À geração do século 21 – marcado pelo estresse, ansiedade e que tem a depressão como seu grande mal-, a Síndrome de burnout chegou como o elemento que (não) faltava para completar o diagnóstico. Reconhecida como doença pela OMS (Organização Mundial de Saúde) desde 2019, a Síndrome de burnout traz várias consequências na saúde física, mental e emocional do paciente.
A Síndrome de burnout é uma doença de esgotamento em relação a atividades que as pessoas realizam de forma frequente, como seus trabalhos. É comum aos pacientes que sofrem com esta síndrome possuírem sua autoestima e bem-estar diretamente relacionados ao seu trabalho. Mas os sintomas da síndrome prejudicam diversas áreas da vida de uma pessoa, não apenas a profissional.
Segundo o médico psiquiatra Antonio Abud Torquato, há diversos graus da doença que podemos resumir em três níveis gerais. O primeiro é o hiperfoco no trabalho, caracterizado pela abdicação de atividades prazerosas e de lazer para o indivíduo. O segundo nível tem como maiores sintomas a irritabilidade, agressividade e ansiedade. Já em um terceiro nível, o paciente pode sentir grande exaustão e apatia pelas funções que realiza, com um grande pessimismo e baixa autoestima.
Além de todas essas características e sintomas, a doença afeta gravemente a vida social da pessoa, que tem mudanças bruscas de humor e passa a não priorizar mais as suas relações sociais. O Pastor da Igreja Presbiteriana de Pirituba, Daniel Justiniano, foi diagnosticado com o esgotamento profissional em 2017 e diz que sentiu praticamente todos os sintomas.
Não ter energia, estar sempre cansado, ter sintomas físicos como dor de cabeça e muscular, alergias. Também perdia a motivação, você não faz mais aquilo que fazia com prazer. Chegar até o púlpito para pregar era muito difícil, sentia falta de ar e achava que ia desmaiar.
Pastor Daniel Justiniano, da Igreja Presbiteriana de Pirituba
O trabalho em estilo home office que muitas empresas implantaram aos seus contratados durante a pandemia preveniu que muitos se infectassem com o Coronavírus, mas trouxe consequências para a saúde mental dessas pessoas. A falta da distração no caminho para o trabalho, o acúmulo das tarefas, maior quantidade de cobranças e as videochamadas fazem parte do ‘novo normal’ para quem passou a trabalhar dentro de casa. Mas todo este contexto contribui para que o número de pessoas diagnosticadas com Burnout apenas aumente neste cenário da pandemia. Além disso, os profissionais de saúde também devem estar atentos. O excesso de trabalho, cobrança e exaustão em plantões de combate à Covid-19 contribuem muito para os sintomas da Síndrome.
A pesquisa International Stress Management Association (Isma) aponta que um em cada três trabalhadores no Brasil sofre com o esgotamento profissional. Apesar da maioria dos casos serem encontrados em pessoas muito relacionadas a suas profissões, o esgotamento também pode chegar em pessoas que cuidam da casa e filhos, por exemplo. Mesmo que seja normal enfrentarmos situações de dificuldade e estresse no trabalho e na vida, o nível desses fatores em uma pessoa com Síndrome de Burnout é anormal e deve ser assistido por um psicólogo.
Como prevenir e tratar a Síndrome de Burnout
O esgotamento pode afetar qualquer pessoa que tenha fatores extressores em excesso e falta de fatores protetores. O psiquiatra Antonio Abud Torquato dá algumas dicas práticas de cuidados e limites no ambiente profissional, mas também na vida pessoal para prevenir um diagnóstico da síndrome:
- Reconhecimento do ambiente de trabalho: Encontramos desânimo quando fazemos atividades que não são apreciadas
- Evitar a falta de cooperação entre colegas de trabalho
- Evitar a competitividade e perfeccionismo
- Encontrar seu propósito em seu trabalho: Você pode ler sobre isso aqui
- Descanso Ativo: Quando gastamos muita energia em atividades que nos cansam, a melhor forma de recuperá-la é com um descanso que estimule a mente e o físico, como prática de esportes ou mesmo jogos lúdicos e de lazer.
