Quando pensamos em um espelho, podemos optar sobre qual tipo de espelho escolheremos para nos observar – um espelho plano, um espelho convexo ou mesmo um jogo de espelhos. Dependendo desta escolha obteremos um tipo de imagem diferenciada de nossa aparência. E assim, do ponto de vista da física poderemos ter várias diferentes imagens de um mesmo indivíduo.
Mas por acaso seria possível que alguém se olhasse num espelho e não se visse, ou fizesse outra pessoa eu seu lugar? Será que podemos nos estranhar tanto, a tal ponto que não possamos nos reconhecer quando, de repente nos defrontarmos com um espelho?
Somos a sociedade dos espelhos. Os espelhos estão em toda parte. Nos shoppings, nos elevadores, nos modernos prédios de um tempo em que é moderno gastar tempo tentando se ver nos espelhos. Os espelhos nos atraem, mas nem sempre estamos atraídos pelo reflexo que eles nos mostram. Porque parece que elegemos as imagens que queremos ver, as imagens que gostaríamos de ter, enfim o que gostaríamos de olhar.
Entretanto, os espelhos no põem frente a frente com o real, nos apresentam o que é de fato, e não nos revelam o que gostaríamos que existisse em nós. Os espelhos não podem ser amigáveis, e nos mostrarem aquilo que gostaríamos de ver ou de ouvir, por isso, o risco jaz no olhar e não no reflexo. Nossos olhos não querem ver o que é feio, disforme e deselegante. Não nos aproximamos do reflexo para ver o que estranhamos – mas o belo, mesmo quando o belo já não mora aonde gostaríamos.
Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural;
Porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era.
Tiago 1:23,24
Impressiona-me o fato da Bíblia se comparar com um espelho que nos revela quem somos, desafiando-nos a um envolvimento com a imagem que ela tem de nós, pelo Espírito Santo de Deus. A Bíblia nos chama para olharmos para o fundo de nossa alma, enquanto buscamos a Deus. Um olhar que pode ser agressivo, que pode se tornar insuportável para mim que não quero ver quem sou, que quero estar preso junto ao que desejaria que eu fosse.
Meu ímpeto então é: afastar-me de um indivíduo tão perversamente alheio a Deus, distante de sua própria alma, tão odioso por suas má escolhas, tão limitado e por fim, feio e desproporcional em sua formação pessoal interior. Não quero reconhecer que sou que o espelho está revelando. Prefiro rejeitar o que estou vendo, e dizer a mim mesmo que não sou eu.
Assim quando ouço a Palavra de Deus falar comigo, posso ser sondada por ela, e reagir positivamente a minha imagem que vejo refletida nela. Posso cuidar do que vejo, posso ver com os meus ouvidos, tão claramente que a permanência frente ao espelho me leve a uma imagem de transformação. Mudo-me da região de superfície em minha relação comigo mesmo, para a profundidade em direção a quem de fato sou. Aceito que não sou quem achava antes de me ver no espelho.
E com esta aceitação preciso de uma visão mais ampla de mim, do meu eu desnudo, que me levará a uma pungente necessidade de ser salvo do amor de Deus. De cultuar um relacionamento com Deus que me traga os reflexos e a possibilidade de ser plenamente eu – feliz, abundantemente harmônico.
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