Por que ler John Bunyan? O Peregrino é o mais lido depois da Bíblia

Todos sabemos que a Bíblia é o livro mais vendido de todos, com mais de 6 bilhões de cópias. O que muita gente não sabe é que O Peregrino de John Bunyan figura entre os livros mais vendidos da história. Veja o porquê, conhecendo mais sobre o autor e seu livro.

John Bunyan

O inglês John Bunyan nasceu em 1628. Na época de sua vida, as nações se encontravam sob grandes disputas religiosas, entre católicos e protestantes. Na Inglaterra, havia pelo menos três campos dominantes, os católicos romanos, os anglicanos e os puritanos, que viviam em guerra.

Bunyan lutou em algumas dessas guerras, e teve livramento em todas. Isso o convenceu de que Deus tinha um propósito para ele, mesmo ainda não convertido. Pertencia a uma família pobre, e havia perdido a mãe cedo. Foi a partir de 1649 que sua vida começou a mudar, quando se casou com uma mulher de família cristã.

Passou a ter mais contato com a religião e se convenceu de que tinha que lutar contra o pecado. Bunyan entrou para a igreja e começou seu contato com a Bíblia e com os estudos cristãos. Em 1650, conheceu o pastor puritano John Gifford e aumentou sua influência dentro da religião. Até virar diácono em 1653 da igreja de Bedford.

Infelizmente, sua mulher morreu em 1655. Com isso, muitas pessoas o incentivaram a começar a pregar e ele aceitou. Casou-se novamente em 1659 e passou a escrever seus livros. Bunyan se dedicou à tarefa de pregar o evangelho daí pra frente e a fazer de tudo para que as pessoas entendessem a Bíblia. Foi pastor da igreja de Bedford e por conta disso foi perseguido e preso diversas vezes. Ele passou pelo menos 12 anos na prisão, e foi lá que escreveu boa parte de seus livros, entre eles O Peregrino.

A prisão suavizou a vida de Bunyan, por mais paradoxal que isso possa ser. Durante a prisão tornou-se um homem ligado ao essencial, ao simples e passou a se dedicar a compreender o Evangelho. Nunca mais voltou a ser o debatedor de assuntos periféricos do cristianismo. Sua mudança interior ocorreu talvez porque na prisão ficamos somente com o que é essencial. Isso possibilitou escrever uma obra como O Peregrino, que tem encantado a tantos cristãos.

Em 1688, no caminho para Londres, enfrentou uma forte tempestade e pegou um terrível resfriado, tendo adoecido gravemente após isso. Morreu no dia 31 de agosto, e foi sepultado em Bunhill Fields, City Road em Londres. John Bunyan não era uma pessoa profundamente intelectual, tampouco era estudado nas artes do saber. Contudo, sua preocupação estava focada no Evangelho, em entender a Bíblia e os ensinamentos de Cristo.

John Bunyan por Thomas Sadler, 1684
John Bunyan por Thomas Sadler, 1684

O Puritanismo

John Bunyan foi um pregador puritano. O puritanismo é uma vertente do protestantismo na Inglaterra, marcada pela rigidez nos costumes e observâncias dos princípios bíblicos. Foi um movimento muito influente entre os colonizadores britânicos que foram para a América, tendo se tornado a principal tradição religiosa dos Estados Unidos posteriormente. O puritanismo efatizava a pureza e a integridade do indivíduo, sendo bem importante na crítica contra a corrupção moral e material dos sacerdotes das igrejas.

Na Inglaterra, a vertente puritana começou no reinado de Elizabeth I, em 1558. Mas nunca foi adotada oficialmente, uma vez que a religião institucional era o anglicanismo, instaurada por Henrique VIII em 1534. Dessa forma, os puritanos passaram a ser perseguidos por conta de suas crenças. Isso porque o puritanismo rejeitava tanto os princípios da Igreja Católica Romana, quanto a organização hierárquica da Igreja Anglicana.