- Privilegiar um sono de qualidade: Estar bem descansado é como um antídoto para o esgotamento.
- Escolher uma boa alimentação: Nossa alimentação está altamente ligada com nossa mente e saúde. Acesse aqui se quiser aprender sobre uma alimentação melhor.
- Manter boas conexões sociais: A Síndrome do Burnout afeta gravemente as relações pessoas de uma pessoa. Então investir em tempos de qualidade e lazer com amigos e família é muito importante.
Em caso da confirmação do diagnóstico devem ser tomadas decisões a partir de uma consulta com um profissional. O tratamento do Pastor Daniel Justiniano envolveu terapia, psiquiatra e medicamentos. Após chegar muito perto de um colapso total por causa do estresse, o pastor, que trabalhava cerca de 18 horas por dia para cuidar das demandas de sua igreja, da associação beneficente de sua igreja e das demandas familiares, reconhece que o tratamento para a Síndrome é fundamental e envolve o ser humano como um todo: no processo de cura tem importância o lazer, a espiritualidade, o tempo com a família, o cuidado com a saúde e a prática de esportes. Além disso, o pastor também contou com o tratamento de um centro terapêutico para líderes religiosos que estão em estado de esgotamento.
Depois que você tem o esgotamento, você nunca mais é a mesma pessoa. Quando você atinge esse nível de desgaste é como se o Burnout não fosse embora. É como um parafuso que não podia espanar e depois é difícil dar a ele aquela forma de novo. Agora busco reconhecer os limites e não ultrapassá-los.
Pastor Daniel Justiniano, da Igreja Presbiteriana de Pirituba
Deus descansou
“E, havendo Deus terminado no sétimo dia a sua obra, que tinha feito, descansou nesse dia”
Os motivos que levam um ser humano até o esgotamento e exaustão podem ser muitos. Hoje, o pastor Daniel identifica que teve duas principais motivações, agradar a Deus e às pessoas. “Deus mandou cuidar e aconselhar, mas as demandas das pessoas não têm fim. Você quer fazer o certo, mas fui acabando com a minha vida e achando que estava agradando a Deus. Você também quer dar o que as pessoas precisam. É uma pressão, você não quer que digam que você não deu conta do seu trabalho. Então eu dizia sempre ‘sim’ para as pessoas e muitos ‘nãos’ para mim e minha própria família”, diz ele.
Para a psicóloga Ana Cláudia Sanches, o trabalho é importante no lugar correto em nossas vidas: “hoje temos visto muitas pessoas adoecerem por doenças relacionadas ao trabalho. Pessoas que passaram a vida toda se dedicando integralmente ao trabalho, esquecendo outras áreas de sua vida, como a própria saúde, família, lazer e relacionamento com Deus. Precisamos colocar o trabalho no local correto em nossas vidas, sabemos que temos contas, sonhos financeiros, mas precisamos buscar um equilíbrio. Coloque limites, reflita sobre suas escolhas e utilização do seu tempo”.
E, havendo Deus terminado no sétimo dia a sua obra, que tinha feito, descansou nesse dia de toda a obra que tinha feito. E Deus abençoou o sétimo dia e o santificou; porque nele descansou de toda obra que, como Criador, tinha feito.
Gênesis 2:2-3
Mesmo que o trabalho seja da vontade do Senhor, a vida também é. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”, disse Jesus Evangelho de João 10:10. Jesus Cristo, o próprio Filho de Deus muitas vezes se retirou para descansar, seja dormindo ou orando:
“E tendo-os despedido, ele subiu ao monte para orar” Marcos 6:46
“E Jesus estava na popa, dormindo sobre o travesseiro” Marcos 4:38
Não podemos esquecer que o próprio Deus descansou depois de ter feito toda Sua Criação. Então, O Senhor também nos convida a descansar:
“Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso.
Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas.
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
Evangelho de Mateus 11:28-30
