Recentemente lançado pela Netflix, o documentário ”O Dilema das redes” deu o que falar. Pela direção de Jeff Orlowski e produção de Larissa Rhodes, o filme impactou os usuários de redes sociais. Voltando seus holofotes nas empresas por trás das redes que tanto usamos, O Dilema das Redes mostra como os algoritmos são alimentados com dados e publicações e têm o poder de prever os comportamentos humanos e gerar posicionamentos opostos. Diante dessa situação, devemos apagar todos perfis que temos nas redes sociais para nos prevenir? Mas como vamos nos comunicar, então?
Logo na sinopse do filme os produtores alertam “As redes sociais podem ter um impacto devastador sobre a democracia e a humanidade”. Em 2016, ano das decisivas eleições presidenciais norte-americanas, enquanto artistas se ocupavam tentando usar de sua posição de destaque para convencer as pessoas a votarem, os algoritmos não precisavam nem se esforçar para superar toda essa árdua campanha. Veja bem, não é possível confirmar ter sido esse o motivo da eleição de Donald Trump, como também seria de grande irresponsabilidade afirmar que, não fosse por essas ações, Hillary Clinton teria vencido naquele ano. Mas vamos aos fatos relatados pelo filme: a partir de um simples teste de personalidade, a empresa de dados Cambridge Analytica, que ofereceu serviços à candidatura de Donald Trump em 2016, obteve dados de usuários do Facebook que teriam um perfil correspondente às propostas do então candidato Republicano, criando assim, uma bolha informacional. Os perfis passaram a receber posts, informações, fake news e propagandas que defendiam as bandeiras do atual presidente dos Estados Unidos.
Este é apenas um exemplo de como as redes sociais e suas ferramentas podem interferir em processos decisivos na sociedade. Seja pelo ambiente de constantes brigas, ataques e cancelamentos ou pela má qualidade das conversas e dos conteúdos que ali estão, não é de agora que as pessoas sentem-se tentadas a deletar suas redes sociais ou pelo menos passar um tempo distante de tanta informação e estímulo.
Se tomarmos uma decisão radical e desinstalarmos todas as redes sociais que obtêm nosso dados, nossos pobres celulares que tanto reclamam de falta de armazenamento teriam um alívio. Mas seria esse o melhor remédio? Entramos em um dilema…durante o auge da pandemia em que não conseguíamos ver uns aos outros não foram justamente esses aplicativos que nos possibilitaram manter nossos contatos e amizades? E como voltar a ser independente de algo, que como dizia o grande pensador da comunicação, Marshall McLuhan, se tornou parte de nós?
Já que a escolha mais acessível diante de tal situação não é abandonar às teias de aranha os nossos perfis, fontes de notícias, posts e memes, veja nas dicas a seguir como é possível manter um uso mais saudável e inteligente desse espaço de comunicação.
1. Para comunicar, é necessário ouvir
Pessoas do mundo todo estão comunicando ideias importantes nas redes sociais, e é preciso ouvi-las. Não há melhor lugar para ouvir pontos de vista diferentes do que o seu do que nas redes sociais. Os espaços abertos em que todos podem contribuir são uma ótima forma de ‘democracia digital’ e inclusão dos conhecimentos. O filósofo Pierre Levy, um grande entusiasta do mundo digital e seus atributos, crê que “Nenhum de nós pode saber tudo; cada um de nós sabe alguma coisa; e podemos juntar as peças, se associarmos nossos recursos e unirmos nossas habilidades”. Esse é a definição de um conceito chamado Inteligência Coletiva.
Todos lembramos aquele desenho básico de como funciona a comunicação. Precisa de um emissor, uma mensagem e um receptor. Mas o que deveria ser mais ressaltado neste modelo é que a melhor forma de comunicação é ouvir, na verdade a comunicação só acontece de fato se a mensagem for ouvida. Afinal, qual seria a necessidade de falar, se ninguém vai ouvir?
Esse método é uma ótima ação justamente contra as bolhas que isolam as pessoas com seus próprios ideias nas redes sociais. Não há mais paciência para ‘textões’ no Facebook, mas se em vez de tentarmos provar nosso ponto como verdade absoluta, pararmos para ouvir o que o outro tem a dizer? Com essa atitude poupamos paciência, palavras e nossos dedos que não param de digitar. Quando há diálogo, conversa e aprendizado entre as partes, a democracia vence.
As redes sociais funcionam como um grande ‘mercado de ideias’. É um ótimo local de discussão e manifestação que lembra inclusive um processo de revisão científica: o confrontamento de ideias concorrentes leva os usuários a escolherem o que permanece e o que será descartado, como em uma pesquisa científica. Os acadêmicos chamam esse processo de revisão por pares (ou revisão paritária). As redes sociais nos permitem fazer essa revisão por pares em tempo real.
Não deixe a conversa. Envolva-se na discussão. Sua voz precisa ser ouvida no mercado de ideias.
A melhor forma de comunicação é ouvir.
Ouvir é a maior parte da comunicação. Na verdade, a comunicação só acontece de fato se a mensagem for ouvida.
Pessoas do mundo todo estão comunicando ideias importantes nas redes sociais, e é preciso ouvi-las. Não há melhor lugar para ouvir pontos de vista diferentes do que o seu do que nas redes sociais.
Não use as redes sociais só para falar; use-as também para ouvir.
2. Procure fontes confiáveis de notícias
Segundo uma análise do BuzzFeed, as notícias falsa sobre as eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016 tinham alcance superior às notícias verdadeiras. A internet como um espaço livre, dá margem para conteúdos propositalmente enganosos. A melhor forma de combater essa onda de desinformação é procurar fontes confiáveis de notícias.
Há agências e ferramentas de checagem de veracidade das notícias, como por exemplo, a Agência Lupa, Fato ou Fake, criado pelo grupo Globo de Jornalismo e Agência Pública – Truco. São exemplos de canais para verificar se estamos sendo ou não enganados pela informação que chegou até nós.
3. De olho nos dados
Muita da preocupação que temos em relação às redes sociais é sobre privacidade. O documentário, O Dilema das Redes, assustou muitas pessoas sobre onde e como seus dados estão sendo utilizados. O advogado e especialista em Direito Digital, Luiz Gustavo Bueno, dá dicas de como usufruir das redes sociais e ainda assim ter cuidado.
A nova Lei Geral de Produção de Dados permite que você escolha quais dados você quer que sejam usados nas redes sociais e para que. Assim, você tem oportunidade de ter um serviço mais personalizado, mas com segurança.
Luiz Gustavo Bueno, Advogado e Especialista em Direito Digital
Além disso, ele ressalta a importância de prestar atenção em possíveis golpes que podem clonar redes sociais, como Whatsapp e ainda roubam os dados. Também é de extrema importância estar atento ao uso de Wi-Fi público, por ser arriscado, evite usar essas redes para assuntos de maior importância.
4. Rede social não é vida real
Junto com os demais fatores, ter como única referência de vida e felicidade perfis em redes sociais pode ser perigoso para a saúde de uma pessoa. É muito importante lembrar que da mesma forma que em nosso perfis não mostramos as falhas, os erros e o que não gostamos, as pessoas que seguimos também não.
Participe da conversa.