Os puritanos ingleses acreditavam que a Reforma Protestante não tinha sido suficientemente profunda na Inglaterra. A Ingreja Anglicana, que se dava como protestante, foi apenas fruto do rompimento de relações entre a monarquia inglesa e o papado de Roma. Por isso, o anglicanismo ainda mantinha inúmeros traços do catolicismo. Assim, insatisfeitos com a reforma supercial ocorrida, grupos protestantes levaram a teologia calvinista reformada para a Grã-Bretanha, dando origem a uma nova vertente conservadora.

Como dissemos, havia três correntes religiosas na Inglaterra. A primeira, mais antiga, estava alinhada com o catolicismo romano e não aderira ao protestantismo. A segunda, o anglicanismo, foi criada pelo próprio Henrique VIII, por suas desavenças com o papa. Já a terceira, o puritanismo, descontente com os rumos das duas anteriores, elevou as condições da reforma, formando uma religião conservadora nas práticas e nos costumes. Não havia muita escapatória, na Inglaterra ou se era católico, ou anglicano, ou puritano.

Contudo, nos séculos XVIII e XIX, novas ideias surgiram, que advinham principalmente por conta da securalização da vida pública. Na Inglaterra, o Estado permanece oficialmente anglicano até hoje, mas uma abertura religiosa foi ocorrendo nos últimos séculos. Por isso, novas interpretações calvinistas, mais flexíveis nos costumes, conquistaram espaço tanto no Reino Unido quanto nos Estados Unidos.

No Brasil, os reformados calvinistas são mais conhecidos como presbiterianos. Existem distintas igrejas presbiterianas aqui, elas são independentes umas das outras. Muitas podem ser vistas são neopuritanas, e proíbem por exemplo a ordenação, e inclusive a manifestação pública em pregações e orações, de mulheres. Outras, como as Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB) e Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, têm reforçado a necessidade de abandonar essas práticas conservadoras, porque não refletem as ideias de igualdade do Evangelho. Nesse sentido, o apóstolo Paulo defendeu que não existia homem ou mulher, mas que todos eram apenas um em Jesus.

Obras de Bunyan

A obra de John Bunyan é vasta, mas muitos livros não estão traduzidos para o português. O Peregrino é de longe o mais famoso. Composto de duas partes, a primeira, lançada em 1678, apresenta a história de um homem que precisa fugir da destruição. Já a segunda, de 1684, continua a história contando a jornada de Cristiana e seus quatro filhos rumo ao encontro do marido que partiu antes deles.

As duas partes são costumeiramente lançadas juntas e constituem a maior obra de ficção da história do cristianismo. Para milhões de pessoas, a jornada do peregrino e sua família serve como modelo de perseverança em meio a dificuldades. Falaremos mais a seguir.

Ele também teve outras obras de conteúdos religiosos cristãos publicadas no Brasil. É o caso de Jornada para o Inferno em 2010. Nesse exemplo, o modelo utilizado é o oposto do primeiro livro. Ele apresenta o Sr. Mau e sua jornada que o leva ao inferno. Se O Peregrino apresenta instruções de como chegar ao Céu, este aqui faz o contrário e estimula o leitor a se atentar para a os passos em sua jornada.

Graça Abundante para o principal dos pecadores de 1666 é sua autobiografia, contada de uma forma emocionante e inspiradora. Possui um paralelo muito interessante com O Peregrino e ajuda o leitor de ambos a considerar sua própria jornada em direção ao Reino de Deus.

O Peregrino

É provavelmente o livro alegórico mais conhecido de todos, e com certeza o mais lido pelos cristãos depois da Bíblia. Muito utilizado nas pregações protestantes, por conta de seu conteúdo leve e elucidativo, figura entre os livros mais vendidos de todos. Mas, por ser do século XVII, é difícil contabilizar exatamente quantas cópias foram produzidas e vendidas.

O Peregrino foi publicado inúmeras vezes desde 1678.
O Peregrino foi publicado inúmeras vezes desde 1678.

Resumidamente, podemos dizer que O Peregrino é uma alegoria da vida cristã. O livro é narrado por alguém que decidiu entrar em uma caverna para descansar. Ao dormir, teve um longo sonho com um homem vestido de trapos, que segurava um livro e possuía um grande fardo nas costas.

