Como criar cultura de paz nas escolas, por Albert Carvalho

Como podemos promover uma cultura de paz nas escolas e criar um ambiente mais seguro e acolhedor para nossos alunos? Em um contexto onde a violência escolar se torna cada vez mais frequente, é fundamental buscar soluções que não apenas combatam a violência, mas que também incentivem a convivência harmoniosa e o respeito mútuo.

Em junho de 2024, a Igreja Redenção teve o privilégio de receber o pr. Albert Carvalho, fundador da OSC Makarios, para uma conversa com Eli Moreira sobre a importância de estabelecer uma cultura de paz nas escolas. Este encontro faz parte da nossa série ESSENCIAL, onde abordamos temas fundamentais para a vida e a espiritualidade.

Nesta matéria, você encontrará a transcrição adaptada do que foi discutido pelos dois. Além disso, pode assistir à conversa completa no vídeo abaixo:

Existe cultura de paz nas escolas?

O Pastor Eli abriu a discussão destacando a importância de se falar sobre paz sem focar exclusivamente na violência. Ele mencionou que a segurança é um dos temas mais discutidos em políticas públicas, mas que é fundamental abordar a paz de maneira propositiva. “Às vezes, as pessoas querendo falar de paz, falam só de violência. Hoje, nossa proposta é falar de paz,” disse ele. Albert, convidado especial da noite, trouxe sua experiência à frente da Makarios, uma OSC dedicada à educação e ao bem-estar de crianças e adolescentes, especialmente nas escolas públicas.

Eli enfatizou a necessidade de entender o cenário atual para propor soluções eficazes. “Estamos diante de uma sociedade violenta, e precisamos entender esse cenário para propor soluções reais de paz,” acrescentou ele, reforçando a importância de abordar o tema com profundidade e sensibilidade.

A Realidade nas Escolas Públicas

Albert compartilhou sua visão sobre a realidade atual das escolas públicas, onde a evasão escolar é alta e os professores enfrentam desafios significativos. Segundo ele, a falta de professores está se tornando uma crise, com as universidades formando cada vez menos profissionais dispostos a atuar na educação básica. Este desgaste leva ao burnout e à desmotivação tanto de alunos quanto de professores. “Os professores estão cansados. As universidades não estão formando mais professores, porque as pessoas não querem mais ser professores,” observou Albert.

Ele também destacou que muitos alunos sofrem crises de ansiedade severas e a violência se manifesta de várias formas, incluindo bullying, perseguição, violência de gênero e racismo. Este ambiente hostil leva muitos alunos a abandonarem a escola, enquanto os professores, desmotivados, muitas vezes apenas cumprem suas obrigações mínimas. “A violência nas escolas não acontece de uma única forma; ela se manifesta em diversas formas, e isso afeta profundamente a motivação dos alunos e professores,” acrescentou Albert.

Albert também comentou sobre o cansaço e o desgaste generalizado entre os professores, refletindo uma crise iminente na educação. “Em 2040, a crise na educação ficará ainda mais instalada por falta de professores,” previu ele, destacando a gravidade da situação e a necessidade de medidas urgentes para reverter esse quadro.

Projeto Ecléticos: Uma Iniciativa de Transformação

Albert destacou o Projeto Ecléticos, uma iniciativa da Makarios que se propõe a transformar o ambiente escolar através de um talk show com música, entrevistas e debates sobre diversos temas. Este projeto visa tocar o coração de todos os envolvidos nas escolas – alunos, professores e gestores – promovendo uma reflexão profunda e incentivando o protagonismo e a transformação pessoal. “O Ecléticos surge como um talk show, então é um programa de entrevista com música. E, no final das contas, a gente consegue tocar no coração dos atores que operam nas escolas,” explicou Albert.

Em um dos exemplos citados, o Projeto Ecléticos abordou a violência contra mulheres em uma escola pública, resultando em três alunas que, inspiradas pela palestra, procuraram a gestão escolar para denunciar abusos que estavam sofrendo. Este impacto positivo demonstra o poder de criar espaços de diálogo e reflexão dentro das escolas. “Esse tipo de projeto não só sensibiliza os alunos, mas também inspira os professores a se envolverem mais ativamente na promoção de um ambiente escolar saudável,” concluiu Albert.

