Os samaritanos, um povo que habitava a terra que um dia pertenceu às tribos de Efraim e Manassés em Israel, têm uma história rica e complexa que remonta a milhares de anos.
A cidade capital desse povo, Samaria, foi ocupada por pessoas de diversas nações após a derrota de Israel pela Assíria, conforme mencionado na Bíblia em 2 Reis 17:24.
Ao longo do tempo, os israelitas remanescentes se casaram com estrangeiros que adoravam outros deuses, e assim a religião samaritana se desenvolveu como uma mistura de culto pagão com variações do culto dos judeus ao Senhor (2 Reis 17:26-28).
Os judeus olhavam com desprezo para os samaritanos e mantinham pouco contato com eles por várias razões: a mistura étnica do povo samaritano, sua ignorância e desrespeito às leis dos próprios judeus, bem como seu culto a Deus no Monte Gerizim, em vez do Templo em Jerusalém.
Desde os tempos de Josué, a área de Samaria era conhecida como um refúgio para criminosos, um local onde eles se escondiam da justiça (Josué 20:7). Essa reputação notória foi agravada pelas influências culturais e religiosas trazidas pelos residentes não judeus sob o domínio assírio, que seguiam ensinamentos de outros deuses.
Mais tarde, após o exílio babilônico, os samaritanos se opuseram à reconstrução das muralhas de Jerusalém e tentaram impedir o trabalho (Neemias 4). Além disso, os samaritanos possuíam suas próprias escrituras, que diferiam daquelas aceitas pelos judeus. Eles aceitavam apenas os primeiros cinco livros do Antigo Testamento, enquanto os outros escritos inspirados incluídos na Bíblia Hebraica eram rejeitados.
Compreender as razões pelas quais os judeus desprezavam os samaritanos lança luz sobre duas passagens importantes do Novo Testamento. Primeiramente, temos o relato da mulher samaritana no poço, descrito no Evangelho de João, capítulo 4.
A Mulher Samaritana
Essa mulher, samaritana, ficou surpresa ao ver Jesus, um homem judeu, disposto a conversar com ela. Ao lhe pedir água, Jesus provocou uma resposta curiosa: “Como é que você, sendo judeu, pede-me de beber, sendo eu mulher samaritana?” (João 4:9). O diálogo entre eles transcendeu as diferenças culturais e abordou questões sobre água, seu estado civil, adoração e a identidade de Jesus como o Messias. A mulher samaritana compartilhou essa experiência com as pessoas de sua cidade, levando muitos a acreditar nele.
Essa interação entre Jesus e a mulher samaritana revela não apenas as tensões históricas e culturais entre judeus e samaritanos, mas também a mensagem de inclusão e amor universal que Jesus pregava. Os judeus, devido à sua tradição religiosa e seu desprezo pelos samaritanos, geralmente evitavam qualquer contato com eles. No entanto, Jesus desafiou essas convenções e mostrou compaixão e interesse pela mulher samaritana, reconhecendo sua humanidade compartilhada e sua busca por significado espiritual.
Além disso, a narrativa do bom samaritano, apresentada no Evangelho de Lucas, capítulo 10, também ressalta as tensões entre judeus e samaritanos. Nessa história, um homem judeu é assaltado e deixado ferido à beira da estrada. Enquanto um sacerdote e um levita, ambos judeus, passam sem prestar ajuda, um samaritano se compadece do homem e o socorre, indo além do esperado ao cuidar de suas necessidades e garantir sua recuperação em uma estalagem. A mensagem central dessa parábola é que as ações compassivas e solidárias definem a verdadeira identidade de um vizinho, independentemente das origens étnicas ou diferenças religiosas.
Após a ressurreição de Jesus, seus seguidores começaram a ver os samaritanos sob uma luz diferente. Embora o cristianismo tenha se espalhado inicialmente entre os judeus, o livro de Atos dos Apóstolos revela que os cristãos judeus logo começaram a compartilhar o evangelho com os samaritanos, cumprindo assim a Grande Comissão de levar o evangelho a todos, tanto judeus como não judeus (Mateus 28:18-20; Atos 1:8). Essa mudança na atitude dos seguidores de Jesus refletiu uma compreensão mais profunda da mensagem de amor e redenção que ele ensinou.
Ainda existem samaritanos hoje
Atualmente, os samaritanos são reconhecidos como uma das comunidades religiosas mais antigas e menores do mundo, com cerca de 800 membros. Metade da comunidade reside em Holon, ao sul de Tel Aviv, e a outra metade vive no Monte Gerizim. A língua samaritana, um dialeto do hebraico antigo, ainda é falada por eles, o que os conecta ao idioma que Jesus falava.
A comunidade samaritana é conhecida por suas práticas religiosas distintas e pelo cuidado com suas tradições ancestrais. O centro da vida religiosa samaritana é a sinagoga, onde os homens realizam suas orações. Durante o Shabat (sábado), os homens samaritanos frequentam a sinagoga três vezes ao longo do dia, enquanto as mulheres têm a opção de participar ou não.
Um dos principais eventos religiosos dos samaritanos é a Páscoa Samaritana, um ritual sangrento que acontece no Monte Gerizim. Nesse evento anual, de acordo com o Livro do Êxodo, os sacerdotes samaritanos examinam cada cordeiro para garantir que não tenha defeitos. Todos os animais são sacrificados simultaneamente e assados em espetos em grandes fossas de fogo. Os participantes, vestidos de branco, espalham sangue na testa para afastar o anjo da morte. À meia-noite, o cordeiro assado é consumido rapidamente com matzá (pão ázimo) e ervas amargas.
Os samaritanos também se dedicam a preservar sua história e cultura por meio de museus e outros locais de memória. Um pequeno museu em Kiryat Luza, no Monte Gerizim, exibe objetos históricos, incluindo trajes sacerdotais antigos e uma árvore genealógica que remonta a milhares de anos.
Apesar das diferenças religiosas e das tensões históricas com outros grupos étnicos e religiosos na região, os samaritanos mantêm uma presença resiliente e perseveram na manutenção de suas tradições. Sua história única e contribuição para a diversidade cultural em Israel e na Cisjordânia são de valor inestimável.
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