência destaca a universalidade do problema, tornando imperativo o entendimento e a identificação dessas relações prejudiciais.

Ele também mencionou que muitas vezes as pessoas não percebem que estão em um relacionamento tóxico até que seus efeitos se tornem evidentes. “Pela experiência de quase dez anos de clínica, ouvi muitas histórias que mostram como esses relacionamentos são mais comuns do que percebemos.” Isso sublinha a necessidade de uma autoavaliação contínua para identificar sinais de toxicidade nas relações.

Perda de Identidade em Relações Tóxicas

Levy ilustra a perda de identidade com uma analogia de duas pessoas em colinas opostas, cavando para se aproximar, mas sempre mantendo uma diferença essencial. Quando essa diferença desaparece, a individualidade é perdida. “No momento em que nos relacionamos com algo, seja uma pessoa, um evento, uma situação, e começamos a nos perder e não mais identificar quem somos, estamos entrando em uma relação tóxica.”

Ele destaca que essa dinâmica pode ocorrer de forma sutil e progressiva, muitas vezes mascarada por tentativas de proteção ou controle. “É comum ouvir: ‘Por que você não pode ser mais assertivo?’ ou ‘Por que você é tão carinhoso?’ Essas exigências começam a montar uma capa de obrigatoriedades de como devemos existir, levando à perda da essência.” Esta gradual erosão da identidade pode levar a sentimentos de inadequação e confusão.

Levy também compartilha um exemplo prático de como a perda de identidade pode se manifestar no ambiente de trabalho. “Você pode ter um chefe que insiste que você faça as coisas de uma certa maneira, mesmo que isso vá contra seu modo natural de trabalhar. Aos poucos, você começa a abrir mão de quem você é para se ajustar às expectativas dele.” Esse exemplo demonstra como a toxicidade pode se infiltrar de maneira insidiosa e persistente em diferentes aspectos da vida.

Influências Culturais e Sociais

A conversa também abordou como a cultura e a sociedade impõem padrões e expectativas que podem contribuir para a toxicidade nas relações. A necessidade de se encaixar em moldes sociais leva à perda de autenticidade e à conformidade forçada. Levy menciona que a sociedade moderna, com suas classificações rígidas e expectativas padronizadas, frequentemente pressiona os indivíduos a se moldarem de maneiras que não são naturais para eles, resultando em relações tóxicas e prejudiciais.

“Vivemos em uma sociedade onde tudo é muito encaixotado”, disse Levy. “Se você quer saber o que é algo, você pergunta para o Google, que te dá uma resposta parametrizada. Isso acontece com pessoas também. Somos categorizados de acordo com nossas ações, nossa aparência, nosso jeito de falar.” Essa categorização constante pode desumanizar e pressionar as pessoas a se conformarem com expectativas externas.

Levy também destacou como a pressão cultural pode invadir a dinâmica familiar. “Dentro de casa, pais e mães muitas vezes dizem: ‘Você não pode ser assim, porque se você for, não vai sobreviver.’ Embora muitas vezes feito com a intenção de proteger, isso não diminui o impacto violento e doloroso dessas palavras.” Esse tipo de pressão familiar pode ser devastador para a autoimagem e o desenvolvimento individual.

O Papel da Fé na Preservação da Individualidade

Eli Moreira complementa a discussão trazendo a perspectiva espiritual, afirmando que um relacionamento autêntico com Deus pode servir como um antídoto para a toxicidade nas relações. Segundo ele, a verdadeira fé ajuda a preservar a individualidade e a autenticidade, conectando a pessoa com sua essência e com Deus. “A verdadeira fé devolve a dignidade humana e traz de volta a criança que você é,” explicou Eli. “Sua consciência volta a ser sensibilizada, e você começa a se incomodar com o que antes não incomodava.”

Eli enfatiza que a fé deve abrir a mente e permitir uma reflexão profunda sobre quem somos. “Seguir a Deus deve tornar você uma pessoa de alta reflexão. Não é sobre se encaixar em um padrão, mas sobre encontrar quem você realmente é.” Ele ilustra essa ideia com uma história pessoal sobre sua resistência inicial em se conformar a normas que não refletiam sua essência.

“Quando eu senti que Deus me chamou para ser pastor, eu tinha um preconceito com o tipo de roupa que os pastores usavam. Achei que teria que mudar completamente quem eu era. Mas com o tempo, percebi que Deus me escolheu do jeito que sou, com todas as minhas particularidades.”

Autoaceitação como Caminho para a Libertação

Levy sublinha a importância da autoaceitação na luta contra as relações tóxicas. Ele afirma que é necessário aceitar que nem todos vão nos amar como somos, e que isso é parte natural da vida. “Leva-se anos para se conhecer quem se é e ainda mais tempo para se aceitar que, sendo quem se é, nem sempre seremos amados por todos.” Essa aceitação da própria individualidade é fundamental para se libertar das pressões externas e das expectativas impostas por outros.

Ele ilustra essa ideia com sua experiência pessoal e profissional, mostrando que a compreensão e a aceitação de si mesmo tornam a vida mais leve e significativa. “Meus pacientes sabem que eu sou atrasado. Eles aceitam isso porque entendem que terão o tempo que precisam nas sessões. Isso cria um espaço de confiança e autenticidade.” Esse exemplo demonstra como a autoaceitação pode transformar a dinâmica das relações de uma maneira positiva.

Levy também compartilha sua experiência como pai de três filhos, cada um com personalidades distintas. “Cada um dos meus filhos me pede um pai diferente. Se eu não entender quem sou, acabo tentando moldar todos do mesmo jeito, o que não seria justo com suas individualidades.” Esse exemplo sublinha a importância de reconhecer e respeitar a individualidade dos outros enquanto se mantém fiel a si mesmo.

Através da autoaceitação e de um relacionamento genuíno com Deus, é possível encontrar um caminho para se libertar das pressões sociais e culturais que levam à toxicidade. Ao reconhecer e valorizar quem somos, podemos construir relações saudáveis e significativas, baseadas no respeito mútuo e na verdadeira compreensão.

“A verdadeira fé conecta você com Deus e com você mesmo,” conclui Eli. “Ela neutraliza a toxicidade e devolve a nossa consciência e dignidade.” Essa conexão espiritual, aliada à aceitação e ao respeito pela própria individualidade, oferece uma base sólida para enfrentar e superar os desafios das relações tóxicas na vida cotidiana.

Este artigo busca não apenas informar, mas também inspirar uma reflexão profunda sobre as dinâmicas das relações em nossas vidas. Ao adotar essas práticas e perspectivas, podemos cultivar relações mais saudáveis e significativas, preservando sempre a nossa essência e individualidade.

***

ESSENCIAL – Conversa com especialistas de diversas áreas sobre o que é essencial para a vida humana.
Toda terça às 19h na Av. Paulista 2200.
Entrada franca.
Siga no Instagram: @redencaoigreja

Você também é convidado(a) para nossos encontros no auditório
da Av. Paulista 2200 - todos os domingo às 11h e às 19h.

Layon Lazaro
Layon é membro do Movimento Redenção e editor do portal redencao.co.Diácono, estudante de comunicação, cinema e literatura, paulistano e pai de dois meninos sapecas.email: layon@redencao.co