Inauguramos há pouco o tempo das conquistas – conquistas pessoais, conquistas sociais,
econômicas, científicas e até espirituais. Tudo está acontecendo agora mesmo. O discurso é
encantador e poderia ser pronunciado em qualquer tempo da história recente. As descobertas
marítimas, o homem em sua ida à Lua, as descobertas de vacinas e antibióticos que salvaram
milhões de pessoas que morriam sem esperança.
Hoje as conquistas são declaradas em público. A modéstia, antes estimada e preservada sob a ideia de que as obras falarão por si mesmas, deu lugar a uma constante e diária exposição das conquistas dos humanos.
O que não conseguimos realizar agora por nós mesmos podemos compartilhar e, confiantes em nosso networking, logo irá se tornar realizável. As pessoas anseiam por saber que em nossos dias o mundo realizará conquistas maiores do que em todas as eras passadas.
Seguindo este raciocínio, por que devemos orar? Por que orar se podemos conectar pessoas as nossas ideias? Por que orar se todas as conquistas já estão aos nossos pés? Por que orar para um deus de conquistas?
- Os planos de Deus não estão ao alcance dos homens naturais. O que chamamos de
conquista pode ser derrota para Deus. Os modelos divinos do que seja transformação e
vitória estão muito distantes do que as mídias sociais podem nos informar.
Olhem para Jesus. Observem onde nasceu, como nasceu e sua trajetória. Ele nasceu no lugar mais humilde que alguém poderia imaginar – num lugar de guardar animais. Quem gostaria de ver seu filho nascer num lugar destes?
Foi o que Deus planejou para o nosso redentor – homem de dores, conforme Isaías havia previsto há mais de 600 anos. Quando Jesus estava bem famoso e aclamado, decidia ir para os lugares desertos para afastar-se da “fama” e do povo que o via como um libertador terreno – povo que tinha pressa em proclamá-lo rei nesta Terra, rei de Israel contra os romanos, apenas um rei terreno, de uma nação que preferia pão do que o Reino dos Céus construído no coração de gente humilde. - Precisamos orar porque os pensamentos de Deus estão num lugar muito acima dos nossos lugares costumeiros. Ele habita o lugar mais alto. Ele é o Sublime que a imaginação humana tenta alcançar. Não conseguimos escalar até este lugar. Precisamos da mediação de Jesus.
Precisamos que o Espírito Santo de Deus interceda por nós enquanto fazemos orações
risíveis que pedem a Deus que prosperemos a custa dos outros, orações que planejam que se estabeleça o nosso reino e deixe o reino de Deus distante de nós.
O lugar alto só é alcançado quando baixamos nossa cabeça em direção ao chão e a erguemos para os céus – lembrando que somos pequenos e que a trajetória em direção ao Sublime nos escapa diariamente. - Precisamos orar porque a terra que planejamos conquistar chegou ao fim e estamos diante dos abismos do dia a dia.
Estamos cercados por abismos e não somos bons em fazer pontes.
Estamos cada vez mais isolados em nossos pensamentos de conquista e afastados do Deus que, pela cruz, liga pessoas umas as outras. A terra pela qual podíamos trilhar chegou a fim e não fomos capazes de perceber.
Na luta por conquistas, não percebemos que o lugar alto que almejávamos atingir nos levou a um abismo de onde não podemos mais caminhar.
A Rocha na qual precisamos fixar o nosso olhar, a rocha que é o próprio Deus para onde podemos continuar nossa jornada espiritual, é alta demais para nós, não podemos alcançá-la. Por isso precisamos orar.
Nossa percepção do que seja a vida, do que deveria ser a vida está equivocada. Precisamos de Deus como a fonte de toda a vida e não como um coadjuvante para a jornada que já foi decidida. - Precisamos orar porque precisamos parar o percurso. Precisamos parar e deixar que Deus fale conosco. Precisamos do silêncio.
Uma grande harmonia é feita de pausas, que nos dão a compreensão da música. A música precisa das pausas porque se não as tivesse seria simplesmente ruído incessante.
Por diversas razões a música cessou! Perdemos a graça que nos fazia sorrir e caminhar. Não enxergamos a graça de Deus que está por toda parte porque a desgraça tomou conta de nossas retinas. Precisamos orar para voltar a enxergar que Deus está ao nosso redor. Seu convite de misericórdia está ecoando em nossa consciência enquanto somos incapazes de ouvir. - Precisamos orar porque não existe transformação sem oração. Enquanto falamos ou ficamos em silencio em oração, fazemos uma pausa para a rotina incessante que comanda a nossa agenda. Precisamos orar para que uma transformação do tamanho da criação do universo aconteça dentro de nós – Deus criando vida onde antes não havia nada além da morte.
Enquanto oramos, Deus derrama graça para que o Seu poder criativo seja recebido
generosamente por nós. Este recebimento de graça se espalha por tudo que somos, por
quem tocamos, para quem falamos, por onde formos. Uma graça que é a própria oração em nome de Jesus.
Entretanto, na maior parte das vezes oramos porque descobrimos que não somos, descobrimos que a terra que havíamos de trilhar acabou, percebemos que as transformações são roupagens velhas reeditadas de quem fomos. Só iremos orar quando percebermos que o lugar alto não é o nosso lugar, somos do lugar baixo e estamos em direção ao metrô subterrâneo que é veloz mas não é capaz de nos conduzir ao Lugar.
Só buscaremos a Deus quando percebermos que estamos cegos por causa da luz da publicidade de nós mesmos para nós mesmos. Só iremos orar quando refletirmos a realidade de que não somos como Jesus e por nossa conta nunca seremos parecidos com Ele por nossas escolhas, ideias, planos e acima de tudo por causa de um caráter que não foi transformado pela vida de oração.
Hoje acordei com a percepção de que o mundo precisa da incerteza da oração – não podemos não somos, não conquistamos, não alçaremos voos para a Rocha que é mais alta que nós. Hoje percebi que estou sem luz para ver porque preciso orar. Acordei sem ar porque a poluição das conquistas estava dentro de meus pulmões.
Senhor tenha compaixão de mim eu te imploro – toca-me mais uma vez com o Teu poder que se revela enquanto eu oro!
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