Albert também explicou como o Projeto Ecléticos utiliza a música para criar uma conexão cultural e emocional com os participantes. “A música faz essa ponte cultural com a temática, permitindo que os alunos se reconheçam e se envolvam de maneira mais profunda,” acrescentou, destacando a importância de abordagens inovadoras na educação.

Desafios e Esperanças

A conversa também abordou os desafios enfrentados pelas escolas, como a falta de recursos e a pressão social. Albert descreveu a “escola que ninguém quer”, caracterizada pela impessoalidade, desrespeito e cansaço generalizado. Contudo, ele também destacou histórias inspiradoras de superação, onde alunos e professores, mesmo em meio a dificuldades, conseguem encontrar esperança e realizar grandes feitos.

Albert mencionou casos de sucesso, como um aluno que se tornou o primeiro no ranking brasileiro de salto com vara e uma aluna que entrou para a seleção feminina de futebol. Esses exemplos mostram que, apesar do cenário desafiador, há sempre espaço para sonhos e realizações. “Mesmo no meio desse deserto, desse caos, você tem gente que sai dali e encontra portas que se abrem,” disse ele. Ele enfatizou a importância de reconhecer e valorizar esses esforços, destacando que “existem professores que entendem seu papel e continuam a inspirar seus alunos, mesmo em condições adversas.”

Albert também compartilhou uma experiência marcante em que, após um evento sobre violência contra mulheres, três alunas procuraram a gestão escolar para relatar abusos. “Esse tipo de reação mostra que estamos no caminho certo, oferecendo um espaço seguro para que os alunos possam se expressar e buscar ajuda,” refletiu ele.

Flores no Deserto: Histórias de Esperança

Durante a conversa, o Pastor Eli contou a história de Dona Celina, uma mulher humilde que, mesmo vivendo em extrema pobreza, dedicava sua vida a ajudar os outros. “Eu cheguei um dia na casa dela e ela tinha comida. Ela falou, ‘As freiras conseguiram esses legumes e emprestaram a panela. Estou fazendo essa sopa para distribuir para as pessoas que não têm nada.'” Essa história ilustra como a paz e a bondade podem florescer nos lugares mais inesperados.

Eli enfatizou que, assim como pequenas luzes em um ambiente escuro, cada pessoa pode fazer a diferença. Ele ressaltou que a luz que brilha em nós vem de Deus e que somos chamados a iluminar os lugares escuros, trazendo esperança e transformação. “Vocês são a luz do mundo. Deus nos chama para sermos influentes na cidade, para sermos luz onde estamos,” afirmou. “Nosso papel é ser agentes de paz, não importa onde estejamos, e levar essa luz a todos ao nosso redor.”

Eli também compartilhou sua visão sobre o papel dos educadores como janelas para o mundo. “Os professores são como janelas, e os alunos olham para o mundo por seu intermédio. Precisamos abrir essas janelas e mostrar que há mais além dos desafios imediatos,” disse ele, reforçando a importância do papel inspirador dos educadores.

Três Formas de Ser um Embaixador da Paz

A busca pela paz em nossos ambientes cotidianos, especialmente nas escolas, é uma tarefa nobre e essencial. Aqui estão três formas práticas de ser um embaixador da paz, inspiradas nas experiências compartilhadas por Albert durante sua trajetória na educação.

1. Iluminar as Realidades Ocultas

A primeira vez que Albert pisou em uma escola pública foi em 1997, em um contexto de violência. Ele falou para os alunos sobre as diversas formas de violência e como, muitas vezes, elas passam despercebidas. “Existem muitas formas de violência. Às vezes, vocês estão sofrendo e nem percebem,” disse ele. Uma aluna de nove anos revelou que aquilo acontecia com ela, mostrando como a conscientização pode trazer à tona realidades ocultas.