Um homem chamado Cristão

Cristão havia lido em seu livro que sua cidade seria destruída pelas chamas vindas do céu. Por isso, estava desesperado e não sabia o que fazer, nem como se livrar de seu fardo. Mas um dia, de repente, Evangelista se aproximou e lhe perguntou o que estava acontecendo. Cristão respondeu que o livro dizia que estava condenado a morrer e a ser julgado. O fardo em suas costas era pesado demais, e temia que fosse puxado para o inferno após a morte. No entanto, Evangelista lhe disse que não podia ficar parado esperando pela morte, tinha que correr.

“Para onde vou?” perguntou Cristão. Evangelista apontou para um campo e disse: “Está vendo aquele portão estreito?”. O primeiro disse que conseguia ver apenas uma luz. Evangelista disse: “Mantenha o olhar para a luz e caminhe em sua direção, assim, você conseguirá ver o portão. Bata e você receberá instruções sobre o que deverá fazer.” Então, Cristão começou a correr, deixou seus filhos e mulher para trás, mesmo eles insistindo para que ficasse.

Cristão alcançou o portão estreito depois de muitos desafios, mas era apenas o começo de sua longa jornada. Quando bateu à porta Boa-Vontade lhe atendeu. Ele explicou que sua cidade natal estava condenada à destruição, assim como todos seus habitantes. Cristão ficou triste por sua família, e perguntou o porquê. Boa-Vontade respondeu que as pessoas que não alcançarem a Cidade Celestial serão condenadas, mas os que chegarem até lá serão recebidas pelo rei do local. Ele ficou assutado, mas decidiu prosseguir seu destino e ir em direção à sua salvação.

Existem muitas encruzilhadas e atalhos largos. Mas você também sempre pode distinguir entre o caminho certo: ele é sempre reto e estreito.

O Peregrino

A Cidade Celestial

O Peregrino conta a história de um cristão comum. Um pecador que encontrou na Bíblia o anúncio da destruição de sua cidade de origem, que é o mundo real. Cristão ganhou seu fardo ao entrar em contato com a Lei, que apontava seus pecados. Por isso ele temia a morte, porque seus pecados iriam puxá-lo para o inferno. Entretanto, o Evangelista lhe passou a única forma de conseguir se livrar de seu fardo e da culpa por seus pecados. Ele representa o missionário, o pregador, que anuncia o evangelho para o mundo. Quando Cristão encontra o Monte Calvário, vê uma cruz vazia e entende o real propósito de sua fé.

A graça de Jesus Cristo nos livra do pecado e nos transforma em seres renovados. Mas a conversão não é o passo final, muitas coisas ocorrem até o fim do caminho. Para saber o que acontece você precisa ler o livro. É uma obra alegórico sobre as nossas vidas cristãs, cada personagem representa um tipo de desafio, ajuda ou coisas que nós enfrentamos. Cidade da Van Glória, Vale da Humilhação, Feira das Vaidades, Vale da Morte. São muitos os lugares pelos quais passamos antes de alcançar a Cidade Celestial.

Assim que os portões foram abertos para os dois homens, olhei atrás deles e vi que a cidade brilhava como o sol, as ruas eram pavimentadas com ouro e os homens que ali caminhavam tinham coroas na cabeça, palmas nas mãos e harpas de ouro com as quais entoavam louvores.

O Peregrino
O caminho que leva à Cidade Celestial é estreito e cheio de desafios.
O caminho que leva à Cidade Celestial é estreito e cheio de desafios.

O Peregrino reflete a alma e os desafios enfrentados pelos cristãos. Além de explicar inúmeros ensinamentos do Evangelho de uma forma simples e fácil de entender. Em síntese, somos libertos da Lei, vivemos pela graça. O sacrifício salvífico nos encoraja a caminhar em direção à salvação. O Caminho é Cristo e devemos segui-lo para morar com Ele.

Veja o trailer do filme de 2008, O Peregrino: Uma jornada para o Céu , baseado no livro de John Bunyan.

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