No mundo antigo, a crucificação era vista como uma forma de execução particularmente vergonhosa e dolorosa. Diferentes civilizações faziam uso da crucificação como forma de matar inimigos, rebeldes, criminosos e indesejados de todo tipo e, ao mesmo tempo, passar uma espécie de mensagem a outros que, se seguissem pelo mesmo caminho, teriam o mesmo destino.
A crucificação na História
Na Assíria, uma das várias civilizações que aparecem entre os rios Tigre e Eufrates, havia uma espécie de precursora da crucificação – relevos de batalha retratam guerreiros assírios empalando as vítimas em postes, fora dos muros das cidades conquistadas.
Anos depois, os persas fizeram uso generalizado da crucificação, embora às vezes a crucificação ocorresse somente após a vítima ter sido executada por outros meios (Heródoto, Histórias 3.125.2–3). Há relatos de que a crucificação também tenha sido usada pelos povos citas, celtas, alemães, bretões e até habitantes da Índia. Em todas essas culturas, a crucificação era uma forma de execução reservada aos piores criminosos, bem como aos escravos rebeldes.
A prática da crucificação espalhou-se sob o império de Alexandre, o Grande (356-323 aC), quando tornou-se a forma comum de execução para traidores, exércitos derrotados e escravos rebeldes. Mais tarde, sob o Império Romano, apenas aqueles que não eram cidadãos romanos, pessoas das classes mais baixas e criminosos violentos podiam ser crucificados. As únicas exceções possíveis eram em casos de alta traição ou deserção durante a guerra.
Os escravos eram particularmente vulneráveis à imposição da crucificação. A literatura latina reflete o pavor que os escravos sentiam diante da perspectiva desse destino. Foi oficialmente aceita como a forma mais dolorosa e vergonhosa de pena capital, mais do que a decapitação, ser jogado para animais selvagens ou até mesmo ser queimado vivo. Por essas razões, essa pena hedionda era frequentemente imposta a estrangeiros que eram vistos como ameaças ao domínio romano.
Há também relatos de crucificação sendo praticada entre os judeus. Josefo escreveu que o sumo sacerdote saduceu e rei da Judeia Alexandre Janeu (no cargo de 103 a 76 aC) cometeu a seguinte atrocidade contra seus inimigos, os fariseus: “Enquanto jantava em um lugar visível com suas concubinas, ele ordenou que cerca de 800 delas fossem crucificadas, e enquanto eles ainda estavam vivos diante de seus olhos, ele degolou seus filhos e esposas” (Josefo, Antiguidades 13:380).
As crucificações eram geralmente realizadas em locais altamente visíveis, como dissuasão de possíveis rebeldes e criminosos. Muitas vezes, a acusação contra o culpado era escrita e pregada na cruz acima de sua cabeça.
Como é a morte por crucificação?
A crucificação era a forma mais constrangedora e dolorosa de execução conhecida na Antiguidade. Despido das suas vestes – situação particularmente embaraçosa aos olhos dos judeus da Palestina-, o condenado seria pendurado à vista da multidão, considerado criminoso, incapaz de reter a excreção de fezes e urina em público, e submetido à excruciante tortura.
As vítimas eram frequentemente açoitadas ou torturadas de várias formas antes da crucificação. As crucificações eram realizadas em uma única estaca vertical, ou em uma estaca vertical com uma viga transversal próxima ou no topo.
A vítima era pregada na cruz com pregos martelados em seus punhos, não podia espantar os insetos atraídos pelo sangramento das costas ou de outros ferimentos. Todo o peso de seu corpo ficava sobre seus braços, presos à travessa pelos pregos nos punhos – numa posição que tornava a respiração cada vez mais difícil.
A morte por crucificação ocorria em média de 6 horas a até 4 dias após a pregação do vítima no madeiro, e poderia acontecer por mais de um fator: as sequelas do açoite e da tortura antes da crucificação, mutilação, hemorragia, desidratação, dor e, principalmente, asfixiação.
Tudo isso contribui para um imenso sofrimento da vítima, que antes de morrer padece de sede, cansaço, tontura, dor de cabeça, confusão mental, náusea, vômito, sensação de desmaio e também uma forte falta de ar.
Outra condição comum à crucificação é o choque hipovolêmico, que pode ser ser definido como uma situação de emergência decorrente da perda de grande quantidade de líquidos e sangue, quando o coração deixa de bombear sangue para o corpo, levando a problemas em vários órgãos e, finalmente, à morte.
Crucificações podiam durar dias
Às vezes, blocos de madeira eram presos à estaca como assento, apoio para os pés ou as duas coisas. Dependendo da presença desses blocos, a vítima pode permanecer viva por até três dias. Os blocos permitiram que a vítima descansasse um pouco seu peso sobre eles, aumentando a chance de respiração e circulação adequada. Sem os blocos, o peso da vítima repousaria totalmente sobre seus braços, que eram presos à travessa por cordas e pregos. Isso proibiria a respiração e a circulação e levaria à insuficiência cerebral e cardíaca – o próprio peso da vítima forçaria seu corpo a uma posição que terminaria por asfixiá-la.
A vítima poderia sobreviver por alguns dias na cruz, enquanto lhe restasse força para apoiar seus pés no bloco de suporte. Para acabar com a tortura, as pernas da vítima podiam ser quebradas, impedindo a sustentação do peso nos blocos. Após isso, a morte viria rapidamente.
A crucificação na época de Jesus
Durante a vida de Jesus, a crucificação foi usada pelos romanos para exercer e exibir horrivelmente sua autoridade sobre os outros. Esta execução tortuosa foi vista pelos judeus como uma forma amaldiçoada de morte.
Dt 21:23 afirma que “todo aquele que for pendurado em um poste está sob a maldição de Deus”.
Se um homem culpado de um crime que mereça a morte for morto e pendurado num madeiro,
Deuteronômio 21:22,23
não deixem o corpo no madeiro durante a noite. Enterrem-no naquele mesmo dia, porque qualquer que for pendurado num madeiro está debaixo da maldição de Deus. Não contaminem a terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança.
Documentos descobertos em Qumran revelam que muitos judeus da época de Jesus aplicaram esse texto à crucificação romana. Essa perspectiva da crucificação demonstra por que o apóstolo Paulo escreveu que a cruz de Cristo foi “escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (1Co 1:23). Quem imaginaria que o Filho Santo de Deus tomaria voluntariamente sobre si a maldição que deveria ser nossa?
Pelo sacrifício de Jesus, a cruz, este emblema da vergonha do mundo antigo, tornou-se o símbolo da nossa salvação.
Por que a crucificação era tão humilhante?
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Referências:
KEENER, Craig S.. Comentário histórico – cultural da Bíblia: Novo Testamento
HERÓDOTO. Histórias.
KEENER, Craig S.; WALTON, John H. Cultural Backgrounds Study Bible – NIV: Bringing to Life the Ancient World of Scripture
romapravoce.com/crucificacao-romana/
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