Como embaixador da paz, ilumine as questões difíceis e traga visibilidade aos problemas que precisam ser enfrentados. Ao lançar luz sobre essas questões, você pode começar a transformá-las. “Se somos luz, é para iluminar, para trazer à tona o que muitas vezes está escondido na escuridão.”

2. Mostrar Empatia e Apoio

Empatia e apoio são fundamentais para a promoção da paz. Albert lembrou de sua infância em Pirituba, onde ele e seu irmão economizavam dinheiro da condução para comprar doces. Em um dia particular, quando o cobrador decidiu impedir que passassem por baixo da catraca, eles ficaram apreensivos. Um problema no ônibus causou uma confusão, e uma moça lhes ofereceu apoio, dizendo para ficarem calmos e que tudo ficaria bem. Sua palavra de conforto fez a diferença naquele momento.

Como embaixador da paz, esteja atento às necessidades dos outros e ofereça apoio quando necessário. Uma palavra de conforto ou um gesto de bondade pode ter um impacto profundo. “Em alguns momentos, a sua palavra vai jogar luz. Em outros momentos, a sua palavra vai gerar calma, conforto e segurança.”

3. Inspirar Sonhos e Esperanças

Outra forma poderosa de ser um embaixador da paz é inspirar sonhos e esperanças nos outros. Albert contou sobre uma produtiva conversa que teve recentemente com uma produtora durante uma videochamada. Eles descobriram que moravam no mesmo bairro, Pirituba, e começaram a sonhar juntos sobre possíveis projetos e colaborações.

Como embaixador da paz, ajude as pessoas a verem o potencial dentro de si mesmas e encoraje-as a perseguirem seus sonhos. Seja através da música, da arte, da palavra ou do conhecimento, use seus talentos para inspirar e motivar os outros a alcançar seu potencial máximo. “A terceira coisa é, faça as pessoas sonharem a partir dos seus talentos. Porque você os tem, nós os temos.”

Ao iluminar as realidades difíceis, mostrar empatia e apoio, e inspirar sonhos e esperanças, você pode efetivamente se tornar um embaixador da paz em sua comunidade. Essas ações, por menores que pareçam, têm o poder de transformar ambientes e promover uma cultura de paz duradoura.

Todos somos chamados a serem embaixadores da paz

A cultura de paz nas escolas não é apenas um ideal, mas uma necessidade urgente em nossa sociedade. Através de iniciativas como o Projeto Ecléticos e o trabalho incansável de indivíduos comprometidos, é possível criar um ambiente escolar mais acolhedor, seguro e inspirador.

É essencial que todos, desde educadores até membros da comunidade, reconheçam seu papel na promoção da paz. Seja através de ações diretas ou de pequenos gestos de gentileza e apoio, cada um de nós pode contribuir para a construção de um futuro mais harmonioso para nossas crianças e adolescentes.

“Precisamos começar a enxergar o bem, porque ele está ao nosso redor. E essa semana talvez esse olhar possa mudar a sua perspectiva sobre o que está acontecendo no mundo e te dar esperança,” concluiu o Pastor Eli, deixando uma mensagem de esperança e incentivo a todos os presentes.

Assim, a construção de uma cultura de paz nas escolas depende de um esforço conjunto e contínuo de todos os membros da comunidade escolar. Ao reconhecer e valorizar os pequenos atos de bondade e inspiração, podemos transformar nossos ambientes educacionais e, consequentemente, nossa sociedade. Que possamos todos nos tornar agentes de paz e luz em nossos próprios contextos, contribuindo para um mundo mais justo e pacífico.

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ESSENCIAL – Conversa com especialistas de diversas áreas sobre o que é essencial para a vida humana.
Toda terça às 19h na Av. Paulista 2200.
Entrada franca.
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Layon Lazaro
Layon é membro do Movimento Redenção e editor do portal redencao.co.Diácono, estudante de comunicação, cinema e literatura; paulistano e pai de dois meninos sapecas.email: layon@redencao.co